fetec@fetecpr.com.br | (41) 3322-9885 | (41) 3324-5636

Por 16:20 Sem categoria

A voz das ruas: pelos direitos e contra a mercantilização

As demandas dos movimentos que povoaram o Brasil por várias semanas se dirigiam diretamente a favor dos direitos de todos e contra a mercantilização que invadiu tantas esferas da nossa sociedade.

O passe livre é a conquista do direito ao transporte como direito público, contra sua transformação em meio de enriquecimento indiscriminado de empresas privadas do setor. A mercantilização representa a transformação numa necessidade básica das pessoas em fonte de lucro para empresas privadas, à custa dos direitos de todos aqueles que dependem do transporte público.

Um transporte que foi privatizado – ou melhor, mercantilizado –, produzindo maiores dificuldades de locomoção para o povo e mais sofrimentos diários. E, como seu serviço é deficitário, ele é subsidiado com recursos públicos, sem quaisquer contrapartidas no péssimo serviço oferecido à população.

Nas principais cidades do centro do capitalismo, o transporte é público porque, tendo que ser subsidiado pelos governos, não tem sentido que esteja em mãos de empresas privadas. A tarifa cobrada serve apenas para a manutenção da frota e pagamento dos salários. Os empresários pagam um imposto que subsidia a expansão do serviço, porque a grande maioria das pessoas se desloca para trabalhar.

A reivindicação que desatou as enormes mobilizações – a do passe livre – vai na direção da afirmação dos direitos contra a mercantilização. O neoliberalismo buscou e segue buscando transformor tudo em mercadoria – educação, saúde, água, transporte, moradia, cultura, etc., etc. – com o princípio das sociedades mercantis, em que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se troca. A gratuidade em um serviço público essencial como o transporte representa um avanço importante na esfera dos direitos contra a esfera da mercantilização.

O mesmo acontece com a educação pública, com a saúde pública, com tudo o que significa expansão dos direitos, do peso do cidadão (sujeito de direitos) contra a esfera do mercado, em que a centralidade é dada pelo consumidor.

Na mesma lógica se insere o financiamento público das campanhas, na medida em que coíbe o papel do dinheiro na escolha dos governantes e parlamentares. Da mesma forma que a democratização dos meios de comunicação amplia o marco de expressão na mídia, mais além do peso do dinheiro, que determina o papel que tem um pequeno grupo de empresas oligárquicas.

O neoliberalismo exclui direitos, impondo a centralidade do mercado, que se funda no poder do dinheiro. O pós-neoliberalismo busca construir a centralidade dos direitos e da cidadania.

Postado por Emir Sader

Notícia colhida no sítio http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=1284

==========================

Ideia de ‘governar para todos’ está esgotada

Os novos tempos exigem uma economia política que tenha lado. O lado da classe trabalhadora
por João Sicsú — publicado 15/07/2013 12:01, última modificação 16/07/2013 06:46

A sociedade brasileira entrou nos anos 2000 adormecida pelo neoliberalismo do salve-se quem puder e anestesiada pelas precárias condições econômicas. Grande parte da população tentava apenas sobreviver depois do desastre das administrações neoliberais (1990-2002) de Collor, Itamar e FHC. Faltavam empregos, renda, investimento, produção, crédito e consumo.

Os governos Lula e Dilma conseguiram reduzir a taxa de desemprego, elevar o salário mínimo, distribuir renda, ampliar o crédito e criaram um enorme mercado de consumo de massas. Um mercado onde mais de 120 milhões de brasileiros podem consumir de forma regular.

Muito foi feito nos últimos dez anos em quase todas as áreas, mas a única política que foi capaz de atingir seus objetivos de forma plena foi a política macroeconômica. A inflação foi mantida sob controle, as contas públicas estão organizadas e seus resultados sociais são extraordinários. O desalentado se motivou e encontrou emprego. O desempregado ganhou uma carteira de trabalho assinada. O trabalhador virou consumidor. O crédito chegou às mãos do consumidor e das empresas.

O trabalhador brasileiro típico é aquele que ganha até três salários mínimos. Casado com uma trabalhadora, ganham juntos entre  1,5 mil e 3 mil por mês. Moram nas grandes regiões metropolitanas em bairros e localidades pobres e degradadas. Nas idas e vindas do trabalho, nos passeios de domingo, descobriram que existem regiões seguras, com iluminação, varrição, coleta de lixo, saneamento, transporte fácil, habitadas por gente com saúde e estudo. Existem, portanto, pessoas que vivem plenamente a cidade onde moram.

As famílias de trabalhadores passaram, então, a desejar viver. Pensaram que podem ser mais que rudes trabalhadores que têm direito ao consumo. Desejam alcançar o patamar de famílias com pleno direito à cidade. Afinal, já estavam sobrevivendo com segurança tendo emprego, salário e consumo.

Esta é a mudança de pauta, o desejo de viver, que já estava nítida antes das manifestações de junho. Mas, o governo continuava fazendo a velha economia política do governar “para todos” que objetivava crescimento econômico com distribuição de renda. Tentava fazer mais do mesmo.

A economia política do governar “para todos” é um conjunto de políticas que convergem classes sociais distintas para objetivos comuns: lucros, investimentos, produção, salários e consumo, tudo em ascensão, compuseram o ciclo econômico do período 2004-2010. Gerar empregos, distribuir renda com crescimento e ampliar o crédito e o consumo não ferem interesses.

Na nova situação econômica e social do país, a diferença é que a realização por parte do governo de uma pauta voltada para a satisfação da vida, uma pauta que vai além da sobrevivência, não é mais possível com uma economia política voltada “para todos”.

Para solucionar o problema crítico dos transportes urbanos, interesses das máfias empresariais necessariamente devem ser contrariados (e das montadoras multinacionais de veículos também). Para solucionar o problema da saúde pública, interesses corporativos e econômicos internacionais devem ser enfrentados. Para fazer uma reforma política que impeça o poder econômico de financiar partidos e campanhas, será necessário se opor a grandes empresas, bancos e seus representantes no parlamento. Para promover um financiamento justo dos serviços públicos, será necessária uma reforma tributária que enfrente os interesses dos detentores de grandes riquezas, fortunas, heranças e rendas.

Deram excelentes resultados a economia política do governar “para todos” do decênio 2003-2012. Mas os tempos mudaram – ou evoluíram. Os novos tempos exigem uma economia política que tenha lado. Uma economia política que esteja voltada para a nova pauta da classe trabalhadora será uma economia política que provocará enfrentamento de ideias, mudanças de alianças na sociedade e recomposição da base de apoio ao governo no Congresso, que necessariamente se estreitará.

Esse é o xadrez político atual. Há duas opções para o governo: tentar manter a economia política do governar “para todos” ou enfrentar o foco da questão social dirigindo as baterias políticas contra ideias, instituições, empresas e partidos que estão no campo adversário.

No momento, o governo está entre as duas opções: quer atender a nova pauta, mas quer reduzir o enfretamento se utilizando de desonerações tributárias e fazendo concessões políticas (por exemplo, os médicos cubanos foram esquecidos).

A conjuntura é histórica: é hora de escolher com quem governar e para quem governar. Não é possível mais governar “para todos”, ainda mais na era dos pibinhos. Também não será possível permanecer entre duas opções irreconciliáveis. Tal caminho será considerado muito limitado por uma classe trabalhadora que está exigente. É hora de o governo fazer escolhas. Os trabalhadores já fizeram as suas.

Artigo colhido no sítio http://www.cartacapital.com.br/economia/ideia-de-governar-para-todos-esta-esgotada-8125.html

Close