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A hora H

“O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”

Carlos Lacerda, deputado pela UDN, num artigo publicado em 10 de junho de 1950, no jornal Tribuna da Imprensa

Embora a proverbial cautela mineira garanta que “eleição, mineração só depois da apuração”, tudo indica que, dentro de mais ou menos 60 horas, o Presidente Lula estará reeleito para um novo mandato de quatro anos. A vitória culminará um processo político radicalizado que ocupou os últimos 16 meses e demonstrou à farta como a virulência da direita brasileira comumente pisa o terreno do golpismo.

Refletindo sobre a conduta oposicionista dos últimos meses, muitos articulistas políticos não resistem à conclusão de que, entre a velha e a nova direita, ocorrem diferenças quase meramente geracionais. Tomando-se o período de 1946 a 1964 e o que vivemos hoje, percebe-se um discurso bastante semelhante, vincado no moralismo, ora mais atenuando, ora mais extremo. As próprias palavras se repetem. Leia-se o noticiário de hoje e o de 1954, por exemplo, e lá está a expressão “mar de lama” como bandeira de uma direita sempre histérica que se escuda na denúncia da corrupção (como se ela mesma, a direita, não fosse comensal das maracutaias) como artifício para mascarar seus propósitos sempre anti-democráticos, anti-populares e anti-nacionais.

FHC chegou a deplorar a ausência, na atualidade política do País, de um Carlos Lacerda. Estaria o morubixaba tucano saudoso da verve jornalística, da cultura literária de Lacerda, da sua oratória brilhante que sacudia o Congresso Nacional? Não, a carência é outra. FHC, ainda que dissimuladamente, reivindica a metodologia golpista de Lacerda, que conspirou contra todos os presidentes eleitos no período de 1950 a 1964, contribuindo – e em muito – para o suicídio de um (Getúlio Vargas, em agosto de 1954), a renúncia de outro (Jânio Quadros, em agosto de 1961) e a deposição de João Goulart, em março de 1964. A epígrafe que ilustra este artigo é Lacerda em seu estado de maior pureza ideológica, ou seja, na sua feição visceralmente antidemocrática.

Que ninguém se engane: o que está em curso são manobras de fundo golpista que, em linhas gerais, seguem o receituário lacerdista. Primeiro – no início de 2005 – tentou-se evitar que o Presidente Lula se candidatasse. FHC, mais uma vez, foi o porta-voz dessa pressão. Sem sucesso, a direita oportunista aproveitou-se de erros do governo e, sobretudo, de trapalhadas do principal partido da base aliada (o PT) para o sangramento ininterrupto de Lula, na esperança de vê-lo chegar alquebrado às eleições. Sem sucesso, retomam agora teses como a do impeachment, por exemplo, ou representações em série à Justiça de modo a golpear a diplomação ou a posse, ainda que isso possa representar criminosa violação da vontade popular expressa nas urnas. Se, mesmo assim, não obtiver sucesso, a direita já sabe o que fazer: tumultuará o quadro político para impedir que Lula governe. O que se avizinha, portanto, é um confronto político extenso, permanente e radicalizado Percebe-se como o mandamento lacerdista, do qual os tucanos parecem saudosos, foi atualizado: “O senhor Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República, não deve ser candidato à reeleição. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer ao tumulto generalizado para impedi-lo de governar”.

Quando Lacerda falava em “revolução” para impedir Getúlio de governar, queria dizer golpe. E golpe, na época, significava que, na esteira da desordem provocada por políticos direitistas, viriam os militares para depor o Presidente eleito ou forçá-lo, de um modo ou de outro, a deixar o cargo. Mas os tempos mudaram. Hoje os quartéis estão distantes dessas conspirações, não parecem dispostos a oferecer guarida aos que desejam quebrar a ordem constitucional. Por isso, na atualização da diretriz lacerdista, ao invés de “revolução”, propus “tumulto generalizado” como conduta para bloquear o governo, procurando mantê-lo permanentemente sub judice.

Na provocação desse “tumulto generalizado”, a direita conta com um amparo que, em grande medida e com boas vantagens, substitui o apoio perdido nos quartéis: a grande mídia privada, que se encarrega de ampliar e reverberar o discurso conservador, muitas vezes subsidiando e mesmo pautando a conduta de parlamentares, governantes, empresários, intelectuais e demais formadores de opinião alinhados com a plataforma regressiva. É com isso que conta para alcançar o que o ato falho do Senador pefelista Jorge Bornhausen deixou escapar, ou seja, o sonho de “ficar 30 anos livres dessa raça”.

Essa “raça” é o povo, a grande massa de trabalhadores que, com a eleição de Lula, em 2002, alçou-se a um protagonismo político jamais visto no Brasil. O povo e suas lideranças que iniciaram (ainda que com alguns equívocos e avanços aquém do que se desejava) a marcha do Brasil pós-neoliberal. Não é a questão da moralidade que verdadeiramente perturba o sono da direita. Por trás dessa cortina de fumaça (que só aos tontos engana) está, como diriam os antigos, o busílis da situação, ou seja, o que faz tremer o conservadorismo até a medula é a perspectiva do governo Lula, com a poderosa força de uma vitória inquestionável já no primeiro turno, aprofundar o programa mudancista que, no primeiro governo, em função de várias e complexas circunstâncias, talvez não tenha andado com a velocidade e na profundidade pretendidas.

A direita não pode suportar qualquer perspectiva para o Brasil que não seja a redução do Estado, a retomada das privatizações, o corte nos gastos públicos, maior submetimento ao campo dos interesses geopolíticos dos Estados Unidos (com significativa redução da soberania brasileira), implantação da Alça, repressão aos movimentos sociais e outras medidas do receituário neoliberal que alquebrou todos os países que já o aplicaram.

Ocorre que os resultados do governo Lula, a despeito da campanha contrária da grande mídia privada, são reais e chegaram muito concretamente ao bolso, à casa e ao coração dos milhões de eleitores pobres, dos trabalhadores, da classe média empobrecida. Está aí, para citar apenas um exemplo, a Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD), produzida anualmente pelo IBGE, mostrando que o número de pobres caiu em 19%; que 50% dos mais pobres viram sua renda crescer 6,6%; que o nível de emprego foi o maior desde 1996, atingindo 7,5 milhões novos postos ocupados. O controle da inflação, o aumento no salário mínimo e programas como o Bolsa-Família proporcionaram vida melhor para 8 milhões de brasileiros. O ProUni garantiu vaga nas escolas privadas para 204 mil alunos carentes, isto sem falar nas dez universidades públicas e 48 extensões universitárias implantadas. Os números poderiam ser alinhados à exaustão.

De tudo resulta que, neste domingo, na hora H do Brasil, estarão sobre a mesa dois caminhos opostos. Tenho fundadas esperanças de que o povo brasileiro optará por continuar pela esquerda.

Por Luiz Manfredini, jornalista.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.vermelho.org.br.

Por 13:04 Notícias

A hora H

“O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”
Carlos Lacerda, deputado pela UDN, num artigo publicado em 10 de junho de 1950, no jornal Tribuna da Imprensa
Embora a proverbial cautela mineira garanta que “eleição, mineração só depois da apuração”, tudo indica que, dentro de mais ou menos 60 horas, o Presidente Lula estará reeleito para um novo mandato de quatro anos. A vitória culminará um processo político radicalizado que ocupou os últimos 16 meses e demonstrou à farta como a virulência da direita brasileira comumente pisa o terreno do golpismo.
Refletindo sobre a conduta oposicionista dos últimos meses, muitos articulistas políticos não resistem à conclusão de que, entre a velha e a nova direita, ocorrem diferenças quase meramente geracionais. Tomando-se o período de 1946 a 1964 e o que vivemos hoje, percebe-se um discurso bastante semelhante, vincado no moralismo, ora mais atenuando, ora mais extremo. As próprias palavras se repetem. Leia-se o noticiário de hoje e o de 1954, por exemplo, e lá está a expressão “mar de lama” como bandeira de uma direita sempre histérica que se escuda na denúncia da corrupção (como se ela mesma, a direita, não fosse comensal das maracutaias) como artifício para mascarar seus propósitos sempre anti-democráticos, anti-populares e anti-nacionais.
FHC chegou a deplorar a ausência, na atualidade política do País, de um Carlos Lacerda. Estaria o morubixaba tucano saudoso da verve jornalística, da cultura literária de Lacerda, da sua oratória brilhante que sacudia o Congresso Nacional? Não, a carência é outra. FHC, ainda que dissimuladamente, reivindica a metodologia golpista de Lacerda, que conspirou contra todos os presidentes eleitos no período de 1950 a 1964, contribuindo – e em muito – para o suicídio de um (Getúlio Vargas, em agosto de 1954), a renúncia de outro (Jânio Quadros, em agosto de 1961) e a deposição de João Goulart, em março de 1964. A epígrafe que ilustra este artigo é Lacerda em seu estado de maior pureza ideológica, ou seja, na sua feição visceralmente antidemocrática.
Que ninguém se engane: o que está em curso são manobras de fundo golpista que, em linhas gerais, seguem o receituário lacerdista. Primeiro – no início de 2005 – tentou-se evitar que o Presidente Lula se candidatasse. FHC, mais uma vez, foi o porta-voz dessa pressão. Sem sucesso, a direita oportunista aproveitou-se de erros do governo e, sobretudo, de trapalhadas do principal partido da base aliada (o PT) para o sangramento ininterrupto de Lula, na esperança de vê-lo chegar alquebrado às eleições. Sem sucesso, retomam agora teses como a do impeachment, por exemplo, ou representações em série à Justiça de modo a golpear a diplomação ou a posse, ainda que isso possa representar criminosa violação da vontade popular expressa nas urnas. Se, mesmo assim, não obtiver sucesso, a direita já sabe o que fazer: tumultuará o quadro político para impedir que Lula governe. O que se avizinha, portanto, é um confronto político extenso, permanente e radicalizado Percebe-se como o mandamento lacerdista, do qual os tucanos parecem saudosos, foi atualizado: “O senhor Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República, não deve ser candidato à reeleição. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer ao tumulto generalizado para impedi-lo de governar”.
Quando Lacerda falava em “revolução” para impedir Getúlio de governar, queria dizer golpe. E golpe, na época, significava que, na esteira da desordem provocada por políticos direitistas, viriam os militares para depor o Presidente eleito ou forçá-lo, de um modo ou de outro, a deixar o cargo. Mas os tempos mudaram. Hoje os quartéis estão distantes dessas conspirações, não parecem dispostos a oferecer guarida aos que desejam quebrar a ordem constitucional. Por isso, na atualização da diretriz lacerdista, ao invés de “revolução”, propus “tumulto generalizado” como conduta para bloquear o governo, procurando mantê-lo permanentemente sub judice.
Na provocação desse “tumulto generalizado”, a direita conta com um amparo que, em grande medida e com boas vantagens, substitui o apoio perdido nos quartéis: a grande mídia privada, que se encarrega de ampliar e reverberar o discurso conservador, muitas vezes subsidiando e mesmo pautando a conduta de parlamentares, governantes, empresários, intelectuais e demais formadores de opinião alinhados com a plataforma regressiva. É com isso que conta para alcançar o que o ato falho do Senador pefelista Jorge Bornhausen deixou escapar, ou seja, o sonho de “ficar 30 anos livres dessa raça”.
Essa “raça” é o povo, a grande massa de trabalhadores que, com a eleição de Lula, em 2002, alçou-se a um protagonismo político jamais visto no Brasil. O povo e suas lideranças que iniciaram (ainda que com alguns equívocos e avanços aquém do que se desejava) a marcha do Brasil pós-neoliberal. Não é a questão da moralidade que verdadeiramente perturba o sono da direita. Por trás dessa cortina de fumaça (que só aos tontos engana) está, como diriam os antigos, o busílis da situação, ou seja, o que faz tremer o conservadorismo até a medula é a perspectiva do governo Lula, com a poderosa força de uma vitória inquestionável já no primeiro turno, aprofundar o programa mudancista que, no primeiro governo, em função de várias e complexas circunstâncias, talvez não tenha andado com a velocidade e na profundidade pretendidas.
A direita não pode suportar qualquer perspectiva para o Brasil que não seja a redução do Estado, a retomada das privatizações, o corte nos gastos públicos, maior submetimento ao campo dos interesses geopolíticos dos Estados Unidos (com significativa redução da soberania brasileira), implantação da Alça, repressão aos movimentos sociais e outras medidas do receituário neoliberal que alquebrou todos os países que já o aplicaram.
Ocorre que os resultados do governo Lula, a despeito da campanha contrária da grande mídia privada, são reais e chegaram muito concretamente ao bolso, à casa e ao coração dos milhões de eleitores pobres, dos trabalhadores, da classe média empobrecida. Está aí, para citar apenas um exemplo, a Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD), produzida anualmente pelo IBGE, mostrando que o número de pobres caiu em 19%; que 50% dos mais pobres viram sua renda crescer 6,6%; que o nível de emprego foi o maior desde 1996, atingindo 7,5 milhões novos postos ocupados. O controle da inflação, o aumento no salário mínimo e programas como o Bolsa-Família proporcionaram vida melhor para 8 milhões de brasileiros. O ProUni garantiu vaga nas escolas privadas para 204 mil alunos carentes, isto sem falar nas dez universidades públicas e 48 extensões universitárias implantadas. Os números poderiam ser alinhados à exaustão.
De tudo resulta que, neste domingo, na hora H do Brasil, estarão sobre a mesa dois caminhos opostos. Tenho fundadas esperanças de que o povo brasileiro optará por continuar pela esquerda.
Por Luiz Manfredini, jornalista.
ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.vermelho.org.br.

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