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O salário não é vilão

Artigo do presidente da CUT publicado em O Globo convoca sindicatos a fazer campanhas salariais ousadas e exigentes

“A Central Única dos Trabalhadores, e eu pessoalmente, estamos orientando nossos sindicatos filiados a organizarem as mais ousadas mobilizações e as mais arrojadas e exigentes pautas de reivindicações dos últimos tempos durante as campanhas salariais que vão ocorrer no segundo semestre.

É tempo de ousadia, especialmente para mostrar nossa contrariedade com a ideia de que aumentos reais de salário podem representar uma ameaça ao controle da inflação no Brasil.

Ora de maneira sutil, ora escancarada, análises inspiradas a partir do mercado financeiro, repercutidas pela imprensa, sugerem que a conjuntura desaconselha aumentos salariais acima da inflação, pois poderiam pressionar as taxas.

Em primeiro lugar, para nos contrapor a esse ataque concentrado aos salários, queremos dizer que é um absurdo tentar esconder que há outros fatores que pressionam de fato inflação, mas que jamais são citados por essas análises conservadoras.

Lucro causa inflação. Distribuição de dividendos também pressiona a inflação. O fato de a estrutura tributária ser regressiva, punindo quem ganha menos, também causa inflação, pois os impostos incidem majoritariamente sobre o consumo e são repassados diretamente aos preços. A existência de setores oligopolizados, especialmente na indústria, faz com que a ausência de concorrência facilite o repasse para os preços de qualquer aumento nos custos. Os oligopólios também têm mais facilidade para aumentar margem de lucros. Devemos lembrar também das tarifas públicas, muitas regidas por contratos indexados, que ajudam a ampliar os custos da produção e a pressionar a inflação.

Querer tratar da questão inflacionária, e principalmente combatê-la, sem considerar essas variáveis é falso e mal-intencionado.

Outro detalhe importante, ao qual é dado pouco destaque, refere-se ao fato de os salários estarem há muito tempo perdendo a corrida para o aumento da produtividade e para o crescimento veloz dos lucros obtidos por todos os setores de atividade.

No período de quase 20 anos entre 1989 e 2008, a produtividade da indústria aumentou 84%, enquanto no mesmo espaço de tempo a renda média dos salários caiu 37 pontos. Se a teoria clássica associa inflação a aumentos salariais acima da produtividade, podemos então descartar o risco.

Por fim, quero repetir que não estamos diante de um cenário de inflação de demanda, no qual as pessoas querem comprar algo que está em falta no mercado. Segundo o Sistema de Contas Nacionais do IBGE, o consumo das famílias, em relação ao PIB, caiu entre 2009 e 2010, de 61,7% para 60,6%. Esse dado sinaliza que o consumo das famílias tem permanecido estável em relação ao crescimento da economia.

Há alguns fatores que pressionaram a inflação nos últimos meses. Sazonais alguns, fruto das tarifas públicas indexadas, outros. Sem esquecer da ação dos oligopólios. Mas querer apontar os salários como vilões da inflação é uma falácia. A CUT e seus sindicatos não vão cair nessa.”

Por Artur Henrique, que é trabalhador eletricitário e presidente da CUT.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.cut.org.br

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BC prega redução dos salários e diz que juro vai continuar subindo

“Patrões terão como argumento as projeções de queda da inflação”, declarou o diretor de política monetária, Aldo Mendes, a banqueiros

Os diretores do Banco Central só falam claramente quando a plateia é composta por especuladores – externos, de preferência. Na terça-feira, o diretor de política monetária do BC, Aldo Mendes, fez uma apresentação no Fórum da Emerging Markets Trade Association, ONG formada pelo J.P. Morgan Chase, Bank of America, Citigroup, Credit Suisse, Deutsche Bank e outros de mesmo jaez. Disse o diretor do BC:

Os reajustes salariais deste ano tomarão como base a inflação corrente, que aponta desaceleração, e não a acumulada em 12 meses, que deve seguir pressionada nos próximos meses. Não vai ser fácil. Vamos ver uma forte queda de braço entre empregadores e trabalhadores, mas os patrões terão como argumento as projeções de queda da inflação”.

Em suma, nas negociações salariais, os patrões não devem permitir que os trabalhadores nem mesmo recomponham o poder aquisitivo que perderam durante 12 meses. Os trabalhadores devem, portanto, ter os salários reduzidos – pois é isso o que significa não repor o que perderam.

Quanto aos juros, o sr. Mendes assegurou aos bancos estrangeiros que “as medidas macroprudenciais não substituem o aumento de juros no combate à alta dos preços”.

Não poderia ter sido mais claro: os juros vão subir e os salários, se depender do BC, têm que diminuir. Ou, como diz o Relatório de Inflação do BC:

Um aspecto crucial (…) é a possibilidade de que o aquecimento no mercado de trabalho leve à concessão de aumentos nominais dos salários em níveis não compatíveis com o crescimento da produtividade, o que de fato tem ocorrido. (…) moderação salarial constitui elemento chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços” (BCB, Relatório de Inflação, março/2011, pág. 90, grifos nossos).

Em que empresa houve um aumento nos salários “não compatível com o crescimento da produtividade”? Em nenhuma, até porque o empresariado ainda não enlouqueceu, apesar do BC fazer o possível para que isso aconteça.

O BC esconde o fundamental: o que é totalmente incompatível com o crescimento da produtividade são os juros reais básicos de 6,2% (o triplo do segundo lugar do mundo) – estabelecidos para aumentar os ganhos especulativos e colaborar com a agressão de dólares desvalorizados dos EUA – e sua consequência, o câmbio irracional, artificial, que subsidia as importações contra a produção interna.

Segundo seu diretor, o BC quer aumentar ainda mais os juros, portanto, distorcer ainda mais o câmbio – e reduzir os salários. Assim, deve achar algum iluminado, o arrocho salarial compensaria os empresários pelo que perdem com os juros e o câmbio. Trata-se, sucintamente, de arrancar o couro do trabalhador para manter juros e câmbio indecorosos, indecentes – como já disse alguém, pornográficos. É o que significa “restringir a possibilidade de que os efeitos desses aumentos localizados de preços (…) se propaguem para salários nominais” (BCB, Rel. cit., pág. 93).

O BC, naturalmente, não tem nenhuma autoridade sobre salários. Houve época em que diretor do BC que desse palpite sobre o assunto arriscava-se à demissão – pois “autoridade monetária” é autoridade sobre a moeda, não sobre a política econômica em geral, que é função da presidente da República. Até agora, ao que se sabe, a presidente não deu autorização ao BC para usurpar os seus poderes.

No entanto, o presidente do BC, Alexandre Tombini, declarou no Congresso que “a inflação estará rodando acima do teto da meta de 6,5% quando importantes categorias de trabalhadores estarão dando início às negociações salariais. (…) os agentes econômicos devem mirar a perspectiva de inflação”. Isto é, patrões e trabalhadores devem esquecer o que foi perdido pelos salários – o negócio é a “perspectiva”, que, naturalmente, só os adivinhos do BC sabem qual é.

Tombini, portanto, está pregando que, se os trabalhadores deixarem que seus salários sejam arrochados, a inflação vai baixar, os empresários aumentarão a “produtividade” e o BC poderá continuar aumentando os juros e distorcendo o câmbio.

Os empresários teriam que ser imbecis para cair numa trampa dessas. Com o mercado externo em crise, que está se agravando (e o câmbio do BC piora mais a situação, ao encarecer as nossas exportações), o mercado interno torna-se ainda mais importante do que já é habitualmente. Mas a base do mercado interno são os salários – e a base da expansão do mercado interno são os aumentos de salários. Para quem os empresários vão vender os seus produtos, se os salários forem reduzidos?

E não seria tudo: com mais aumentos de juros e mais distorção no câmbio, aumentaria ainda mais a invasão de produtos importados. Os empresários teriam o mercado interno diminuído pela redução dos salários e, ao mesmo tempo, ocupado cada vez mais pelas importações.

Tombini poderia argumentar que, assim, não haverá inflação porque ninguém vai ter dinheiro. Mas também não haverá economia – e nem banco central, pois não terá o que fazer na falta de moeda. Se combater a inflação for regredir o país à Idade da Pedra, melhor arrumarmos outros métodos – e outros diretores para o BC.

Tudo isso revela o grau de idiotice dessa política, mas não, inteiramente, o grau de perversidade: não é para compensar os empresários pelo que perdem com os juros e o câmbio que o BC quer reduzir os salários. A questão, aqui, é desviar mais recursos da produção para a especulação – e para a especulação da plateia do sr. Mendes, os bancos externos. Se as empresas produtivas falirem, isso não tem a menor importância para a cafua filo-especulativa dos Mendes e Tombini. Que isso conduza, inevitavelmente, a uma crise devastadora, também não, até que ela afete os ganhos financeiros – quando os especuladores sairão em revoada para outras plagas, deixando atrás os ossos do país.

Trata-se de cevar a especulação com a pauperização – inclusive, em certas parcelas de trabalhadores, a miserabilização – ainda maior do povo brasileiro, no momento em que a presidente Dilma propõe a erradicação da miséria. Por isso, arma-se um charivari em torno de uma inflação de 6,5% – que não é grave para a economia, desde que ampliemos o mercado interno, os investimentos e o crescimento.

Para isso, evidentemente, o aumento dos salários é imprescindível. Não há como crescer sem aumentar os salários. No entanto, o crescimento do país é, exatamente, o inimigo da máfia financeira externa e dos seus camareiros no BC.

CARLOS LOPES
NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.horadopovo.com.br
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