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Por 23:06 Sem categoria

Professor da Unicamp denuncia manipulação de jornal contra o SUS

Eduardo Fagnani, do Instituto de Economia, diz que reportagem manipulou relatório do Banco Mundial para induzir leitor a ver fracasso onde, na verdade, houve conquistas na Saúde

O professor Eduardo Fagnani, do Instituto de Economia da Unicamp, diante de uma manchete da primeira página do jornal Folha de S. Paulo, de dezembro do ano passado, decidiu pesquisar o tema e constatou que, segundo, ele, houve  manipulação da informação publicada pelo impresso.

Para Fagnani, a manchete não deixou margem para dúvida: “Ineficiência marca gestão do SUS, diz Banco Mundial”. O texto destaca que essa era “uma das conclusões de relatório inédito obtido com exclusividade pela Folha”. E a mensagem subliminar era clara: o SUS (Sistema Único de Saúde) é um fracasso e o Ministro da Saúde, incompetente, segundo o professor  da Unicamp.

SUS e a CUT– A Central Única dos Trabalhadores defende a valorização e o fortalecimento do SUS, segundo o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, é uma conquista importante da nossa sociedade, fundamentalmente dos trabalhadores e das trabalhadoras. A Central também defende que o Estado cumpra seu papel, oferecendo melhores serviços públicos não somente na saúde, mas também na educação, transporte coletivo e segurança.

Abaixo a íntegra do texto escrito pelo professor:

A curta matéria da suposta avaliação do Banco Mundial sobre vinte anos do SUS é atravessada de “informações” sobre desorganização crônica, financiamento insuficiente, deficiências estruturais, falta de racionalidade do gasto, baixa eficiência da rede hospitalar, subutilização de leitos e salas cirúrgicas, taxa média de ocupação reduzida, superlotação de hospitais de referência, internações que poderiam ser feitas em ambulatórios, falta de investimentos em capacitação, criação de protocolos e regulação de demanda, entre outras.

    Desconfiado, entrei no site do Banco Mundial e consegui acesso ao “inédito” documento “exclusivo”. Para meu espanto, consultando as conclusões da síntese (Overview), deparei-me com a seguinte passagem que sintetiza as conclusões do documento (página 10):

    “Nos últimos 20 anos, o Brasil tem obtido melhorias impressionantes nas condições de saúde, com reduções dramáticas mortalidade infantil e o aumento na expectativa de vida. Igualmente importante, as disparidades geográficas e socioeconômicas tornaram-se muito menos pronunciadas. Existem boas razões para se acreditar que o SUS teve importante papel nessas mudanças. A rápida expansão da atenção básica contribuiu para a mudança nos padrões de utilização dos serviços de saúde com uma participação crescente de atendimentos que ocorrem nos centros de saúde e em outras instalações de cuidados primários. Houve também um crescimento global na utilização de serviços de saúde e uma redução na proporção de famílias que tinham problemas de acesso aos cuidados de saúde por razões financeiras. Em suma, as reformas do SUS têm alcançado pelo menos parcialmente as metas de acesso universal e equitativo aos cuidados de saúde (tradução rápida do autor).

    Após ler essa passagem tive dúvidas se havia lido o mesmo documento obtido pela jornalista. Fiz novos testes e cheguei à conclusão que sim. Constatado que estava no rumo certo continuei a ler a avaliação do Banco Mundial e percebi que as críticas são apontadas como “desafios a serem enfrentados no futuro”, visando o aperfeiçoamento do SUS.

    Nesse caso, o órgão privilegia cinco pontos, a saber: ampliar o acesso aos cuidados de saúde; melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços de saúde; redefinir os papéis e relações entre os diferentes níveis de governo; elevar o nível e a eficácia dos gastos do governo; e, melhorar os mecanismos de informações e monitoramento para o “apoio contínuo da reforma do sistema de saúde” brasileiro.

    O Banco Mundial tem razão sobre os desafios futuros, mas acrescenta pouco ao que os especialistas brasileiros têm dito nas últimas décadas. Não obstante, é paradoxal que esses pontos críticos ainda são, de fato, críticos, em grande medida, pela ferrenha oposição que o Banco Mundial sempre fez ao SUS, desde a sua criação em 1988: o sistema universal brasileiro estava na contramão do “Consenso de Washington” e do modelo dos “três pilares” recomendado pelo órgão aos países subdesenvolvidos. É preciso advertir aos leitores jovens que, desde o final dos anos de 1980, Banco Mundial sempre foi prejudicial à saúde brasileira.

    É uma pena que o debate sobre temas nacionais relevantes – como o sistema público de saúde, por exemplo – seja interditado pela desinformação movida pelo antagonismo das posições políticas, muitas vezes travestido de ódio, que perpassa a sociedade, incluindo a mídia.

    Que o espírito reconciliador Mandela ilumine os brasileiros – e o pobre debate nacional.

Por Eduardo Fagnani, que é  professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (CESIT/IE-UNICAMP) e coordenador da rede Plataforma Política Social – Agenda para o Desenvolvimento (www.politicasocial.net.br). A integra do texto escrito pelo professor foi publicada no portal Carta Campinas.

Notícia colhida no sítio http://www.cut.org.br/acontece/24194/professor-da-unicamp-denuncia-manipulacao-de-jornal-contra-o-sus

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