Sentenças podem ser revogadas ou não por juízes, mas quando são injustas e iníquas, cedo ou tarde serão revogadas pela História.
Diria-lhes que seu poder é imenso, mas fugaz. Daqui a poucas horas, o perderão e vai lhes restar o remorso de terem castrado a liberdade de escolha do povo brasileiro, porque não haverá do que se orgulhar quando olharem um povo ressentido, frustrado. Talvez mesmo desorientado, entregue à sanha selvagem de grupos que são a negação do Direito e da humanidade.
João, Vítor, Leandro – permitam que lhes chame assim, pois não é com as excelências que falo, mas a três homens mais jovens que eu – saibam que seus votos condenando Lula não serão um voto sobre um simples cidadão, mas ao povo brasileiro, de quem será cassado o direito de fazer ou de tentar fazer rebrotar o que já foi sua esperança.
Não será diferente do que já se fez, em outro dia 24, com Getúlio Vargas, por seu alegado “mar de lama”. E bem parecido com o que se fez a JK, caçado até a morte (ou assassinato?) por “corrupção” nunca provada, curiosamente por um apartamento, entre outras calúnias.
E vejam, meus caros, de que serviram estas sentenças? Décadas depois, os mortos sobrevivem e os algozes somem-se na poeira da insignificância que receberam como louros por terem efetivado a execução de símbolos do desejo brasileiro de progresso e justiça, ainda que com os defeitos e imperfeições que aos seres humanos não faltam.
Sic transit gloria mundi, é fugaz a glória do mundo, fazia-se os ungidos papas repetirem no momento de sua sagração. Talvez lhes sobre disso, daqui a anos, os recortes amarelados de um editorial que já ninguém lê, no Estadão, e de uma coluna elogiosa de Merval Pereira. Ou, se um dia escolhidos para o STJ ou, quem sabe, para o STF, a sombra terrível da suspeita de que não foi a mérito, por mais que o possam ter, mas em paga deste voto, a indicação.
Quanto a nós, os milhões de sentenciados em nossos direitos de escolher em quem depositar nossos sonhos, também serão inócuos seus votos, porque nada vai parar o sentimento humano que busca sermos o que aquela esperança apontava: um país, uma nação, um povo, não uma massa amorfa e corrompida por não poder ver o futuro, nem dele sermos os donos.
No seu Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto, escreveu que “não há melhor resposta
que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida”. Mesmo quando é “uma vida severina”, ela rebrota e teima, até que alguém as encarne, aos milhões.
Decidam, amanhã, se tomarão a espada que a elite, o dinheiro, o poder exigem que brandam, impiedosamente, para ceifar o direito de voto de um povo ou se terão na mão a balança que pondera bem e mal ao fazer Justiça.
Podem ser a mão fria que executa a sentença bruta ou a que resiste e detém o golpe monstruoso contra os direitos do povo brasileiro.
Só assim farão História. De outro modo, farão apenas que se retarde o relógio. E, um dia, a História não os absolverá, talvez, mas certamente os esquecerá, como faz a tudo que é contratempo.
Artigo colhido no sítio http://www.tijolaco.com.br/blog/que-espada-nao-ceife-balanca-porque-historia-nao-cortara/
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Reflexão sobre ódio e tutela
Todo mundo – ou quase todo mundo, e invejo as exceções – já teve seus momentos de fúria.
E quase todo mundo que os teve viu que, deles, nunca saiu algo de bom.
Como na música de Dolores Duran (antes que os coxinhas pirem, nada a ver como Tacla Duran), a gente diz coisa que não quer dizer.
No indivíduo, isso passa, embora frequentemente deixe mossas em suas relações. Na sociedade, não: o ódio nos torna potenciais criminosos, como em João, 3: “toda pessoa que odeia seu irmão é homicida”.
Porque o ódio mata, mata não apenas pessoas, mata direitos, mata convívio, mata a empatia, mata a compaixão, mata a paz e, com ela, a capacidade de andarmos juntos em uma só direção.
Não, não confundo ódio com conflito, essa mola que anima a caminhada humana nas idéias, na ciência, na civilização.
Mas entre ideia diferente e “odeia o diferente” vão bem mais do que as poucas letras que os separam.
Vejam: há alguns anos estávamos comemorando milhões saindo da pobreza; festeja-se agora alguns entrarem na cadeia.
Agora, celebra-se o mal: corte nos gastos sociais, perda de direitos no trabalho, sacrifícios aos que se aposentam.
Nem mesmo nos lembramos que tivemos, até 2016, o mais longo período de nossa história em que se pôde escolher livremente quem nos governaria. E olhe que este “mais longo” são apenas 27 anos incompletos.
E talvez a pior das escuridões, onde parte da pretensa intelectualidade adere à ideia de que o povo brasileiro tem de ser tutelado dos “populistas”, governado por tecnocratas (que, claro, dependem de uma lixeira política para cumprirem as formalidades legislativas) e onde uma casta judicial se encarrega de interditar os “corruptos”, isto é o que não podem existir como opção ou os que já não os servem mais, como Cabral ou Eduardo Cunha, bagaços agora.
Francamente, tudo isso é anti-histórico.
E, justamente por isso, só sobrevive à força.
Artigo colhido no sítio http://www.tijolaco.com.br/blog/reflexao-sobre-o-odio/