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Por 10:09 Sem categoria

E se as mulheres não fizessem mais o trabalho de casa?

Quem vai deixar de trabalhar para cuidar dos filhos?

Historicamente, as mulheres têm sido responsabilizadas pelo trabalho doméstico, o que aqui chamo de trabalho de “reprodução social”. Esse trabalho envolve várias dimensões, desde lavar, passar, cozinhar, limpar, mas também o cuidado com crianças, idosos e enfermos.

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Juliane Furno
A invisibilização e a desvalorização do trabalho doméstico gratuito ajuda o capitalismo a extrair maior valor dos trabalhadores. - Créditos: EBC
A invisibilização e a desvalorização do trabalho doméstico gratuito ajuda o capitalismo a extrair maior valor dos trabalhadores. / EBC

O que faz as mulheres serem as responsáveis por esse conjunto extenso e penoso de atividades (afora a reprodução da vida, que é um processo biológico), é a “naturalização” de essas são tarefas “de mulheres”. Sempre que questionei a minha mãe sobre o motivo porque eu era responsável por lavar a louça e o meu irmão não, ela dizia que esse era o trabalho das mulheres mas que – quando precisasse – o meu irmão serviria para trocar lâmpadas.

A isso damos o nome de “divisão sexual do trabalho”, que acompanha nossa sociedade há muito tempo mas que foi resignificada pelo capitalismo. A lógica da divisão sexual do trabalho não é somente que existam “trabalhos de homens” e “trabalhos de mulheres”, mas também de que os trabalhados de homens “valem” mais do que o trabalho das mulheres.

Um exemplo muito simples é o trabalho nos “serviços domésticos”. Essa ocupação é marcada por 93% de mulheres, e pasmem: elas ganham pouco mais de 80% do salário dos homens alocados também no trabalho doméstico.

Pelo IBGE, a categoria serviços domésticos engloba várias atividades: empregada doméstica, babá, cozinheira e também do motorista particular e do jardineiro. Dessa forma, provavelmente os homens são os motoristas e jardineiros e as mulheres as demais. No entanto, porque o trabalho de um motorista “vale” mais do que o trabalho de uma cozinheira, que é realmente muito mais importante para a reprodução familiar? A resposta é a construção social, na qual “valoramos” de diferentes formas distintas ocupações. O sexo e a cor dessas atividades concorre mais para o seu “valor social” do que propriamente a sua qualificação.

Voltando ao início da nossa prosa. E se as mulheres – que atualmente são responsáveis majoritariamente pelo trabalho doméstico de forma gratuita nas suas casas – não o fizessem mais? Como o trabalhador iria para o trabalho? Não alimentado, com as roupas amassadas? E as crianças, quem as levaria? E os idosos, quem cuidaria deles?

Esse é apenas um exemplo para você pensar que toda a sociedade se estrutura a partir de um trabalho que você talvez nem ache que é trabalho!

E não para por aí. Um dos principais motivos de desigualdade no mercado de trabalho atualmente (segregação ocupacional, diferenças salariais) é deveras influenciado pela não divisão das tarefas de reprodução entre os homens e mulheres nos seus lares. Se não fosse a dupla jornada que as mulheres exercem, talvez elas não aceitassem trabalho em tempo parcial.

E isso impacta a vida privada, mas também o sistema como um todo. Aceitando a ideia de Karl Marx de que o salário de um trabalhador é determinado pela quantidade necessária para que ele possa reproduzir a própria força de trabalho (ou seja, voltar a trabalhar no outro dia descansado e alimentado) o trabalho gratuito das mulheres ajuda a rebaixar os salários do conjunto da classe. Simples, porque nem o Estado nem as empresas precisam adicionar no custo do salário o necessário para que esse trabalhador coma em restaurantes, pague uma creche para o seu filho e alguém para limpar a sua casa. Ou seja, essa invisibilização e a desvalorização do trabalho doméstico gratuito ajuda o capitalismo a extrair maior valor dos trabalhadores.

Assim também com o Estado. Quando o governo Temer aprova uma medida como a “PEC do teto dos gastos”, eles mais uma vez sobrecarrega as mulheres, pois com a saúde em frangalhos, quem vai cuidar dos idosos e enfermos? Com recurso congelado para creche quem vai deixar de trabalhar para cuidar dos filhos?

Pense nisso! Dividir e compartilhar o trabalho doméstico com as mulheres é uma obrigação! É um dos passos necessários para enfrentar uma das desigualdades mais estruturantes de nossa sociedade.

Fonte: Brasil de Fato

Edição: Daniela Stefano

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