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Por 23:32 Sem categoria

Atual sistema de trabalho divide trabalhadores em vencedores e perdedores

Crédito: Jailton Garcia/Contraf-CUT
Jailton Garcia/Contraf-CUT Heloani e Ademar Orsi no painel sobre Condições de Trabalho e Remuneração

Rede de Comunicação dos Bancários
Maria Ester Costa e Nilma Padilha

Para Roberto Heloani, especialista em organização do trabalho, professor da Unicamp e da Fundação Getúlio Vargas, a política e a forma das empresas de estabelecerem metas e remuneração variável trazem consigo os principais fatores responsáveis pelo assédio moral, que toma conta do mundo do trabalho atualmente. Heloani falou no painel sobre Condições de Trabalho e Remuneração, no primeiro dia da 16ª Conferência Nacional dos Bancários, que está sendo realizada em Atibaia.

Veja aqui a entrevista de Roberto Heloani e outros palestrantes sobre condições de trabalho

Segundo ele, as formas como as empresas impõem a remuneração variável está causando a destruição do coletivo de trabalho, porque faz com que um grupo torça para que os outros grupos não se saiam bem. “Esse sistema esquadrinha os líderes e os losers, divide os trabalhadores em vencedores e perdedores. O sucesso só é possível mediante o fracasso do semelhante”, denuncia.

Problema não é o indivíduo, mas a organização

Isso também leva a uma visão equivocada de que é o indivíduo e não a organização que produz o assédio moral. Ele faz uma alerta para sindicalistas e líderes dos trabalhadores para que não caiam nesse raciocínio. “Não adianta trocar as pessoas. Muda-se o gerente, por exemplo, e dali a algum tempo o assédio volta a acontecer, porque a responsável é a instituição e não o indivíduo.”

As metas abusivas para a venda produtos leva ao sofrimento do trabalhador que muitas vezes é obrigado a abrir mão de valores ético-políticos, ao ter que, por exemplo, empurrar produtos aos clientes: “Tratam a todos os empregados como sendo pessoas sem caráter, para os que têm caráter isso causa um grande conflito”, destaca.

Heloani destaca também que a ideologia do produtivismo, em que a meta alcançada eleva o patamar da próxima, afeta a saúde mental, causa depressão e outros transtornos psíquicos: “O trabalho passa a ter uma dimensão virtual, o trabalhador não consegue perceber a os benefícios de seu trabalho para a sociedade”.

A corrida por resultados precariza as relações de trabalho

Ainda no painel que tratou das Condições de Trabalho e Remuneração, o professor Ademar Orsi, doutor em Administração de Empresas pela FEA/USP, destacou as mudanças na organização do trabalho desde a década de 1970 e a administração atual das empresas regida pelo sistema financeiro.

“As empresas hoje querem resultados em curto prazo, o que gera uma precarização das relações de trabalho. A lógica do mercado tem efeito sobre a gestão da organização da empresa, que enxuga ao máximo o seu investimento, nos trabalhadores, por exemplo, para remunerar os acionistas, que simplesmente colocaram dinheiro no negócio e querem seu retorno rápido”, explicou o professor.

Ademar Orsi também reforçou, a partir de estudos acadêmicos, os problemas que trabalhadores, em especial os bancários, vivem no dia a dia, como a cobrança dos bancos por metas inalcançáveis, sem participação na definição do processo e organização do trabalho.

“A exigência é cada vez maior por qualificação do trabalhador. Não é a empresa que deve trazer solução, mas o funcionário. Isso também influencia nas negociações do trabalhador com a empresa. O trabalhador já tem que vir preparado para o mercado de trabalho,” ressaltou Ademar Orsi

‘Algema de ouro’

Outro problema levantando pelo professor é como as organizações empresariais vêm usando a disputa dos funcionários como método para alcance de resultados.

“As organizações acabam levando a relação entres trabalhadores para o lado negativo, com uma competição muito forte. O empregado deve entregar resultados ou vai se frustrar. O que acaba gerando assédio moral e riscos para os indivíduos”, afirma o professor.

Para Ademar Orsi, a remuneração variável dos trabalhadores, formada por comissões sobre vendas, prêmios por produção e outras formas similares, poderiam ser usadas pelas empresas de maneira mais saudável, com participação dos trabalhadores.

“Os projetos ou mesmo as metas para um momento crítico ou de necessidade da empresa poderiam ser traçados em conjunto com os funcionários, sem representar uma algema de ouro pela entrega de resultados”, avalia Ademar Orsi.

Notícia colhida no sítio http://www.contrafcut.org.br/noticias.asp?CodNoticia=39066

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