Adital – Na defesa do capital e das elites dominantes, a imprensa empresarial e os formadores de opinião vinculados ao pensamento e ao modelo neoliberal, elegem diariamente os principais alvos a serem atacados e abatidos na sociedade, no Estado e nas ações de governo. Essa é apenas uma forma de luta travada nos meios de comunicação de massa e nos demais centros de formação da opinião pública. Interessa para esses setores da direita – mais preocupados com os resultados econômicos do que com a igualdade social e a qualidade de vida do povo – conquistar o máximo de apoio para suas propostas e enfraquecer as posições em contrário.
Neste momento, alguns dos alvos preferenciais da direita são os gastos públicos com a folha de pessoal e com a Previdência, os direitos trabalhistas e a política externa do Brasil operada pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). É claro que o capital e as classes dominantes utilizam outras formas de atuação para defender seus interesses, como o contato direto com autoridades e pressões de toda ordem sobre os poderes da República. Mas a disputa da opinião pública é fundamental para derrubar e vencer resistências na burocracia governamental e nas forças não-neoliberais que integram a base política do governo.
O ataque aos gastos de pessoal e ao “déficit” da Previdência tem um único objetivo, que é a reserva de recursos para “investimentos” nos projetos privados e na manutenção dos privilégios e dos lucros das grandes empresas que tradicionalmente mamam nas tetas do Estado. Na visão desses setores, o dinheiro do tesouro não pode ser destinado ao funcionalismo e aos aposentados e pensionistas, mas deve ser reservado para a reprodução do capital. Quando falam em “rombo” da Previdência, tentam convencer as pessoas de que o orçamento da Previdência deve ser obrigatoriamente equilibrado, que não possa contar com subsídio público – mesmo sabendo que a Constituição de 1988 incorporou ao sistema os trabalhadores do campo. A defesa dessa conquista humanitária e política é fundamental para o povo brasileiro – apesar de toda a ganância do poder econômico.
O ataque aos direitos trabalhistas – novamente na pauta de mídia neoliberal – também tem os seus objetivos na mesquinharia do empresariado. O Brasil, nos anos 90, já “flexibilizou” várias conquistas dos trabalhadores para favorecer o capital; outros direitos não estão sendo respeitados porque o Ministério do Trabalho e a Justiça do Trabalho fazem corpo mole na fiscalização e na punição dos infratores. De qualquer maneira, o que se quer agora é acabar com o 13º salário, as férias e as licenças de maternidade e paternidade, além dos adicionais previstos na CLT, de maneira a potencializar ainda mais os lucros das empresas e acelerar a acumulação do capital. Ou seja, o que o capital quer em pleno século 21 é que se volte às condições de trabalho adotadas nos primórdios do capitalismo, nos séculos 17 e 18. Os trabalhadores, os sindicatos e as centrais sindicais não podem admitir jamais tamanho retrocesso.
O ataque à política do Ministério das Relações Exteriores procura atingir, desgastar e enfraquecer as relações comerciais do Brasil com a América Latina, África e as potências emergentes como a Índia e a China. Toda vez que o Brasil se movimenta nessa direção e amplia sua independência em relação ao comércio tradicional com Estados Unidos e Europa, a grande imprensa empresarial brasileira inicia campanha orquestrada de ataques ao Itamaraty, aos diplomatas e aos estrategistas brasileiros. Os interesses dominantes dos capitais que operam no Brasil insistem que o País deva se manter subordinado aos esquemas comerciais, financeiros e políticos dos Estados Unidos e da União Européia. Esse ataque se torna mais violento agora porque existe uma situação concreta mais favorável para a integração da América Latina, não apenas nas relações de negócios, mas também na construção de projetos comuns para reduzir a miséria, a desigualdade social e a dependência econômica de vários países. O ataque da mídia empresarial e neoliberal não passa de mais uma jogada do imperialismo e das forças que tratam o Brasil como uma simples colônia norte-americana. Não dá para cair nessa armadilha.
O que importa é identificar quais são os interesses e as manobras da direita, rechaçar a mídia que manipula e ampliar a convicção de que o melhor caminho para o Brasil é o da construção de uma sociedade mais democrática, mais justa e mais igualitária, com soberania nacional.
Por Hamilton Octavio de Souza, que é jornalista, professor da PUC-SP e diretor da Apropuc.
ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.adital.org.br.
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