Informação é bem valioso e a comunicação precisa enfrentar debates difíceis com a base
A internet é um instrumento importante, mas não pode ser o único foco na comunicação sindical. Esta é avaliação dos debatedores da segunda mesa deste sábado (26) no 14º Congresso Estadual da CUT Paraná. Os problemas e avanços da internet, os meios tradicionais e a informação como importante capital foram alguns dos principais temas discutidos durante a manhã.
“Há uma coisa que vale mais que Petróleo no mundo hoje: a informação. Não é à toa que empresas como Google, Facebook e Amazon valem o que valem”, sentenciou o secretário nacional de comunicação da CUT, Roni Barbosa. De acordo com ele é preciso que a comunicação sindical adote uma linguagem popular, de fácil compreensão. “A defesa do movimento social é fundamental em um governo fascista que traz ataques brutais contra nosso campo. Mas pergunte para a sociedade: qual é o papel de um sindicato. Eles sabem?”, questionou.
Segundo Roni, um dos principais desafios é a unidade. “Quanto sindicatos falaram da votação em 2º turno no Senado Federal? Quantos debateram a Reforma Trabalhista? O que significa o fascismo? Quais sindicatos estão enfrentando as suas bases? Todo mundo sabe que não é fácil, mas precisa ser feito. Se não buscarmos politizar as categorias, quem vai fazer? Nosso papel vai muito além da representação sindical de salários e da jornada de trabalho”, completou.
Apesar da grande estrutura e recursos financeiros que direita dispõem para se organizar em redes, a unidade da esquerda pode bater de frente com os robôs e o aparato de comunicação montado pelos setores reacionários. Atualmente, são 3 mil sindicatos filiados à CUT, com uma média de 20 dirigentes pelo sindicato, totalizando 60 mil dirigentes. “Um material com 60 mil compartilhamentos hoje em dia estoura qualquer rede social. Mas por que não conseguimos fazer isso sempre. O que falta para rompermos essa barreira?”, indagou.
Um dos principais mecanismos disponíveis hoje para o movimento sindical é o Portal da CUT Nacional, que integra sites das estaduais e ramos. “A rede CUT de Comunicação é poderosa. Mas os sindicatos não podem terceirizar a comunicação. Com organização podemos, inclusive, ter retorno de financiamento para pagar a conta da nossa própria comunicação. Não podemos passar nossa audiência, de temas nossos, para portais da direita”, completou.
A jornalista Cláudia Santiago, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), defendeu o uso de todas as ferramentas de comunicação possíveis. “Precisamos voltar a colocar cartazes nas ruas. Fizemos muitos panfletos e entregávamos de mãos em mãos, conversando com a população”, argumentou.
Ela citou como exemplo a Igreja Universal, que apesar de todos os recursos financeiros disponíveis, não abriu mão do seu jornal entregue nas igrejas, a Folha Universal. “O Edir Macedo, ele tem televisão, rádio, até um filme que ninguém foi ver, mas tem mecanismos no cinema. Mas não abriram mão do seu jornal distribuído de mãos em mãos”, comparou.
Segundo ela, a comunicação sindical é o cravo vermelho da revoluções dos gravos. “É a coisa mais linda que há. Eu acredito no poder da comunicação sindical. Se a entidade não é pelega, faz a comunicação que incentive a participação dos trabalhadores. A CUT é filha das ideias que misturava sindicalistas, revolucionários e a ala progressista da igreja católica que tinha forte atuação nos bairros”, completou.
Já o jornalista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mário Messagi, falou sobre o desenvolvimento da Internet. “O advento desta forma de comunicação, com o tempo, alterou a forma como a democracia funciona. Há uma campanha permanente, o tempo todo se disputa a eleição e o voto dos eleitores, com a participação política se manifestando em movimentos hackativistas, organizados a partir de redes”, relatou.
O professor disse ainda que estas novas formas de comunicação aceleraram o processo político, não apenas no mundo virtual, mas também no mundo real. “As pessoas que passam a participar deste processo surgem com suas posições que não conhecíamos. Antes não se falava diretamente, o debate era medidado por entidades da sociedade civil. Agora as pessoas expressam suas opiniões, que antes eram meramente pessoais, de forma pública e protegidas pelo anonimato, sem o filtro dos espaços públicos”, analisou.
O rastreamento do cidadão, dos seus dados e preferências também criou a publicidade a partir dos “microtargets”. Neste cenário a publicidade é direcionada exatamente para cada perfil, inclusive, propondo que as respostas que as pessoas procuram estão em determinados políticos a partir do uso dos seus dados. “Se inserir neste debate é um problema do movimento sindical. É preciso achar esse caminho, mas sem esperar, que gigantes amorais como o Google e o Facebook proponham qualquer solução para os movimentos sociais”, finalizou.
Texto e fotos: Gibran Mendes
Fonte: CUT Paraná