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CPI da Covid: senadores desmontam versão farsesca de Nise Yamaguchi

Foto: Jefferson Rudy/Ag. Senado

Ao longo de seu depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (1º), a médica Nise Yamaguchi insistiu na defesa do “tratamento precoce” com cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19. No entanto, na oitiva de hoje, alguns senadores demonstraram mais domínio e preparo em assuntos científicos para desmontar os argumentos da médica. Foi o caso, por exemplo, de Otto Alencar (PSD-BA) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

O senador sergipano questionou Nise sobre o fato de ela se apresentar à CPI “na condição de cientista”, mas não apresentar nenhum estudo científico importante que justificasse a indicação indiscriminada de cloroquina para tratar a covid-9.

Vieira citou o pesquisador Paulo Martins Filho, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), que indicou 14 estudos “da mais alta qualidade” sobre cloroquina e hidroxicloroquina. “Absolutamente nenhum deles recomenda o uso”, disse. Ele quis então saber se a médica indicaria algum estudo de alto nível recomendando o uso do medicamento. “Sem dúvida, senhor senador”, respondeu Nise. O momento foi constrangedor. Ela folheou um maço de papeis sobre a mesa, sorriu, e disse: “é que tem muitos”.

“A senhora está com dificuldade”

Por fim, a médica citou estudo da Henry Ford Foundation com dados dos Estados Unidos. Foi interrompida. “A senhora está apresentando uma pilha de papel que significa muito pouco para a CPI porque não corresponde àquilo que seus colegas cientistas referendam como de alta qualidade”, disse Vieira. Ele lembrou à depoente que o estudo mencionado foi “descontinuado (em dezembro de 2020) porque não apresentou os resultados que a senhora está dizendo”.

Em julho de 2020, a Agência Lupa checou e mostrou ser falso que “estudo Henry Ford” teria comprovado a eficácia da hidroxicloroquina contra a covid-19. Além disso, a Lupa informou que o estudo citado não aplica procedimentos considerados essenciais para mostrar se um medicamento funciona.

O constrangimento aumentou. “A senhora está com dificuldade. Vamos passar a outra pergunta”, continuou. Vieira quis saber o que a médica tinha a dizer sobre o fato de os órgãos de regulação de todos os países desenvolvidos rejeitarem o tratamento com cloroquina para se concentrar em vacina. Os investimentos em relação às vacinas “são extremamente importantes”, respondeu a médica. Mas insistiu que estudos em diversos países estão “demonstrando a eficácia” da cloroquina, novamente sem citar a que estudos se referia.

Gabinete paralelo e mudança de bula

Em outro tema levantado pela CPI da Covid, Nise Yamaguchi foi questionada por Randolfe Rodrigues (Rede-AP) sobre a minuta de um decreto presidencial que autorizaria a utilização do medicamento, “em toda a rede pública” no trato a pacientes com covid-19. O documento, posteriormente registrado em cartório, foi discutido em mensagens pelo WhatsApp trocadas entre ela e um médico chamado Luciano, em 6 de abril de 2020. “Oi Luciano, este decreto não pode ser feito assim, porque não é assim que regulamenta a pesquisa clínica. Tem normas próprias. Exporia muito o Presidente”, afirma Nise em uma das mensagens.

O personagem, interlocutor de Nise nas mensagens, é identificado como Luciano Dias Azevedo, médico anestesista da Marinha, integrante considerado importante do chamado gabinete paralelo, que orientava o presidente Jair Bolsonaro sobre medidas de enfrentamento à pandemia. Ele seria o autor da minuta do decreto – que Nise afirmou à CPI não ter visto – para mudar a bula da cloroquina. No depoimento de hoje, Nise negou conhecer algum “gabinete paralelo”, mas disse existir um “conselho cientifico independente”.

Ela negou também que tenha feito intervenções com o objetivo de que fosse mudada a bula da cloroquina, como informou o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, em seu depoimento. A mudança da bula estava em um documento “comentado pela doutora Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação, confesso, até um pouco deseducada ou deselegante minha”, disse Barra Torres, em 11 de maio.

A CPI ouve nesta quarta-feira (2) a médica infectologista Luana Araújo. Ela foi nomeada secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde e demitida dez dias depois.

Fonte: CUT

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