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28 de fevereiro, o início de uma grande reflexão

28 de fevereiro, o início de uma grande reflexão sobre as condições de trabalho impostas pelos patrões; o que passam as trabalhadoras e os trabalhadores bancários

28 de fevereiro

Dia Internacional de Prevenção às LER / DORT

Tradicionalmente o sofrimento no trabalho sempre foi associado a serviços braçais e pesados. No imaginário da sociedade, somente trabalhadores cobertos de poeira ou tinta em ambientes escuros, feios e sujos, sofrem e adoecem.

No entanto, ao lado de formas muito claras de adoecimento, há outras, que são lentas e pouco perceptíveis. Nos bancos, instalados em modernos e vistosos edifícios, os trabalhadores são convocados a cumprir metas, vender produtos, independentemente da utilidade que eles tenham para os clientes, levam trabalho para casa, extrapolam a jornada de trabalho de seis horas – conquistada com muita luta em 1933 -, imploram a vizinhos e parentes que invistam em algum fundo de investimento e vivem, dia após dia, a ansiedade e a necessidade de serem bons funcionários, produtivos e sobretudo úteis para a empresa. Ficar doente, nem pensar!

As empresas bancárias por sua vez se reestruturam, diminuindo o número de funcionários como se a informatização e a tecnologia os dispensassem. Aos que ficaram, resta trabalhar cada vez mais. Diversas funções e setores são terceirizados e as empresas contratadas precarizam ainda mais as condições de trabalho destes empregados, logo, a conseqüência é a geração de mais adoecimento e afastamentos do trabalho. Os resultados para os clientes são a impessoalidade. Encontram gerentes sempre muito ocupados, enormes filas de espera. A maioria das transações é direcionada para as salas de auto-atendimento. E mesmo assim, as tarifas continuam a ser cobradas, apesar de boa parte o trabalho ser realizado pelos próprios clientes.

Do seu lado, pouco a pouco, sem que se perceba, os trabalhadores vão se desgastando e perdendo a sua força de trabalho. As Lesões por Esforços Repetitivos, as conhecidas LER, são um exemplo dessa forma de adoecimento, lenta, invisível e silenciosa. Acometem os bancários e bancárias que trabalham realizando os mesmos movimentos repetitivos durante horas seguidas, digitando e atendendo ao cliente, tanto no guichê do caixa como pelo telefone, procurando informações na tela do computador, contando notas e moedas, sorrindo para os clientes, sem pausas que lhes permitam recuperação da fadiga física e psíquica.

Trabalham sob pressão contínua para que produzam cada vez mais, substituindo colegas que foram demitidos, sem nenhum poder de decisão sobre a forma de trabalhar e de produzir. As padronizações de procedimentos e as certificações de qualidade dos produtos e serviços ignoram solenemente a vida e a saúde do trabalhador, acentuando o seu papel de mera peça de uma engrenagem azeitada para fazer cada vez mais dinheiro, substituível sem questionamento ao menor sinal de pane. Mais que isso, os bancos têm realizado manutenção preventiva e substituído trabalhadores antes da “pane”, quando é previsível o adoecimento pelo tipo de trabalho realizado.

Essa “pane” tem vários nomes, entre os quais, tendinites, epicondilites, bursites, síndrome do túnel do carpo, neurites, que o Ministério da Saúde e da Previdência Social enquadram como Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Ao contrário de doenças agudas, muitas vezes autolimitadas, estas são crônicas, com evolução arrastada, de tratamento muito difícil e resultados lentos e descontinuados. Os trabalhadores com LER / DORT sofrem com a dor contínua, de forte intensidade, com os formigamentos e dormências, com a falta de força e fadiga mesmo após poucos movimentos e recorrem a vários tratamentos, desde medicações, passando pela fisioterapia, terapia corporal, terapia ocupacional, saúde mental, até as terapias complementares, incluindo acupuntura e shiatsu.

As estatísticas da Previdência Social mostram que das doenças decorrentes do trabalho, entre os trabalhadores do mercado formal assistidos pelo Seguro Acidente de Trabalho (SAT), metade é constituída pelas LER/DORT. O estudo mostra também que mais da metade das LER/ DORT notificadas à Previdência Social acomete os bancários. Os dados apontam ainda que mais de 80% das doenças psíquicas relacionadas ao trabalho ocorrem em bancários.

Longe então de ser uma categoria profissional privilegiada, os bancários sofrem e adoecem com a reestruturação e modernização do setor financeiro. Adoecidos, correm o risco de serem demitidos, deixando para trás sonhos e perspectivas de uma carreira profissional e de uma vida melhor, interrompida por uma organização do trabalho opressora e perversa que domina atualmente o ambiente do trabalho bancário.

Nada se faz?

Muitas iniciativas têm se tomado no sentido de priorizar a saúde do trabalhador no exercício de suas funções profissionais. Cresce o entendimento de que o trabalho deve ser fonte de satisfação pessoal e motivo de crescimento humano. O contrário deve ser combatido, ou seja, não podemos conviver com o trabalho que gera adoecimento, com o trabalho penoso e insalubre, com ritmos alucinantes e que negligencie toda a legislação que protege o trabalhador dos riscos das atividades laborais.

Da parte do poder público, há iniciativas dos Ministérios da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho, com a criação de normas e leis como a que introduziu, em 02/04/2007, o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP, critério de avaliação de incapacidade para o trabalho baseado na ciência da epidemiologia, a publicação da portaria Nº. 9, de 30 de março de 2007 que normatizou a atividade dos operadores em teleatendimento / telemarketing e a realização da 13ª Conferência Nacional de Saúde, que reuniu mais de cinco mil pessoas em Brasília entre os dias 14 e 18 de novembro de 2007.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região têm investido muito no debate junto à categoria sobre a relação saúde e trabalho bancário, elaborando e implementando campanhas contra o Assédio Moral nos locais de trabalho, pela introdução de pausas para descanso, pelo cumprimento da jornada de seis horas, pelo fim das metas abusivas, contra o ritmo intenso do trabalho, por mais segurança nos locais de trabalho, entre outras reivindicações.

Infelizmente, o setor patronal pouco tem dado ouvidos a estas questões e pouco tem feito para acabar com o sofrimento de bancários e bancárias, que aumenta a cada dia dentro dos bancos.

Por Luiz Cláudio Marcolino, que é trabalhador bancário no Itaú e Presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Por Walcir Previtale Bruno, que é trabalhador bancário no Bradesco e Secretário de Saúde do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.cut.org.br.

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