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Economia brasileira está no fundo do poço e sem norte

crise profunda

Para o economista da UFRJ, João Sicsú, país não tem projeto econômico, e exige soluções para a miséria e o desemprego, que caracterizam momentos de depressão como o atual, e não existiam em 2014
por Eduardo Maretti, da RBA publicado 04/01/2018 19h00
Valter Campanato/ABr

João Sicsú

Analogia com crise de 1929: “Suspiros que acontecem no fundo do poço não devem ser tratados com otimismo”

São Paulo – Estimativas divulgadas como positivas pelo mercado e pelo Banco Central, segundo as quais o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá crescer 1% em 2017 e 2,70% em 2018, estão longe de indicar motivo para comemoração. A economia do país está deprimida e caiu 8% em três anos. “Não dá para ser otimista”, avalia o economista João Sicsú, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Na verdade falta um norte para a economia. Estamos crescendo em qual direção?”, observa. “A economia brasileira pode até crescer, mas não tem caminho apontado, um projeto organizado para crescer de forma repetida. E, mesmo crescendo 1% em 2017, e talvez mais em 2018, a economia estará muito do longe do patamar do final de 2014.”

O professor lembra que desde 2015 a economia declina e que, nessas condições, só se pode pensar em “melhoria da qualidade de vida” no momento em que o país recuperar o patamar de 2014.

Hoje o governo Michel Temer diz que o país voltará a crescer, mas não informa como. “Ele não aponta se será por investimento estrangeiro, com investimento dele próprio, pelo consumo da população, pelas exportações. Tem de ter um norte e essas são as variáveis a ser observadas.”

Na opinião do economista, o crescimento alardeado não passa alguns momentos de “suspiros que a economia está dando no fundo de um poço”. Além disso, é um filme já conhecido, inclusive considerando outros momentos e conjunturas da economia mundial.

“Isso acontece na economia brasileira agora e aconteceu também na economia americana nos anos 1930, depois da Grande Depressão de 1929. Os anos 1930 também apresentavam crescimento e, tal como hoje, o mercado daquela época ficava eufórico”, compara Sicsú. “Só que no ano seguinte tinha nova queda. Esses suspiros que acontecem no fundo do poço, na economia, são movimentos conhecidos, não devem ser tratados com otimismo.”

A analogia com a crise de 1929 e seus desdobramentos serve para mostrar que uma economia em profunda crise não se recupera sem um amplo esforço nacional  e um projeto que aponte para “um norte”. Sicsú lembra que a economia americana se recuperou nos anos 1930 por conta do New Deal (série de programas implementados nos Estados Unidos no governo de Franklin Delano Roosevelt).

“Isso deu um pulso para impedir que se afundasse mais, mas a economia só se recuperou de fato depois da Segunda Guerra, quando tinha um projeto de reconstrução do mundo. Aí tinha um norte, um caminho, o do investimento e distribuição da renda e da riqueza”, explica o professor da UFRJ “Isso é o que não temos agora. Temos só os suspiros característicos de uma depressão. Em relação a 2014, recuperamos só 1%. Faltam 7%.”

Os problemas são ainda mais graves porque o país precisa também resolver problemas de miséria e desemprego, que caracterizam momentos de depressão como o atual e que não existiam em 2014. Hoje, há no país 12,6 milhões de pessoas desocupadas.

Inflação

Um dos dados mais utilizados pelo governo para demonstrar otimismo é o da inflação, atualmente em baixa e com projeções “otimistas”. Em dezembro, conforme noticiou a mídia amplamente, o mercado financeiro reduziu as projeções para o IPCA – o índice oficial de preços – de 4,00% para 3,96%.

“O problema é que o povo não come inflação, precisa de emprego, de consumo e ter salário.” O professor faz outra analogia: “Durante os anos 1990, a inflação japonesa era de zero por cento, e a economia completamente deprimida durante mais de uma década. Inflação não é a questão fundamental. Fundamental é emprego e renda para gerar consumo”.

Não se sabe qual o “norte” da economia brasileira nos próximos períodos. “Mas ela só terá de fato uma recuperação consistente quando houver um projeto, como no governo Lula, por exemplo, de 2007-2010, quando teve investimento e consumo, e investimento.”

Embora seja muito mencionado, até pelo ex-presidente, que o consumo foi o principal pilar de seu governo, para o economista “o carro chefe não era o consumo, mas o investimento – o consumo era apenas uma consequência”.

Leia mais:

Notícia colhida no sítio http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2018/01/economia-brasileira-nao-tem-norte-e-esta-no-fundo-do-poco-diz-sicsu

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O desafio da esquerda é mostrar que há alternativas ao neoliberalismo

Efetivamente, aos poucos os políticos governantes e os grandes meios de comunicação perderam o medo de reconhecer ou de apresentar as misérias do seu modelo econômico

02/01/2018 13:35

 

A partir da publicação de seu último livro, a jornalista canadense Naomi Klein faz uma afirmação numa entrevista ao diário chileno La Tercera, que creio ser fundamental: “o grande triunfo do neoliberalismo foi convencer o mundo de que não há alternativas”.

Efetivamente, aos poucos os políticos governantes e os grandes meios de comunicação perderam o medo de reconhecer ou de apresentar as misérias do seu modelo econômico.

Enquanto nos tempos do socialismo real os países do outro lado do muro tentavam esconder qualquer sinal de corrupção, repressão ou precariedade econômica; aqui e agora os países capitalistas exibem em seus informativos a corrupção dos governos e dos governantes, dos altos executivos, incluindo em suas produções cinematográficas os crimes de seus serviços secretos e forças de segurança, mostram as notícias sobre pobreza, miséria e injustiças de forma constante, sem nenhum problema. É tanta a segurança na impunidade e no controle da situação, que o sistema não vai se alterar nem um milímetro, por muito que as razões para a indignação sejam esfregadas na nossa cara, que fica fácil encontrar o sentido na afirmação de Klein. Inclusive movimentos como o 15M e o Occupy Wall Street, que trouxeram esperança de luta contra sistema predatório que nos está empobrecendo, adoeceram pela falta de alternativa. Ficaram na indignação.

O veterano comunista Pietro Ingrao já dizia, em seu breve livro de 2011 Indignarsi non basta (“Indignar-se não basta”), em resposta ao famoso “Indignai-vos” de Stéphane Hessel. Este último texto, limitado à indignação, é reconhecido por todas as grandes cadeias informativas, enquanto o primeiro, traduzido por militantes e difundido pela internet, não. Por isso a indignação é valiosa, mas adiar a alternativa ao objeto da mesma é perigoso.

Também recordava que em 2014 o vice-presidente da Bolívia Álvaro García Linera, no Congresso do Partido da Esquerda Europeia, em Madrid, disse que “a esquerda europeia não pode se contentar com o diagnóstico e a denúncia. O diagnóstico e a denúncia servem para gerar indignação moral. A expansão da indignação moral mas não gera a vontade de poder. A denúncia não é uma vontade de poder. A esquerda europeia, a esquerda mundial, diante desse anseio capitalista destrutivo que impulsa também o capitalismo contemporâneo, tem que aparecer com propostas e iniciativas. Precisamos reconstruir a esperança”.

Agora, Naomi Klein levanta esta bandeira em seu novo livro No is not enough (“Não basta dizer não”). Segundo a autora canadense, “o movimento de resistência não é suficiente (…). Necessitamos mais resistência, mas também um movimento que transforme”. Para ela, o “não” nunca ofereceu uma alternativa, e por isso os movimentos dos indignados na Espanha ou o Occupy Wall Street nos Estados Unidos não geraram mudanças estruturais, porque não criaram nenhuma narrativa de futuro. “A crise real era de imaginação. Não vimos isso de forma suficientemente clara. O projeto neoliberal teve sucesso. Seu grande triunfo foi convencer a todos de que sem ele não há alternativa”.

Klein afirma que o título do livro vem de uma discussão que teve com o líder do Syriza Alexis Tsipras justo antes dele ser eleito primeiro-ministro grego, liderando a insatisfação contra a ajuda financeira que afundaria o sistema social do país. “Ele me dizia que apenas dizer “não” já era um passo grande o suficiente. Para mim, o que estava bastante claro era que precisávamos propor soluções e alternativas. A Grécia é um bom exemplo dos perigos que corremos se não propomos alternativas e mobilizamos as pessoas”.

O passo seguinte é definir algumas das condições requeridas na elaboração da alternativa: organização estável, mobilização, objetivos claros e realistas, unidade de ação.

Artigo colhido no sítio https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-desafio-da-esquerda-e-mostrar-que-ha-alternativas-ao-neoliberalismo/4/39040

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