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NOSSA GREVE SEGUIRÁ FORTE PORQUE É JUSTA

Trabalhadores bancários repudiam postura dos bancos e do governo e também querem liquidez

O governo federal e o Banco Central repetem que os bancos brasileiros estão capitalizados e não correm risco de serem atingidos pela crise financeira deflagrada a partir dos Estados Unidos. Mesmo assim, tomaram diversas medidas nas últimas semanas que já injetaram R$ 60 bilhões para aumentar a liquidez no mercado.

Como já estavam sólidos e ainda receberam essa ajuda do governo, o Banco do Brasil, a Caixa Federal e os grandes bancos privados estão comprando carteiras de crédito de instituições menores.

O governo federal, além disso, adotou outras iniciativas para capitalizar empresas e proteger o capital.

É justo que o governo federal se preocupe com a solidez do sistema financeiro e com a liquidez no mercado, para atenuar os efeitos da crise. Mas é inaceitável a diferença de tratamento que o governo dispensa aos bancos e aos trabalhadores do sistema financeiro.

Os bancários estão em greve em todo o país porque os bancos – inclusive os públicos, em que o governo é o principal acionista – se recusam a atender as reivindicações salariais dos trabalhadores, mesmo sendo o setor mais lucrativo da economia.

Se os bancos estão sólidos e têm liquidez, como aliás comprovam os seus balanços, por que então não apresentam proposta para atender seus empregados? E por que o governo federal, tão solícito em proteger o capital, mantém a intransigência na negociação com os bancários das instituições públicas?

Há praticamente um consenso na sociedade de que a crise poderá atingir o comércio exterior brasileiro, em razão da redução do crédito no mercado internacional, o que torna necessário o fortalecimento do mercado interno para manter o nível de crescimento da economia.

E o que significa fortalecer o mercado interno? Aumentar o nível de empregos e valorizar os salários, para manter aquecida a capacidade de consumo e de produção. Esses foram os principais fatores que sustentaram o alto crescimento da economia brasileira nos últimos anos.

Os bancários estão em greve porque querem recompor o poder de compra dos salários e têm direito à sua parte no aumento da produtividade do setor. O retorno sobre o patrimônio líquido do Sistema Financeiro Nacional segue sendo o maior do mundo. Além disso, os banqueiros e o governo, além de se negarem até agora a dar aumento real de salários e uma participação nos lucros justa, já distribuíram milhões de reais aos seus acionistas e administradores. Falta agora a parte de quem produziu de fato, os bancários.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) não aceita que os bancos mais uma vez sejam privilegiados pelo governo sem uma contrapartida social e às custas da sociedade e de seus trabalhadores.

A greve seguirá forte porque é uma greve justa. Os bancários esperam que o governo e os banqueiros tirem do papel a sua retórica de responsabilidade social e atendam às reivindicações dos trabalhadores, que são os verdadeiros responsáveis pela solidez dos bancos com seu trabalho diário.

Por Vagner Freitas, que é trabalhador bancário no Bradesco, presidente da Contraf/CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.contrafcut.org.br.

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Bancos, a crise e a greve dos bancários

Ganância: é isto que os bancos internacionais e os bancos brasileiros têm em comum. Os primeiros, sobretudo os bancos americanos, construíram sua lucratividade com crédito farto sem lastro e com poucas garantias, envolvendo-se num emaranhado de operações financeiras de alto risco, cuja quebra está na origem da crise dos mercados financeiros em todo o mundo. Já os bancos brasileiros, que nunca foram muito afeitos a riscos, construíram sua lucratividade sobre dois pilares: operações com títulos públicos, com retorno garantido devido aos juros elevados; e a exploração da sociedade e dos bancários com altas taxas de juros das operações de crédito, tarifas abusivas, péssimas condições de trabalho e salários absurdamente desproporcionais aos lucros bilionários do setor.

Os bancos no mundo todo estão em crise. Os de lá estão mergulhada numa série crise financeira e de liquidez. Os daqui sofrem de uma irreconhecível crise moral e ética. Imorais são as taxas de juros cobradas da sociedade e as aviltantes tarifas cobradas pelos serviços bancários. Imoral é a expulsão de pequenos correntistas e da população mais pobre para serem atendidos somente por correspondentes bancários. A crise ética é caracterizada pela exploração dos bancários, pelo desrespeito à jornada de trabalho da categoria e pela conseqüente violação da integridade física e mental desse segmento de trabalhadores, que segundo pesquisas oficiais estão entre os que mais sofrem com doenças ocupacionais e toda sorte de pressão e assédio moral. Sem falar na terceirização sem limite, verdadeira fraude contra os trabalhadores. Antiético também é desrespeitar a lei de greve através de interditos proibitórios que tentam coibir o legítimo direito dos trabalhadores; prática, aliás, já condenada pelo Supremo Tribunal Federal.

É neste contexto que se insere a greve dos bancários, que acontece há vários dias em todo o Brasil e há quase três semanas em Brasília e em alguns estados da federação. Se colocadas diante dos lucros exorbitantes dos bancos, as reivindicações da categoria mais parecem migalhas capazes, no máximo, de reproduzir “marolas” nas contas dos banqueiros. Para se ter uma idéia, a folha de pagamento dos maiores bancos é paga com sobras apenas pelas receitas de tarifas cobradas. A truculência dos bancos (que durante este período mais parecem “bandos”) se caracteriza por ameaças, assédio e todo tipo de constrangimento para impedir a adesão de bancários à greve ou para tentar fazer os grevistas voltarem ao trabalho. Enquanto isso, seus gestores ou “capatazes” lutam a todo custo para atender os grandes clientes e desprezam a “chibatadas” os clientes menores e a população que precisa de atendimento.

Nos Estados Unidos, há muito tempo, os banqueiros já foram apelidados de “bankgsters”, uma referência à expressão “gângsters”, para denominar a forma como se organizam e atuam na sociedade de forma a engolir a concorrência e a influenciar os poderes públicos na defesa de seus interesses, para não dizer da truculência que usam para enfrentar quem se opõem a suas políticas. Nos dias de greve, fazem de tudo para obrigar os bancários a trabalhar. Além de ligar no celular e na residência dos trabalhadores, os obrigam a chegar mais cedo ou até que durmam no trabalho. Direcionam os trabalhadores para as unidades que não estão em greve e até alugam salas para serviços de contingenciamento. No limite, usam helicópteros para transportar executivos e outros bancários.

Nestes tempos de crise financeira, os bancos centrais correm para salvar os bancos com o dinheiro público. A pretexto de evitar uma quebradeira em cadeia, destinam bilhões para socorrer as instituições ameaçadas. Da mesma forma que os BCs intervêm quando os bancos estão perdendo muito, talvez devessem intervir quando os bancos ganham demais, até para cobrar um retorno em forma de investimentos e crédito mais barato, já que sua principal função na economia é, ou deveria ser, de intermediação dos recursos da sociedade.

Nas bolsas de valores os operadores compram e vendem papéis e suas metas são determinadas pelas oportunidades e pela dinâmica do mercado. Já nos bancos, os bancários são obrigados a vender “produtos” com metas estabelecidas da cabeça de gestores de plantão, que na maioria das vezes desconhecem a realidade de cada ponto de atendimento.

No Brasil, os bancários de bancos privados não sobrevivem, em média, a mais de cinco anos no emprego, e já são substituídos por trabalhadores com salários menores e desempenhando a mesma função. Se já não bastassem as indecentes condições de trabalho, esta rotatividade é ainda mais perversa. Dos poucos que fazem carreira nestas instituições privadas, boa parte é demitida em fim de carreira, pouco antes da aposentadoria. Trata-se de uma monstruosidade sem tamanho. É difícil imaginar que são pessoas que estão por trás dessas organizações. Pisar em que for necessário para garantir os maiores lucros, descartar pessoas quando não mais se precisa delas.

Algo precisa mudar em como as instituições financeiras operam e tratam a pessoas, sejam elas parte de seu corpo funcional, clientes ou cidadãos usuários ou que dependem dos bancos. A nacionalização de bancos agora empreendida, quem diria, nos Estados Unidos e em outros países europeus, pode até não ser a saída, mas no mínimo é o reconhecimento de que estas instituições não podem e não devem atuar sem a intervenção do Estado em benefício do interesse público.

No que tange aos trabalhadores, é preciso ouvir o clamor da greve. Melhores salários, além de mais justos, fortalecem o mercado interno e ajudam a fortalecer a economia em tempos de crise. O governo também pode contribuir para isso cobrando que os bancos cumpram suas obrigações perante a sociedade e orientando os bancos públicos a avançarem nas negociações específicas. A luta continua!

Por César Costa de Araújo, que é assessor do Sindicato dos Bancários de Brasília.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.contrafcut.org.br.

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