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A mídia e os programas sociais

“Programas sociais deixam de fora metade dos miseráveis”. A mesma notícia, publicada por um jornal paulista desta quinta-feira, 23, poderia ter sido anunciada com outro título, absolutamente distinto: “programas sociais alcançam metade dos miseráveis”. Entre estas alternativas de manchete sobre o mesmo fato, no entanto, escondem-se concepções de mundo completamente antagônicas. E vale a pena refletir sobre o assunto para que a gente possa ter muito claro como a mídia brasileira manipula a informação em defesa de seus interesses políticos e ideológicos.
No corpo da matéria, o jornal em questão ainda vai mais longe no seu posicionamento ideológico ao sustentar que “só 50,3%” das famílias com renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo recebiam benefícios. O “só” torna ainda mais evidente a intenção do título da notícia de anular os resultados das políticas sociais do governo Lula e decretar a falência dos programas oficiais. Esta intenção fica reforçada na cobertura de uma página inteira que reserva 1/8 de seu espaço para uma única foto – mãe e criança – legendada com a informação de que a diarista retratada sustenta três filhos com renda de R$ 400,00. A legenda acrescenta que ela tentou duas vezes receber o Bolsa Família e não conseguiu “enquanto tem gente com emprego fixo, carteira assinada e que ganha” (assim mesmo, sem ponto final, sem complemento, sem qualquer cuidado gramatical até).
E mais. Sem qualquer preocupação de contextualizar os dados, compará-los com outros períodos, a matéria busca desvalorizar os resultados dos programas sociais do governo Lula. Resultados que certamente vão influir na disputa eleitoral deste ano e que já estão influindo nas pesquisas de opinião que têm sido publicadas sobre o governo Lula. A reportagem em questão, na sua quase totalidade, quer sustentar que o investimento está desfocado porque metade da população, outros 1,9 milhão de famílias, não está sendo alcançada pelos benefícios. O jornal não explica o porquê, mas elegeu que o foco do benefício deve ser apenas a população com renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo.
As informações disponibilizadas no interior da publicação, no entanto, permitiriam muitas outras leituras, muitas outras manchetes, todas, sem dúvida, favoráveis ao governo Lula. Uma delas: benefícios atingiam, em 2004, 91% dos domicílios com rendimento menor que um salário mínimo. Em 2005 este número pode ter aumentado até porque só o programa Bolsa Família já atendia 8,4 milhões de famílias e espera-se chegar em junho com mais de 11 milhões de beneficiados. Permitiria ainda uma outra abordagem, esta sim, muito mais importante que qualquer outra: uma comparação com os investimentos em programas sociais feitos pelos governos anteriores. Permitiria, por exemplo, mostrar que, enquanto apenas 1,7 milhões de famílias tinham acesso ao bolsa família em 2002, último ano do governo FHC, no ano passado este número já alcançava 8,4 milhões. Mas, pedir este tipo de comparação é pedir demais para este jornal que trabalha diariamente para desconstruir o que é construído pela esquerda em nosso País (no quadro acima, são vistos alguns números comparativos que mostram os avanços sociais em relação ao passado).
Nós, trabalhadores, gostaríamos também que o governo Lula tivesse feito muito mais do que fez estes três anos pelo povo brasileiro. Passamos este tempo todo pedindo mais investimentos no social e menos juros. Uma coisa, no entanto, é a crítica que nós fazemos. Outra é a crítica que a direita expressa diariamente através da mídia. Ela vem orientada por outros interesses e é preciso desconstruí-la diariamente. É quase dispensável anunciar o jornal em questão, até porque ele não é nenhuma exceção. Mas, por uma questão de justiça, o “crédito” é da Folha de São Paulo.
A reflexão vale também para apontar a necessidade de construir instrumentos de acompanhamento da manipulação diária da informação. Nós temos de disputar cada metro desta estrada. E sem ilusão de classe. A disputa é de projetos, o nosso, de esquerda, que quer continuar trilhando o caminho da mudança e o das elites, o da mídia conservadora, que quer manter as coisas como estão e que vai continuar escondendo notícias como, por exemplo, o arquivamento do processo contra o ex-presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, acusado de ter recebido dinheiro de Marcos Valério.
Por Artur Henrique, que é o secretário geral nacional da CUT.

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A mídia e os programas sociais

“Programas sociais deixam de fora metade dos miseráveis”. A mesma notícia, publicada por um jornal paulista desta quinta-feira, 23, poderia ter sido anunciada com outro título, absolutamente distinto: “programas sociais alcançam metade dos miseráveis”. Entre estas alternativas de manchete sobre o mesmo fato, no entanto, escondem-se concepções de mundo completamente antagônicas. E vale a pena refletir sobre o assunto para que a gente possa ter muito claro como a mídia brasileira manipula a informação em defesa de seus interesses políticos e ideológicos.

No corpo da matéria, o jornal em questão ainda vai mais longe no seu posicionamento ideológico ao sustentar que “só 50,3%” das famílias com renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo recebiam benefícios. O “só” torna ainda mais evidente a intenção do título da notícia de anular os resultados das políticas sociais do governo Lula e decretar a falência dos programas oficiais. Esta intenção fica reforçada na cobertura de uma página inteira que reserva 1/8 de seu espaço para uma única foto – mãe e criança – legendada com a informação de que a diarista retratada sustenta três filhos com renda de R$ 400,00. A legenda acrescenta que ela tentou duas vezes receber o Bolsa Família e não conseguiu “enquanto tem gente com emprego fixo, carteira assinada e que ganha” (assim mesmo, sem ponto final, sem complemento, sem qualquer cuidado gramatical até).

E mais. Sem qualquer preocupação de contextualizar os dados, compará-los com outros períodos, a matéria busca desvalorizar os resultados dos programas sociais do governo Lula. Resultados que certamente vão influir na disputa eleitoral deste ano e que já estão influindo nas pesquisas de opinião que têm sido publicadas sobre o governo Lula. A reportagem em questão, na sua quase totalidade, quer sustentar que o investimento está desfocado porque metade da população, outros 1,9 milhão de famílias, não está sendo alcançada pelos benefícios. O jornal não explica o porquê, mas elegeu que o foco do benefício deve ser apenas a população com renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo.

As informações disponibilizadas no interior da publicação, no entanto, permitiriam muitas outras leituras, muitas outras manchetes, todas, sem dúvida, favoráveis ao governo Lula. Uma delas: benefícios atingiam, em 2004, 91% dos domicílios com rendimento menor que um salário mínimo. Em 2005 este número pode ter aumentado até porque só o programa Bolsa Família já atendia 8,4 milhões de famílias e espera-se chegar em junho com mais de 11 milhões de beneficiados. Permitiria ainda uma outra abordagem, esta sim, muito mais importante que qualquer outra: uma comparação com os investimentos em programas sociais feitos pelos governos anteriores. Permitiria, por exemplo, mostrar que, enquanto apenas 1,7 milhões de famílias tinham acesso ao bolsa família em 2002, último ano do governo FHC, no ano passado este número já alcançava 8,4 milhões. Mas, pedir este tipo de comparação é pedir demais para este jornal que trabalha diariamente para desconstruir o que é construído pela esquerda em nosso País (no quadro acima, são vistos alguns números comparativos que mostram os avanços sociais em relação ao passado).

Nós, trabalhadores, gostaríamos também que o governo Lula tivesse feito muito mais do que fez estes três anos pelo povo brasileiro. Passamos este tempo todo pedindo mais investimentos no social e menos juros. Uma coisa, no entanto, é a crítica que nós fazemos. Outra é a crítica que a direita expressa diariamente através da mídia. Ela vem orientada por outros interesses e é preciso desconstruí-la diariamente. É quase dispensável anunciar o jornal em questão, até porque ele não é nenhuma exceção. Mas, por uma questão de justiça, o “crédito” é da Folha de São Paulo.

A reflexão vale também para apontar a necessidade de construir instrumentos de acompanhamento da manipulação diária da informação. Nós temos de disputar cada metro desta estrada. E sem ilusão de classe. A disputa é de projetos, o nosso, de esquerda, que quer continuar trilhando o caminho da mudança e o das elites, o da mídia conservadora, que quer manter as coisas como estão e que vai continuar escondendo notícias como, por exemplo, o arquivamento do processo contra o ex-presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, acusado de ter recebido dinheiro de Marcos Valério.

Por Artur Henrique, que é o secretário geral nacional da CUT.

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