Os grandes bancos públicos federais, Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco do Brasil (BB), não querem ficar fora dos novos segmentos do mercado financeiro que estão crescendo de forma acelerada e oferecendo boas perspectivas para os próximos anos. O vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival Alves Pinto, diz que o juro mais baixo tem levado os bancos privados a aumentar a oferta de crédito e diversificar produtos. Para ele, os bancos públicos devem fazer o mesmo e entrar em áreas novas, como na estruturação de operações com papéis para o mercado de capitais.
Pinto comenta que a instituição já começou a atuar nesse mercado. Recentemente, a Caixa estruturou uma operação de notas promissórias de R$ 400 milhões para a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e também participou da montagem de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). O vice-presidente de Controle e Risco do banco, Marcos Vasconcelos disse que a idéia é fortalecer esse tipo de operação, trabalhando inicialmente nos setores de construção civil e saneamento, em que é especialista.
“A intenção da Caixa é se tornar relevante nesse mercado”, ressaltou. Hoje, a instituição está habilitada para trabalhar com instrumentos como debêntures, fundos de recebíveis ou notas promissórias, mas não pode investir em participações acionárias. “A Caixa não tem um banco de investimento e isso é um limitador importante”, observou.
Já o Banco do Brasil não só pode como quer ampliar as atividades de banco de investimento e em renda variável. O vice-presidente de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores do BB, Aldo Luiz Mendes, conta que essa área está sendo reformulada. “Contratamos uma grande consultoria internacional para saber como nos posicionar no mercado de capitais,” disse, defendendo que as unidades aqui e no exterior se voltem para essas oportunidades.
Papel reavaliado
Em meio à movimentação do setor financeiro, especialistas entendem que o papel dos bancos públicos precisa ser reavaliado à medida que o setor privado passa a ocupar novas áreas, antes operadas, prioritariamente, pelos estatais, como crédito imobiliário e agrícola. A opinião é consenso entre os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos, Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria, e o ex-secretário do Tesouro e ex-presidente do Banco do Brasil e do Banespa, Eduardo Augusto Guimarães. Eles acreditam que as instituições públicas se justificam por corrigir falhas de mercado, como a bancarização da população de baixa renda.
Entre os pontos que podem ser reavaliados, Fraga diz que o governo poderia diminuir sua atuação no financiamento às grandes empresas e o investimento do tipo capital empreendedor. Segundo ele, hoje, se o tomador dos recursos for bem estruturado, consegue capital de risco no mercado em boas condições. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atua nas duas áreas.
A CEF, por sua vez, exerce papel de banco público junto à população de baixa renda e à infra-estrutura de saneamento e habitação popular. No entender do sócio da Gávea, mesmo nesses casos é importante contabilizar nas contas do governo os recursos que são usados como subsídio. “Não sou radical em querer fechar banco público, mas sou radical em que é necessário contabilizar direito o que é política pública e colocar isso no orçamento.
Os especialistas preservaram o BNDES de críticas, mesmo assim Loyola acredita que a instituição deve mudar um pouco sua forma de atuar, já que o mercado de capitais está se tornando fonte de recursos de longo prazo para as empresas, o que até há pouco tempo era exclusividade do banco de fomento. “Na medida em que o setor privado está dando crédito de longo prazo, o BNDES pode alavancar mais recursos e investir em maior número de projetos”, argumentou.
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