Mineradora financiou material publicitário e cerimônia de lançamento da Campanha da Fraternidade de 2007 da CNBB, que este ano trata da Amazônia. Apesar de considerarem tema como essencial, pastorais sociais divulgaram protesto.
SÃO PAULO – Lançada com o patrocínio da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) nesta quarta-feira (21) de cinzas em Belém (PA), a Campanha da Fraternidade (CF) de 2007 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), cujo tema é Fraternidade e Amazônia – Vida e missão neste chão, dividiu a cúpula e as bases da Igreja e perdeu, entre muitos movimentos sociais, a legitimidade necessária para pautar um debate nacional sobre os grandes problemas da região e suas origens.
Considerada pela base da Igreja um dos principais vetores de desmatamento da Amazônia e co-responsável por crimes como o trabalho escravo, a CVRD patrocinou tanto o material de divulgação da CF quanto a cerimônia de lançamento, através da contratação de uma empresa especializada em eventos. Outro motivo de indignação por parte de várias pastorais sociais foi a escolha do local – a ilha do Cumbu, cerca de duas horas de barco de Belém – e o exclusivismo da cerimônia. Segundo denúncias dos movimentos sociais, foram emitidos poucos convites personalizados, imprescindíveis à participação do evento.
Em documento divulgado no último dia 16, setores da Igreja, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) e o Grito dos Excluídos, entre outros, declararam boicote ao evento. Citando o texto-base da CF, que faz duras críticas à ação do agronegócio, das madeireiras e das mineradoras na região, além de aprofundar a análise dos impactos destas atividades sobre o meio ambiente e, principalmente, as populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas, caboclas e demais comunidades tradicionais da Amazônia, as organizações denunciaram que “entre o discurso do texto-base e a prática manifestada no ato de lançamento da Campanha, há uma contradição muito grande. A organização do lançamento foi entregue a uma empresa de eventos. O lançamento será numa ilha. A participarão no mesmo será restrita aos que tiverem convites. (…) O povo, apresentado como centro no texto-base, com sua rica diversidade de culturas e religiões, onde estará?”
E continua: “O mais grave, no nosso entender, é que este lançamento seja patrocinado pela Companhia Vale do Rio Doce, que é uma das principais responsáveis pela destruição ambiental e por conflitos com as populações tradicionais da Amazônia. (…) A Vale tem viabilizado a construção de uma série de siderúrgicas que utilizam o carvão vegetal para a produção do ferro-gusa. Segundo o cálculo de ambientalistas e de outros estudiosos, são praticamente 300 mil hectares de floresta primária que, a cada ano, são destruídos para a produção de carvão. Algumas dessas siderúrgicas já foram flagradas e multadas pela fiscalização do Ministério do Trabalho por manter centenas de trabalhadores como escravos em suas carvoarias, inclusive crianças. Como é possível que a CNBB aceite o patrocínio de uma empresa como esta para o lançamento de uma Campanha que quer chamar a atenção para a defesa e a preservação do meio ambiente, e para a valorização das comunidades e povos tradicionais da Amazônia?”.
Segundo José Batista, coordenador da CPT de Marabá, as pastorais sociais e as bases da Igreja, que participaram de um complexo e profícuo processo de elaboração do documento-base da CF, foram pegas de surpresa pelo patrocínio da CVRD, principalmente porque a CNBB teria todas as condições financeiras de arcar com os custos da cerimônia.
“A CNBB não precisava disso. O problema é grave: não dá para conciliar o patrocínio da CVRD com o conteúdo e os questionamentos da Campanha. Ela já está prejudicada, teve sua credibilidade comprometida, uma vez que o lançamento dá a cara à Campanha. Se no lançamento se celebra um acordo com os acusados, como levar adiante o debate dos problemas da Amazônia e de seus responsáveis?”, questiona Batista. E desabafa: “como diz o Evangelho, não se pode servir a dois senhores, ao dinheiro e às causas sociais. [A Campanha] não poderia se submeter ao dinheiro”.
Procurado pela reportagem da Carta Maior, o secretário executivo da Campanha, Padre José Carlos Tóffoli, afirmou que as críticas não teriam chegado oficialmente à direção da CNBB, que, por isso, não se pronunciaria.
Para o bem da Amazônia
Centrada no povo da Amazônia, “vítima, com freqüência, de esquecimento e discriminação, de graves conflitos, de violência e de sangue” e nos problemas da ocupação da terra e da exploração dos recursos naturais, onde “muitas vezes impera a lei da selva, a lei do mais forte, por causa da ausência, ou da ineficiência do Estado e de suas Instituições”, a CF sobre a Amazônia, segundo documento da CNBB, pretende nacionalizar um debate ainda espinhoso para o país: a atuação do grande capital na região, o desrespeito às leis e uma realidade onde “pessoas idealistas e generosas, que fizeram da solidariedade social o seu programa de vida e atuação, são vítimas de ameaças e da perda de suas vidas, como acontece com sindicalistas, agentes sociais e missionários, a exemplo de Ir. Dorothy Stang e tantos outros, em toda a Amazônia”.
Liderança social em Santarém e um dos vários religiosos já ameaçados de morte no Pará, padre Edilberto Sena – que divide o “status” com colegas como padre Amaro de Sousa, da CPT de Anapu, padre José Boing, de Santarém, frei Henri des Roziers, da CPT em Xinguara, além de Dom Erwin Kräutler, Bispo da Prelazia do Xingu – adere às críticas dos movimentos sociais à “pisada na bola” da CNBB em relação à Vale do rio Doce, mas acredita que, de qualquer maneira, ter a Amazônia como pauta da principal campanha da Igreja Católica é muito importante para as comunidades da região.
“ A Igreja tem um grande poder de influência, tem uma capilaridade fantástica”, avalia, realçando a importância das denúncias contra o agronegócio, mineração, madeireiras, etc. Por outro lado, porém, estaria faltando à Campanha um questionamento mais direto ao modelo de desenvolvimento implementado na Amazônia pelo Governo Federal, avalia o padre.
“Deveria ser papel da Igreja questionar esta visão elitista do governo, que olha a Amazônia como um saco de onde só se retira riquezas. A decisão obstinada do governo de construir 10 hidrelétricas na região, que servirão ao Sul e ao Sudeste, por exemplo, teria que ser objeto de discussão”, afirma Sena, para quem as críticas à atuação do governo é apenas tangencial.
Por Verena Glass.
NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.agenciacartamaior.com.br.
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Entidades católicas divulgam manifesto com críticas ao lançamento da Campanha da Fraternidade
Brasília – Nove pastorais sociais e organismos eclesiais divulgaram um manifesto, na última sexta-feira (16), criticando a programação do lançamento da Campanha da Fraternidade 2007, hoje (21) na capital paraense.
Eles argumentam que “entre o discurso do texto-base da campanha”, que destaca a reflexão e o conhecimento das comunidades tradicionais e da Amazônia, e a forma como está sendo feito o lançamento da campanha “há uma contradição muito grande”.
“A organização do lançamento foi entregue a uma empresa de eventos. O lançamento será numa ilha. A participação será restrita aos que tiverem convites. O embarque para a ilha será nas Docas, local reservado para as elites do Pará”, afirmam os manifestantes em nota.
Segundo as entidades, “o mais grave” é que o lançamento seja patrocinado pela Companhia Vale do Rio Doce, “que é uma das principais responsáveis pela destruição ambiental e por conflitos com as populações tradicionais da Amazônia”.
“A imprensa nacional noticiou nos últimos meses as ações dos índios Xicrin contra a Vale, e como esta cortou todos os repasses de recursos contratados com os indígenas, só voltando a efetuar os mesmos por decisão judicial”, afirmam no manifesto.
O tema deste ano é Fraternidade e Amazônia. Pela primeira vez em 43 edições o lançamento da Campanha da Fraternidade não é realizado em Brasília. A CNBB escolheu a cidade de Belém (PA), porque o Pará, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o estado que tem o maior índice de desmatamento.
Segundo o presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, Carlos Francisco Signorelli, o lançamento está sendo feito em moldes ostensivos. “O local vai ser fechado para a população. Nós achamos que ele deveria ser feito de uma forma mais eclesial e amazônico”, reclamou.
As entidades não participam do lançamento da campanha de 2007. “Diante disto, decidimos não participar do ato de lançamento, como protesto pela forma como foi organizado, sobretudo pela ausência do povo, o principal sujeito da Campanha da Fraternidade”.
Apesar das críticas, as entidades não são contra a Campanha da Fraternidade, criticam apenas o lançamento. Segundo o manifesto, a campanha é um gesto profético da Igreja no Brasil que ajuda os cristãos e toda a sociedade a refletirem sobre temas da maior relevância social.
Para Signorelli, a Campanha da Fraternidade é fundamental e as entidades contribuem muito para a difusão dela por todo país. “Nós achamos que houve falta de sintonia entre a campanha e a forma de lançamento, pois ela prega que os povos da Amazônia têm muito a dizer pela sua simplicidade”.
Assinam o manifesta a Articulação Nacional da Pastoral da Mulher Marginalizada, a Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), o Grito dos Excluídos e Grito dos Excluídos/as Continental, Pastoral da Juventude Rural (PJR), a Pastoral do Menor e o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM).
Por Clara Mousinho – Da Agência Brasil.
NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO www.agenciabrasil.gov.br.
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Arcebispo de Belém rebate críticas ao lançamento da Campanha da Fraternidade
Brasília – O lançamento da Campanha da Fraternidade 2007, ocorrido hoje (21) em Belém (PA), foi muito menos restrito do que nos outros anos. A afirmação é de dom Orani João Tempesta, presidente da Comissão Episcopal de Cultura, Educação e Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Arcebispo da capital paraense e um dos organizadores do evento, dom Orani rebateu as críticas de movimentos sociais em relação à abertura da campanha, que neste ano tem como tema a preservação da Amazônia. Na última sexta-feira (16), nove pastorais sociais e entidades eclesiais apresentaram um manifesto em que classificavam de elitista a programação do lançamento.
Depois de afirmar que desconhecia o manifesto, o arcebispo disse que a única diferença na abertura da campanha em relação aos anos anteriores é que o evento foi mais amplo. “Todos os anos, damos uma entrevista coletiva na sede da CNBB, em Brasília, para anunciar a abertura da campanha. Desta vez resolvemos fazer a mesma coisa, só que em plena floresta e com mais convidados, como a ministra Marina Silva [do Meio Ambiente] e a governadora do Pará [Ana Júlia Carepa)]”, disse.
No manifesto, os movimentos sociais tinham afirmado que a organização do evento ficara a cargo de uma empresa privada e que a participação na abertura da campanha era restrita a quem tinha convites. No entanto, dom Orani negou que a população tenha sido excluída da Campanha da Fraternidade: “No domingo, as arquidioceses de todo o país vão promover atos públicos para marcar o início da campanha e espero que esses movimentos sociais estejam presentes”.
Sobre o patrocínio da mineradora Vale do Rio Doce à transmissão do evento pela televisão, outra crítica apontada no manifesto, o arcebispo declarou não ter visto problemas. “O patrocínio é algo normal na televisão”, apontou. Ele disse também que não cabe à CNBB julgar as atitudes da empresa: “Claro que esses movimentos sociais podem dizer o que pensam, mas quem julga é a Justiça”.
As entidades que assinaram o manifesto alegaram que a companhia devasta o meio ambiente. E relembraram os recentes atritos com os índios Xicrin, que chegaram a ter a ajuda fornecida pela mineradora interrompida no final do ano passado e só voltaram a receber os recursos após decisão judicial. A Agência Brasil tentou entrar em contado com a Companhia Vale do Rio Doce, mas não obteve resposta.
O manifesto foi assinado pela Articulação Nacional da Pastoral da Mulher Marginalizada, a Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), o Grito dos Excluídos e o Grito dos Excluídos Continental. Também assinaram o documento as seguintes pastorais: do Menor, dos Migrantes, da Juventude Rural e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
As entidades ressaltaram estar descontentes apenas com a forma como se deu o lançamento e destacaram a importância da Campanha da Fraternidade. Segundo o texto, a campanha ajuda os cristãos e toda a sociedade a refletirem sobre temas de relevância social no país.
Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil.
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