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A grande imprensa brasileira tem lado e classe social

Para Francisco Fonseca, professor da FGV-SP, não há dúvidas de que a mídia brasileira, sobretudo a televisão, atua como formadora de opiniões. No entanto, segundo ele, há um choque entre a informação e a experiência concreta do cidadão. Isso fica evidente também nas campanhas eleitorais como a de José Serra, “que sempre nos mostra hospitais equipados, as AMAs, as UBSs, e no fundo quem vive na periferia sabe que não é assim”. “A grande imprensa brasileira tem lado e classe social”, defende Fonseca.

Isabel Harari e Mailliw Serafim

São Paulo – Informação é poder. Pode ser um elemento de manipulação ou de democratização de acordo com a forma como é veiculada. No processo eleitoral, a informação torna-se um instrumento valioso que, de acordo com o cientista político Francisco Fonseca, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), pode mudar o destino da sociedade.

À Carta Maior, Fonseca salienta a importância da democratização da informação no jogo político atual e a necessidade da regulamentação da comunicação, que, segundo ele, deve partir do próprio Estado, como forma de garantir a prioridade dos interesses coletivos em relação aos individuais. “No mundo da informação no Brasil há um verdadeiro laissez-faire, em que o Estado brasileiro intervém pouco, é extremamente frouxo na sua regulação. O jogo da informação pública é um jogo privado, pouco fiscalizado, pouco regrado”, diz.

Carta Maior – Como você enxerga a dinâmica entre a informação e o poder no processo eleitoral?

Francisco Fonseca – Na verdade há um conjunto de fatores para fazer essa avaliação. Um ponto importante é que informação é poder e as pesquisas de opinião não são diferentes: expressam um tipo de informação que pode fazer que as pessoas mudem ou consolidem o seu voto. Os países que nós chamamos de democráticos são muito mais zelosos, digamos assim, por colocarem regras em tudo que envolve a informação. O tema informação, mídia, publicidade e propaganda, pesquisa, tem uma liberalidade incrível no Brasil.

CM – Se a informação é poder, como driblar as promessas e realizações expostas pelos candidatos, muitas vezes irreais?

FF – O que mais afeta o cidadão na sua decisão do voto é a sua própria experiência. Há um choque, se assim posso chamar, entre informação e experiência. A campanha do Serra, que é uma campanha de continuidade do governo, sempre nos mostra hospitais equipados, as AMAs [Assistência Médica Ambulatorial], as UBSs [Unidades Básicas de Saúde], e no fundo quem vive na periferia sabe que não é assim. Existe aí o choque entre informação e experiência. O brasileiro se informa majoritariamente pela televisão, que no Brasil é muito boa tecnicamente e muito ruim em termos de conteúdo – é desprovida de conteúdo. Então é claro que ela forma. Como diz Manuel Castells [sociólogo espanhol, autor de “Sociedade em rede”], a mídia enquadra a política. Aonde eu quero chegar: se a experiência de vida conta, também conta a mídia como agente de manipulação e enquadramento da política.

CM – Pode haver manipulação pelos meios de comunicação na forma da divulgação dos resultados das pesquisas? No site do Ibope, por exemplo, está escrito que sua maior função é “fornecer conhecimento estratégico”. A Globo encomendou uma pesquisa para o Ibope na semana passada, mas o resultado, com o Haddad bem na frente, foi divulgado no SPTV, e não no Jornal Nacional. Se o Serra estivesse na frente, a Globo veicularia o resultado no JN?

FF – A veiculação tem uma importância crucial. Ao meu ver uma lei eleitoral deveria regular não só pesquisas, mas também sua veiculação. O que é básico para ser informado? O voto espontâneo, a rejeição e o grau de tendência das regiões mais populosas. O resto poder dar também, mas isso tem de ser divulgado. O jogo da informação pública é um jogo privado, pouco fiscalizado, pouco regrado. Já foi pior, mas ainda temos de caminhar muito.

Evidentemente, os liberais, os conservadores vão dizer: “é censura, é intervenção. Nem pesquisa mais eu posso fazer!”. Só que não é uma pesquisa sobre se você gosta mais de chocolate ou bolacha, é uma pesquisa que envolve os destinos públicos e coletivos. Tudo que envolve o destino de uma comunidade tem de ser regulado pelo Estado. O direito coletivo, em última instância, se sobrepõe ao direito individual, essa é a marca da democracia. E as pesquisas, tal como são feitas hoje, significam o contrário: o direito individual se sobrepõe ao coletivo.

CM – O Serra disse que poucas vezes as pesquisas foram tão erradas, mas que isso não é por conta de má fé, e sim por dificuldades metodológicas. A consequência disso, segundo ele, é o condicionamento das pessoas, o que traria um prejuízo enorme.

FF – Nós não sabemos o que é erro técnico, má fé ou interesse político. A fala do Serra tem de ser circunscrita, porque ele estava na frente, então é um momento de oportunidade, circunstância. Nessa época, os candidatos, em particular o Serra, que é um candidato que joga as últimas fichas de sua carreira política, quer tirar proveito da pesquisa. É uma fala conjuntural, oportunista. Mas, tirando a questão da conjuntura, é possível dizer que as pesquisas erram.

CM – Existe um choque, no uso das informações, entre os interesses dos institutos de pesquisa privados e os da sociedade?

FF – Todo mundo tem o direito de montar um instituto de pesquisas. Esse é o direito individual, mas e o direito coletivo? Se o instituto faz uma pesquisa na quinta ou na sexta [últimos dias antes da eleição], período em que o grau de confiabilidade é pequeno, então é uma irresponsabilidade o Estado permitir que o direito individual se sobreponha ao coletivo. Nós como comunidade não podemos estar sujeitos a uma informação potencialmente falsa, pois há um incrível transe de mudança de voto do sábado para o domingo e que a pesquisa não vai captar.

CM – Você acha que os institutos de pesquisa têm um viés ideológico?

FF – Em particular o Datafolha, um instituto ligado a um jornal que claramente tem lado. A grande imprensa brasileira tem lado e classe social. Para o meu livro [“O consenso forjado”] eu entrevistei o Otávio Frias Filho. Perguntei a ele o que era opinião pública, o que a Folha de S. Paulo entendia como opinião pública. Ele respondeu que era a classe média: “nós somos um jornal de classe média para a classe média”. E a classe média vota no Serra. Me parece que essa politização da imprensa está respingando nos institutos. Me chama mais a atenção os erros do Datafolha do que os do Ibope. Não estou dizendo que este seja imune, mas o Datafolha tem essa relação com o jornal que claramente tem classe e uma visão de mundo muito específica.

Esses erros podem ser trágicos para o destino do país. No mundo da informação no Brasil há um verdadeiro laissez-faire, em que o Estado brasileiro intervém pouco, é extremamente frouxo na sua regulação, e as pesquisas – embora tenha uma lei, o que já é um avanço – possuem muitas falhas, muitos buracos que precisam ser preenchidos.

Notícia colhida no sítio http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21147

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Lula na Argentina: só seis famílias controlam a imprensa no Brasil

Em visita a Argentina na semana passada, o ex-presidente falou, entre outras coisas, sobre a concentração dos meios de comunicação no Brasil nas mãos de apenas seis famílias e defendeu a necessidade de se ter dirigentes políticos, sindicais e sociais que não tenham medo da imprensa, “que falem com o povo pensando em suas ideias e em seus interesses e não em como vão ser as manchetes dos jornais no dia seguinte”.

Martín Granovsky – Página12

Buenos Aires – Pernambucano, torneiro, dirigente sindical metalúrgico, torcedor do Corinthians, perto de fazer 67 anos no dia 27 de outubro, presidente de Brasil duas vezes durante oito anos a partir de 1° de janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva parece condenado se esquivar sempre de uma armadilha: fora de seu país, os políticos dizem ser sua encarnação. Acaba de acontecer, por exemplo, na Venezuela, onde Henrique Capriles afirmou que Lula era seu modelo. Pensava que assim ganharia de Hugo Chávez. Frente a isso, a Lula se apresentam dois caminhos, que não se opõem entre si. O primeiro é aproveitar o consenso, tanto o verdadeiro como o aparente, a favor dos interesses do Partido dos Trabalhadores e do Estado brasileiro, que governa uma coalizão multipartidária encabeçada pelo PT. O segundo é dizer por si próprio o que pensa, sem demagogia nem mentiras.

O ex-presidente acaba de visitar a Argentina durante dois dias e deu uma aula de lulismo explícito.

Não escapou de nenhum interlocutor, mas impôs hierarquias em suas relações.

Junto com o embaixador brasileiro Enio Cordeiro, foi recebido no aeroporto de Ezeiza por um funcionário da Presidência com status de secretário de Estado, Rafael Follonier. Ex-assessor de Néstor Kirchner na Unasul, Follonier mantém contato assíduo com Luiz Dulci, ex-secretário geral da Presidência e seu atual braço direito no instituto com sede em São Paulo que antes se chamava Instituto da Cidadania e agora, sem rodeios, Instituto Lula.

A lembrança de Kirchner esteve presente em seus contatos argentinos. Tanto em Olivos como com os dirigentes cristinistas, disse que “Néstor refundou a Argentina, e a Argentina fez e continua fazendo uma contribuição extraordinária, junto com o Brasil, para a América Latina desde que reestruturou a dívida e procura a reindustrialização”.

A primeira reunião política lhe permitiu encontrar-se com “Unidos e Organizados”, a força cristinista que integram, entre outros, a Frente Transversal de Edgardo Depetri, a La Cámpora de Andrés Larroque, o Movimento Evita de Emilio Pérsico e o Novo Encontro de Martín Sabbatella.

O segundo compromisso foi um almoço em Olivos com a Presidenta. Incluiu, antes, um cara a cara de 20 minutos com Cristina. Sem testemunhas.

O terceiro compromisso político foi com os dirigentes da Frente Ampla Progressista, de Víctor de Gennaro, Claudio Lozano e Hermes Binner. Lula é amigo de De Gennaro e trata com os dirigentes da Central de Trabalhadores Argentinos há 30 anos. Com o socialismo, o PT tem relação orgânica de partido a partido e o próprio Binner foi um dos convidados argentinos a presenciar as eleições de 2002 no comitê eleitoral paulista do Ibirapuera.

Não houve mais reuniões especiais de Lula. Com o resto, fotos. Todos tiveram direito de ficar com um aperto de mãos e uma foto com ele. O secretário de uma das CGT, Hugo Moyano tem uma e o ex-embaixador no Brasil e presidenciável José Manuel da Sota, também. Assim como o ex-candidato a governador bonaerense Francisco de Narváez e o presidente da Fiat Argentina e dos fabricantes de automóveis Cristiano Rattazzi. E todos o escutaram no Instituto para o Desenvolvimento de Executivos na Argentina, IDEA, que pagou ao Instituto Lula pela conferência do ex-presidente em Mar del Plata.

Foi assim que Lula impôs seu estilo. Sua mensagem implícita indica que, em termos sociais, é bom falar com todos. Com os dirigentes sindicais e com os empresários, ainda que “nenhum empresário brasileiro deveria se comportar na Argentina como imperialista”. Para Lula, em termos políticos também pode ser válido o contato. Mas quando se trata de fixar prioridades em uma agenda apertada, como foi o caso desta, o ajuste é mais fino. Primeiro encontros com o Governo e sua força política mais próxima. Segundo, com a principal força de oposição nas últimas eleições que, além disso, não exerça o questionamento ao Governo de uma ótica conservadora. “É bom que não queiram construir uma oposição unificada junto com a direita”, teria dito segundo contou um deles ao Página/12.

Uma interpretação simplista das fotos indiscriminadas poderia induzir a erros sobre o comportamento de Lula. É um político, e um político popular dentro e fora do Brasil, mas, sobretudo é um dirigente ocupado em que seu país não mude de rumo e possa incidir solidamente na América do Sul e no mundo. Atualmente é presidente honorário do PT, nem bem se curou de seu câncer, aproveitou a energia disponível, começando pela energia de suas cordas vocais, para intervir nas eleições municipais de sete de outubro. Assim como em fevereiro de 2010 impulsionou a candidatura à presidenta de uma ex-subordinada sua, a ministra de Energia e depois chefa da Casa Civil Dilma Rousseff, naquele momento abaixo da intenção de voto do opositor José Serra, acaba de fazer o mesmo com o ex-ministro de Educação, Fernando Haddad, que passou do terceiro lugar em São Paulo a consagrar-se como um dos dois adversários para o segundo turno, no próximo domingo 28. O outro é, de novo, Serra, um afiliado do ex-presidente neoliberal Fernando Henrique Cardoso. Lula foi capaz de agradecer o chamado de FHC quando o atacou o câncer e por sua vez prometer, diante de seus amigos, que um dos objetivos pelo resto de sua vida é que os tucanos, como são chamados os partidários de FHC, não voltem ao poder no Brasil.

Lula está feliz ultimamente. Em capitais importantes como Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro o PT não ganhou, mas sim partidos aliados. Em São Paulo, a última pesquisa dá em primeiro Haddad por 17 pontos. E tudo isso apesar de o STF ter escolhido justamente a campanha eleitoral para julgar o processo do “mensalão”, um grupo de delitos segundo os grandes meios de comunicação, erros, mas não delitos, segundo disse Lula nas reuniões destes dias, contra seu ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e um grupo de ex-dirigentes e parlamentares acusados por suposta compra de votos parlamentares em 2005.

A chave da acusação foi tipificar o grupo como uma quadrilha e botar Dirceu como seu chefe. “Se Dirceu vai preso, será uma vingança, porque nesse momento no PT estávamos discutindo a regulamentação dos meios audiovisuais, que no Brasil estão concentrados em mãos de apenas seis famílias”, disse Lula em Buenos Aires. Aos dirigentes de Unidos e Organizados disse: “Precisamos de dirigentes políticos, sindicais e sociais, que não tenham medo da imprensa. Que falem com o povo pensando em suas ideias e em seus interesses e não em como vão ser as manchetes dos jornais no dia seguinte”. Ao mesmo tempo colocou as coisas em seu devido lugar: disse que as eleições na região demonstraram que “os meios de comunicação não decidem o voto popular, porque os povos votam de acordo com a sua própria experiência”.

E a re-reeleição? Lula festejou a vitória de Chávez. Nas reuniões de Buenos Aires e Mar del Plata disse que era parte do atual processo sul-americano. Significa que a estimula no resto do continente? Tanto em seus contatos públicos como privados Lula falou de seu apreço pela alternância e até recomendou aos venezuelanos construir uma alternativa dentro da força governante, algo que deve ser entendido se for levado em conta não só a política, mas o câncer aparentemente avançado de Chávez. No Brasil não é preciso interpretar nada. Está na história. Lula considerou em 2009 que tentar uma reforma constitucional para habilitar-se a si mesmo a uma “re-re” lhe parecia um caminho institucionalmente arriscado.

Que aconteceria se a base aliada tivesse um bom resultado nas eleições legislativas de 2013? Discute recém nesse momento o tema (como anunciou esta semana o deputado Carlos Kunkel), eventualmente consegue os dois terços de ambas as câmaras para declarar a necessidade de uma reforma constitucional e, entre outras coisas, consegue introduzir a re-re? Um pouco de lulalogia futurista: Lula teria, obviamente, uma conclusão própria, mas aguardaria enquanto espera o resultado da reforma e as eleições, se preocupa para que o tema não gere instabilidade na Argentina, e, portanto, na América do Sul, e depois tomaria uma decisão com as cartas sobre a mesa.

Não resta dúvida de onde iria esse voto virtual em um hipotético duelo entre o cristinismo e, digamos, Mauricio Macri. Uma situação que só se daria, claro, se Macri deixasse de ser algum dia, como parece ser hoje, um Carlos Reutemann que ameaça candidatar-se a nível nacional e no último momento nem constrói nem faz.

Em Mar del Plata Lula falou que o Brasil vigia o déficit e evita uma inflação alta, mas o faz no marco de uma política que considera o gasto social, o investimento público e um processo de maior igualdade como uma condição econômica do crescimento e não como uma mera aspiração moral, e menos ainda como um subproduto do derrame sobre os mais pobres do restante de bem-estar que possa sobrar depois que os mais ricos cheguem a estar saciados.

O lulismo explícito deixou também algumas situações divertidas. Lula perguntou muito sobre a situação do movimento sindical, com duas CGT e duas CTA. Dirigentes de Unidos e Organizados afirmaram ao Página/12 que Lula comentou, em alusão a De Gennaro: “Víctor está equivocado e vou dizer a ele quando o vir”. Consultados, dirigentes da FAP disseram que Lula não fez nenhuma crítica a De Gennaro no café da manhã que compartilharam em Mar del Plata. “O que sim nos disse é que tinha ficado surpreso com um ponto da reunião com Unidos e Organizados”, relatou um dirigente. “Disse que os via sem espírito de debate crítico inclusive dentro do projeto oficial, e que entre setores progressistas era mais comum a discussão, como acontece no PT com as correntes internas.”

Atentos ao que acontece no Brasil, aliado e sócio da Argentina e destino das exportações argentinas nos dois primeiros lugares junto com a China, os interlocutores argentinos de Lula ficaram contentes com o prognóstico de que, no ano que vem, o gigante ao lado crescerá no mínimo 4%. Também escutaram um conceito que Lula repetiu em público e em privado: a prioridade, sobretudo em meio de uma crise mundial que continua, é manter o emprego e ao mesmo tempo avançar na integração sulamericana.

Tradução: Libório Junior

Notícia colhida no sítio http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21127

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