Resistência e unidade são algumas das palavras de ordem durante o Congresso Estadual da CUT Paraná
Começou na noite desta sexta-feira (26), na Associação Banestado, em Praia de Leste, no litoral paranaense, o 14º Congresso Estadual da CUT Paraná. O evento reúne aproximadamente 300 delegados e delegadas de todas as regiões do Estado para debater o plano de lutas da central, bem como, aprofundar os debates sobre a conjuntura e escolher a nova direção que comandará a CUT nos próximos quatro anos.
O encontro recebeu a presença de parlamentares, diretores da CUT Nacional, de movimentos sociais e até mesmo de outras centrais sindicais que formam a unidade, no Estado, em defesa dos direitos sociais da classe trabalhadora.
A presidenta da CUT Paraná, Regina Cruz, fez um balanço do seu mandato avaliando a conjuntura estadual. Ela recordou que o início do seu segundo período à frente da central no Paraná foi, justamente, após o 29 de abril de 2015. Neste dia o então governador Beto Richa ordenou que os professores, funcionários de escola e outras categorias do serviço público fossem recebidos com bombas e tiros. Eles protestava contra um Projeto de Lei que permitia, entre outros retrocessos, que o Governo do Estado sacasse recursos do seu fundo previdenciário.
“Buscamos organizar a luta, em todos os momentos, dentro da unidade. Sabíamos que era necessário fortalecer. Por isso criamos o Fórum de Lutas 29 de abril, inspirados em uma atuação de Minas Gerais, que reuniu movimentos sociais com o mesmo objetivo de defender os direitos da classe trabalhadora”, afirmou. Ela recordou também as ações contra o Golpe de 2016, contra a Reforma Trabalhista, contra a violência contra a mulher e também contra o Projeto de Lei das Terceirizações. “Foi aqui que iniciamos uma grande parceria com outras centrais sindicais, fortalecendo a nossa unidade”, completou.
Mas, o ponto de grande unidade e de resistência, segundo Regina, aconteceu no dia 7 de abril de 2018. Foi neste dia que foi criada, em Curitiba, a Vigília Lula Livre após a injusta prisão do ex-presidente Lula. “Estamos lá há 566 dias. São quatro entidade nacionais, a CUT, o MST, o MAB e o PT que estão construindo a luta e a resistência contar essa injustiça. Neste domingo ele fará 74 anos e estaremos lá, cantando parabéns para ele e lutando para que logo possamos tirá-lo de lá para que inicie caravanas por todo o Brasil”, projetou.
O secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT, Quintino Severo, fez uma análise de momentos históricos do Brasil e de grandes desafios para a classe trabalhadora. O último deles, que segundo Severo ainda não terminou, é o Golpe de 2016. “Ele ainda não acabou. A conjuntura do Golpe se extende desde 2016 e é marcada por vários aspectos. A primeira dela foi a Emenda Constitucional 95 que amarrou o estado e retirou a possibilidade de ser feito o que aconteceu nos governos Lula e Dilma que é, justamente, a a capacidade do estado investir e ser o fio indutor do desenvolvimento em nosso País”, afirmou.
Segundo ele, o que veio depois deste cenário acaba sendo uma consequência do golpe de 2016. Desde a Reforma Trabalhista que destruiu direitos e pulverizou os contratos precários de várias formas, a prisão de Lula, a eleição de Jair Bolsonaro e mais recentemente a Reforma da Previdência. Para Quintino Severo, outros dois grandes desafios se apresentam no horizonte do movimento sindical. As reformas tributária e sindical.
“Isso não é coisa para economista, é coisa para a classe trabalhadora. Precisamos enfrentar esse debate. A proposta que vem é para acabar com ainda temos de estado brasileiro e entregar para a iniciativa privada, fazendo com que os mais pobres não tenham vez. Já a Reforma Sindical vem para para destroçar. É a libertinagem sindical para incluir na legislação o sindicato por empresa, por local de trabalho, talvez mais de um sindicato dentro de uma mesma empresa”, alertou. Severo reforçou a importância do movimento sindical neste processo de resistência e também encontrando maneiras de fazer com que o povo saia às ruas como acontece em outros países da América Latina, como o Equador e o Chile.
A situação dos países da América Latina também foi alvo de uma análise de conjuntura. O secretário geral da Central Sindical das Américas (CSA), Rafael Freire, falou sobre o avanço do projeto neoliberal nestes países. Segundo ele, a forma de implantação excluí processos democráticos justamente por não atender os anseios da classe trabalhadora e os protestos que acontecem nestes países são respostas ao neoliberalismo.
“A América Latina era uma região que parou a ofensiva neoliberal e buscava construir uma alternativa. É óbvio que com esta evolução a região deveria ser atacada. A construção de algo pós-neoliberal deveria ser destruída. É com o ataque à democracia que tenta impedir as forças contra o neoliberalismo na América Latina”, afirmou. Ele citou como exemplos a eleição de Macri, na Argentina, que não apresentou uma proposta econômica sequer durante as eleições, o Golpe no Brasil e posteriormente a eleição de Bolsonaro como fatores desta ofensiva.
“A destruição deve ser muito rápida porque este projeto neoliberal não tem alternativa para o nosso povo e sustentabilidade social. Essa implementação não conta com o apoio popular e a tendência é aumentar os conflitos. Aplicação tem que ser rápida e profunda e para isso ataca as instituições do Estado. Não é por acaso que temos a destruição da Petrobrás, da Amazonia, a venda de terras estrangeiras para grupos internacionais, a entrega da Base de Alcantara, a volta dos venenos, destruição da Agricultura Familiar e do povo trabalhador ter autonomia que é a educação pública. Se há demora a reação vem de maneira mais rápida”, completou.
Para Freire as oligarquias na América Latina agora buscam a repressão como forma de conter respostas ao avanço das políticas neoliberais. “A criminalização dos movimentos sociais, incluindo o sindical, e dos líderes políticos e sociais. Não é por menos que Lula continua na prisão, seis dirigentes sindicais estão presos na Argentina e outros líderes na América Latina também. Atualmente são dois países em estado de exceção. No Equador, por exemplo, os protests sãos respostas à política econômica do FMI. No Chile, laboratório neoliberal durante a ditadura de Pinochet, os protestos acontecem desde 2006 e de forma muito seguida. Vinte dias atrás aconteceu uma manifestação monstruosa contra o o fundo previdenciário privado e hoje explode contra todo o sistema”, relatou.
Por último, Freira destacou que o sindicalismo precisa avançar, não apenas na questão da unidade, mas também buscar alternativas ao sistema político e econômico. “Precisamos organizar a classe trabalhadora que hoje é muito mais complexo do que na década de 70. São as pessoas que não estão organizadas e que devem estar na CUT, nas centrais sindicais. Ao responder esta organização daremos as respostas para o que acontece hoje”, finalizou.
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Texto e fotos: Gibran Mendes
Fonte: CUT Paraná