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Por 12:47 Sem categoria

Que a espada não ceife a balança. Porque à História não cortará

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Se eu pudesse ser lido pelos homens que, amanhã, vão proferir uma sentença que seria apenas mais uma de tantas com que exercem seu poder supremo de condenar, não lhes falaria com ódio.

Sentenças podem ser revogadas ou não por juízes, mas quando são injustas e iníquas, cedo ou tarde serão revogadas pela História.

Diria-lhes que seu poder é imenso, mas fugaz. Daqui a poucas horas, o perderão e vai lhes restar o remorso de terem castrado a liberdade de escolha do povo brasileiro, porque não haverá do que  se orgulhar quando  olharem um povo ressentido, frustrado. Talvez mesmo desorientado, entregue à sanha selvagem de grupos que são a negação do Direito e da humanidade.

João, Vítor, Leandro – permitam que lhes chame assim, pois não é com as excelências que falo, mas a três homens mais jovens que eu – saibam que seus votos condenando Lula não serão  um voto sobre um simples cidadão, mas ao povo brasileiro, de quem será cassado o direito de fazer ou de tentar fazer rebrotar o que já foi sua esperança.

Não será diferente do que já se fez, em outro dia 24, com Getúlio Vargas, por seu alegado “mar de lama”. E bem parecido com o que se fez a JK, caçado até a morte (ou assassinato?) por “corrupção” nunca provada, curiosamente por um apartamento, entre outras calúnias.

E vejam, meus caros, de que serviram estas sentenças? Décadas depois, os mortos sobrevivem e os algozes somem-se na poeira da insignificância que receberam como louros por terem efetivado a execução de símbolos do desejo brasileiro de progresso e justiça, ainda que com os defeitos e imperfeições que aos seres humanos não faltam.

Sic transit gloria mundi, é fugaz a glória do mundo, fazia-se os ungidos papas repetirem no momento de sua sagração. Talvez lhes sobre disso, daqui a anos, os recortes amarelados de um editorial que já ninguém lê, no Estadão, e de uma coluna elogiosa de Merval Pereira. Ou, se um dia escolhidos para o STJ ou, quem sabe, para o STF, a sombra terrível da suspeita de que não foi a mérito, por mais que o possam ter, mas em paga deste voto, a indicação.

Quanto a nós, os milhões de sentenciados em nossos direitos de escolher em quem depositar nossos sonhos, também serão inócuos seus votos, porque nada vai parar o sentimento humano que busca sermos o que aquela esperança apontava: um país, uma nação, um povo, não uma massa amorfa e corrompida por não poder ver o futuro, nem dele sermos os donos.

No seu Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto, escreveu que “não há melhor resposta
que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida”. Mesmo quando é “uma vida severina”, ela rebrota e teima, até que alguém as encarne, aos milhões.

Decidam, amanhã, se tomarão a espada que a elite, o dinheiro, o poder exigem que brandam, impiedosamente, para ceifar o direito de voto de um povo ou se terão na mão a balança que pondera bem e mal ao fazer Justiça.

Podem ser a mão fria  que executa a sentença bruta ou a que resiste e detém o golpe monstruoso contra os direitos do povo brasileiro.

Só assim farão História. De outro modo, farão apenas que se retarde o relógio. E, um dia, a História não os absolverá, talvez, mas certamente os esquecerá, como faz a tudo que é contratempo.

Artigo colhido no sítio http://www.tijolaco.com.br/blog/que-espada-nao-ceife-balanca-porque-historia-nao-cortara/

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Reflexão sobre ódio e tutela

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Todo mundo – ou quase todo mundo, e invejo as exceções – já teve seus momentos de fúria.

E quase todo mundo que os teve viu que, deles, nunca saiu algo de bom.

Como na música de Dolores Duran (antes que os coxinhas pirem, nada a ver como Tacla Duran), a gente diz coisa que não quer dizer.

No indivíduo, isso passa, embora frequentemente deixe mossas em suas relações. Na sociedade, não: o ódio nos torna potenciais criminosos, como em João, 3: “toda pessoa que odeia seu irmão é homicida”.

Porque o ódio mata, mata não apenas pessoas, mata direitos, mata convívio, mata a empatia, mata a compaixão, mata a paz e, com ela, a capacidade de andarmos juntos em uma só direção.

Não, não confundo ódio com conflito, essa mola que anima a caminhada humana nas idéias, na ciência, na civilização.

Mas entre ideia diferente e “odeia o diferente” vão bem mais do que as poucas letras que os separam.

Vejam: há alguns anos estávamos comemorando milhões saindo da pobreza; festeja-se agora alguns entrarem na cadeia.

Agora, celebra-se o mal: corte nos gastos sociais, perda de direitos no trabalho, sacrifícios aos que se aposentam.

Nem mesmo nos lembramos que tivemos, até 2016, o mais longo período de nossa história em que se pôde escolher livremente quem nos governaria. E olhe que este “mais longo” são apenas 27 anos incompletos.

E talvez a pior das escuridões, onde parte da pretensa intelectualidade adere à ideia de que o povo brasileiro tem de ser tutelado dos “populistas”, governado por tecnocratas (que, claro, dependem de uma lixeira política para cumprirem as formalidades legislativas) e onde uma casta judicial se encarrega de interditar os “corruptos”, isto é o que não podem existir como opção ou os que já não os servem mais, como Cabral ou Eduardo Cunha, bagaços agora.

Francamente, tudo isso é anti-histórico.

E, justamente por isso, só sobrevive à força.

Artigo colhido no sítio http://www.tijolaco.com.br/blog/reflexao-sobre-o-odio/

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