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Ao contrário dos partidos, movimentos sociais amadureceram

Afirmação é do ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República

Brasília – Responsável por estabelecer a proximidade do governo de Dilma Rousseff com os movimentos sociais, o ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, disse que os movimentos sociais acabam compreendendo mais as demandas do país do que os próprios partidos políticos. Para o ministro, os movimentos amadureceram no Brasil nas últimas décadas e, ao contrário dos partidos políticos, investiram da formação de seus quadros. Carvalho defendeu a necessidade de uma reforma eleitoral no Brasil e apontou o voto em lista e o financiamento público de campanha como forma de mudar a atual realidade, que na sua avaliação induz à corrupção.

Confira mais um trecho da entrevista de Gilberto Carvalho à Agência Brasil.

Agência Brasil – O governo tem limitações para atender às demandas do movimento social por questões orçamentárias. Como administrar esse conflito?

Gilberto Carvalho – Essa tensão é inevitável. Eu brinco com eles dizendo que nós estamos sentados agora nesse lado da mesa, antes, estávamos no outro lado com eles, o que faz com que todos nós, oriundos do movimento social, esperemos de novo estar sentados do outro lado. Nosso destino é voltar para os movimentos sociais. Nosso papel aqui é tentar forçar a barra ao máximo dentro das limitações orçamentárias e institucionais para atender a essas demandas. Quando se faz o Orçamento, é preciso levar em conta esses aspectos. Aí é que está o jogo de governar, que é passar em grande parte pela sua filosofia, e por aquilo que se estabelece como prioridade.

ABr – E qual é a prioridade do governo?

Carvalho – Quando a presidenta escolhe como prioridade a superação da miséria, ela está dando um indicativo de que parte importante do Orçamento irá para esse destino. Isso, do ponto de vista ético, para nós todos que temos uma história política, é muito confortável. É também muito estimulante participar de um governo que estabelece essa prioridade. Há que se pensar em reproduzir, em espelhar no Orçamento essa opção. É claro que o Orçamento não é infinito e há gastos correntes que não se pode deixar de pagar. Mas tem que se reservar de fato um quinhão importante para isso. Isso não significa que vamos atender a todas as demandas, mas significa que muitas das demandas podem ser atendidas e, com isso, estabelecer pelo menos um compromisso, uma percepção da parte do movimento de que o governo tem a famosa vontade política de contribuir.

ABr – O senhor já observou essa compreensão?

Carvalho – O movimento amadureceu muito. Eu fiquei emocionado esses dias quando o pessoal da Fetraf [Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar] veio trazer uma pauta para a gente, o discurso da Elisângela [Elisângela Araújo, presidenta da Fetraf], companheira que hoje representa a Fetraf, que é um dos movimentos do campo de maior expressão. É um discurso que deixa emocionado de ver a maturidade. Eles não vieram reivindicar apenas terra, conforto nos assentamentos. São pautas muito mais amplas que dizem respeito, por exemplo, ao direito da mulher, à questão da criança, dizem respeito fortemente à questão ambiental. Enfim, a cidadania foi apropriada em grande parte, de forma muito intensa pelo movimento social. Isso é o resultado desse novo processo que a gente vive no Brasil, de amadurecimento dos movimentos. Acho isso muito bom. Isso facilita o diálogo. Eles passam a compreender também melhor.

ABr – Em que outros momentos o senhor conseguiu enxergar esse amadurecimento?

Carvalho – A conversa que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) teve com a presidenta foi extraordinária. Eles vieram discutir como podem ajudar no programa de alfabetização e no programa de reflorestamento do país, coisa que há 20 anos a gente, que é de movimento [social], sabe que não era assim.

ABr– O senhor diria que os movimentos se tornaram, por excelência, fóruns importantes de discussão dos mais variados assuntos ligados à cidadania?

Carvalho – Os movimentos fizeram uma coisa que os partidos não fazem. Eles qualificaram e seguem qualificando seus quadros. O MST tem uma escola que já funciona há muito tempo. Eles tomaram esse cuidado. A própria militância é um grande ensino. O velho método do bom Paulo Freire diz que se reflete a prática. Cada luta que se trava, se amadurece na cabeça. Os movimentos se tornaram verdadeiras escolas de cidadania. Ao se falar hoje em consciência ambiental, por exemplo, podemos considerar que, se Juscelino fosse construir Brasília hoje, não construiria, porque o pessoal não iria deixar passar máquina nesse Cerrado. É um amadurecimento benéfico do conjunto da sociedade.

ABr – O senhor comparou os movimentos sociais com os partidos. Fale um pouco mais sobre isso.

Carvalho – O que eu acho em relação aos partidos é que eles não cuidaram da formação de seus quadros da mesma forma que os movimentos fizeram. Isso é grave, mais do que grave, é gravíssimo. Nós temos uma estrutura política e eleitoral que é quase uma indução à perda de teor ideológico e político. Ela é uma indução, eu diria, até à corrupção, se nós falarmos da eleição. Qualquer cidadão hoje para ser candidato precisa de recursos para ser eleito. Onde é que ele busca esses recursos? Eu fui candidato em 1986 e ganhava três salários mínimos. Naquele tempo, a gente mantinha esquema de que dá para ser candidato com festinha, com lista entre amigos, com bingo, deitava e rolava de se trabalhar nessas coisas e se conseguia. Hoje, não, a campanha ficou cara. Eu fico pensando que às vezes se joga a pessoa nesse meio sem que haja uma preparação.

ABr – Era diferente em outros tempos?

Carvalho – Eu tenho a impressão de que o enfrentamento à ditadura e aos governos neoliberais nos deram teor ideológico e nos fizeram mais resistentes a essas chamadas, entre aspas, tentações. Acho muito perigoso pegar um jovem hoje e colocá-lo em um partido, sem que haja uma preparação, o risco de ser cooptado por essa mentalidade é enorme. Não adianta a gente, hipocritamente, ficar condenando uma pessoa dessa, se a gente não a preparou.

ABr – O senhor acha, então. que os movimentos conseguem compreender melhor as demandas do país que os partidos?

Carvalho – Não quero fazer aqui uma dicotomia simplista. Tem muita gente nos partidos que tem essa visão generosa. Graças a Deus, temos ótimas referências. Mas, em termos de tendência, é exatamente isso. Os militantes dos movimentos são levados a uma visão mais generosa, porque é uma visão mais coletiva nos movimentos. Não se é induzido a uma carreira mais pessoal. A questão do poder não é visualizada de uma maneira tão pessoal. Nesse sentido, sim, dá para dizer que hoje os movimentos são laboratórios de gente de maior generosidade, de maior ação cidadã, no sentido mais amplo, do que nos partidos. Dadas as regras atuais.

ABr – O que é preciso fazer para mudar isso?

Carvalho – Pode ser diferente. Se, por exemplo, na reforma política a gente fizer um processo de eleição por lista e com financiamento público, vai se fazer uma indução ao contrário, uma indução ao coletivo. O sujeito, para ser candidato, terá que ter militância em partidos sérios. Em partidos picaretas, haverá pessoas que vão comprar lugar na lista também, não vamos ser anjos aqui, mas pelo menos, permite aos partidos que são sérios trabalhar internamente de tal maneira que o sujeito, para ter o lugar dele na lista, vai ter que trabalhar na militância, vai ter que ter base. Na regra atual, cada vez mais, se vai induzindo para serem eleitos os que têm mais alcance de mobilização financeira, o que é muito grave.

ABr – O senhor acredita que o financiamento público de campanha seria o antídoto contra práticas como o caixa 2?

Carvalho – É o antídoto. Não vamos ser ingênuos, pois sempre pode se ter abuso, mas pode também se ter uma fiscalização muito mais fácil. Primeiro, a pessoa não vai fazer campanha para ele e sim para a chapa dele. Isso já muda completamente a lógica. Se o teu partido tiver mais votos, você terá mais chances de ser eleito, portanto você vai fazer campanha pelo seu partido e o financiamento será coletivo também e não individualizado. Eu acho isso muito importante para dar um choque na atual mentalidade.

Por Luciana Lima e Ivanir José Bortot – Repórteres da Agência Brasil. Edição: Rivadavia Severo.

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Governo se preocupa em consolidar classe média, diz Gilberto Carvalho

Brasília – Manter este ano um ambiente de crescimento da economia a taxas mais modestas que a dos últimos anos é o desafio do governo na opinião do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República. “A gente sabe que essa chamada nova classe média é um pouco polêmica, porque não tem uma posição ainda consolidada, são novos empregos. Para consolidar essa posição é preciso que esse modelo se mantenha”, disse o ministro.

Embora não seja o responsável por responder pelas contas do país e, nem pela condução da política econômica, é Gilberto Carvalho o responsável por traduzir o pensamento do governo para os movimentos sociais. “Não posso dizer que os movimentos estão totalmente de acordo com essa política ou que acham boa. Seria hipócrita da minha parte”, considerou o ministro em entrevista à Agência Brasil.

Gilberto Carvalho revelou que a “pisada no freio” na economia esteve muito presente nas discussões em relação ao salário mínimo. “É o chamando freio de arrumação”, brincou. “Era importante não fazer agora um aumento maior”.

Confira mais um trecho da entrevista de Gilberto Carvalho à Agência Brasil:

Agência Brasil – Em relação à economia, a preocupação do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a de trazer uma parcela maior da população para ter acesso aos bens de consumo. Como o governo vem pensando o atual momento, com inflação em alta. Muitas pessoas podem perder o que conquistaram nos últimos anos.

Gilberto Carvalho – É o chamando freio de arrumação.

Abr – É importante esse freio agora? Como esse desafio econômico afeta o seu trabalho com os movimentos sociais?

Carvalho – É muito importante. A discussão sobre o salário mínimo versou muito esse tema. Era importante não fazer agora um aumento maior. Primeiro, que era importante por causa do compromisso assumido de ambos os lados. Tanto que já se anuncia para o ano que vem um aumento que vai superar os 12%. Será um belo aumento. Mas é uma responsabilidade fiscal que nós temos que ter. Em 2009 havia tudo para dar errado no Brasil. A decisão do governo em fazer desoneração para a produção e estimular os bancos estatais para jogarem recursos para fazer a roda girar, além da fala do presidente Lula de estímulo ao consumo foi fundamental para que isso não acontecesse. Então, na linguagem popular, metemos bala em 2009, tivemos que manter em 2010 porque ainda era necessário consolidar a posição de superação da crise e era natural que nesse ano tivéssemos que dar uma freada.

ABr – E como estão os movimentos em relação a isso?

Carvalho – Não posso dizer que os movimentos estão totalmente de acordo com essa política ou que acham boa. Seria hipócrita da minha parte. O movimento é muito díspar. Entre os militantes há posições de maior ou menor compreensão, maior ou menor acordo. Numa coisa eles estão de acordo sempre: é preciso segurar a inflação e nós temos um momento de fato delicado, por causa da inflação e do câmbio. Se a inflação prejudica o trabalhador, a sobrevalorização do real prejudica os exportadores. Já os importadores estão rindo a toa. É um momento delicado que está sendo conduzido com muita prudência pela presidenta, junto com o ministro Guido Mantega [ministro da Fazenda], junto com o [Alexandre] Tombine, presidente do Banco Central. Tenho muita confiança na linha que está sendo adotada porque ela é muito prudente, é cuidadosa, para não se dar nem um passo que tire o trem dos trilhos. Total segurança ninguém pode ter, evidentemente. Não somos uma ilha, há uma interdependência hoje. Há um processo inflacionário em todo mundo. Mas eu tenho muita confiança de que vamos conseguir transitar. Com os movimentos, nós estamos sempre chamando os companheiros à responsabilidade.

ABr – Mas o que o senhor diz a eles? A batalha número 1 é controlar a inflação?

Carvalho – Exatamente isso. Número 2 é garantir emprego de qualidade, que garanta distribuição de renda também. E eles têm visto da parte do governo seriedade. Eles estão vendo que não estamos brincando e ninguém quer fazer um processo recessivo, por outro lado.

ABr – No governo Lula houve a ascensão de grande parcela da população para a chamada nova classe média. O desafio do governo hoje é impedir que se perca isso?

Carvalho – A preocupação do governo hoje é exatamente manter um ambiente de continuidade de crescimento com distribuição. Aí a questão do salário é importante. A gente sabe que essa chamada nova classe média é um pouco polêmica, porque não tem uma posição ainda consolidada, são novos empregos. Para consolidar essa posição é preciso que esse modelo se mantenha. Por isso essas medidas prudenciais que estamos tomando para não haver esse desequilíbrio que leve a uma recessão nesse momento, o que levaria de novo ao desemprego. A pessoa que comprou seu carro em 36 vezes, em 42 vezes, terá um problema se isso ocorrer. Daí nosso cuidado. O importante é não ter um crescimento espetacular, e sim um crescimento mediano, para nos próximos anos retomar um crescimento nessa faixa de 4% a 5%, que nos parece bastante adequado depois do salto que nós demos. Aí tem uma ciência complexa, que a gente maneja a cada dia isso. Não sou economista, não estou no Ministério da Fazenda.

Por Luciana Lima e Ivanir Bortot – Repórteres da Agência Brasil. Edição: Fernando Fraga.

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