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Dez questões sobre defesa e desenvolvimento nacional

A tecnologia gerada para defesa induz à existência de produtos e serviços de melhor qualidade que resultam em mais riquezas.

Defesa, tecnologia e economia estão historicamente interligadas, segundo uma “lógica circular”: tanto as riquezas naturais quanto as desenvolvidas pela sociedade geram necessidade de defesa que, identificada e aceita pelos dirigentes, provoca desenvolvimentos tecnológicos tendo sempre a ciência como pano de fundo. A tecnologia gerada para defesa induz à existência de produtos e serviços de melhor qualidade que resultam em mais riquezas.

Ensino, ciência, tecnologia e defesa são ingredientes essenciais e interdependentes para que um país atinja a situação de nação democrática, soberana, sem excluídos e com boa qualidade de vida para seu povo.

Para o perfeito entendimento desta interdependência é necessário correlacionar algumas idéias expostas a seguir:

1 – A capacidade de um país se defender depende da conscientização da necessidade de defesa, do grau de satisfação do cidadão e sua crença nas instituições, da identificação com as tradições e costumes nacionais e, particularmente, da capacidade militar de defesa. O grau de satisfação do cidadão muito depende de sua qualidade de vida.

2 – A “boa qualidade de vida” implica na existência de infra-estrutura adequada e utilização de uma “cesta de produtos e serviços” que só é obtida com educação e tecnologia difundidas na população. Sem estes dois “ingredientes básicos” a sociedade não tem capacidade de acumular riquezas de forma sustentada.

3 – Para que esta cesta de produtos e serviços esteja disponível à população em geral é necessário que a maior parte das necessidades seja atendida pelo mercado interno e que haja um histórico de balanço comercial na média positivo, em trocas comerciais com os demais países. A exceção à esta regra corre por conta de países com pequena população ou baixa densidade demográfica, porém pródigos em recursos naturais, enquanto estes existirem. Quanto maior o nível científico e tecnológico de um povo, maior será a sua capacidade de agregar valor aos seus produtos e, por via de conseqüência, maior será a possibilidade de suprir o mercado interno e conseguir um balanço positivo nas trocas.

4 – As populações dos países, que não vivem um “estado latente de beligerância” ou que não sofreram agressões em passado recente, têm dificuldade de assimilar a necessidade de um sistema de defesa e têm uma atitude semelhante à de muitas empresas que faliram por tomar decisões em função do passado e não do futuro. É muito importante que as elites entendam e os formadores de opinião divulguem, que a paz absoluta é ainda um ideal longínquo e que o relacionamento entre as nações se processa em quatro patamares, a saber: relacionamento diplomático e comercial normal, pressão econômica ou diplomática, ameaça e demonstração de força, agressão e ocupação.

A escalada dos patamares é feita em decorrência de motivação econômica, utilizando-se argumentos políticos, religiosos ou raciais para mobilizar as populações.

Como as decisões econômicas são sempre precedidas de análise custo benefício, mesmo que instintiva, um sistema de defesa muito deficiente constitui-se em estímulo à escalada dos patamares.

5 – Entre países não existem leis, porém acordos e tratados que muitas vezes deixam de ser observados podendo acarretar a escalada dos patamares de relacionamento. A existência de instituições e empresas genuinamente nacionais compondo um bom acervo tecnológico tende a inibir as pressões comerciais e a fazer com que as empresas estrangeiras, localizadas no país, sejam estimuladas a observar as leis e os costumes locais, por não se sentirem indispensáveis. A existência de um sistema de defesa adequado amplia a capacidade do estado nacional soberano de fazer cumprir suas leis no mercado interno e também contribui para que as empresas nacionais sejam tratadas com reciprocidade pelos outros países, sobretudo aqueles cujas empresas operam em nosso território.

6 – O comércio de armamentos é sujeito ao controle internacional e representa grande parcela do comércio mundial. O país que não desenvolve e produz seus próprios equipamentos e sistemas dentro de suas fronteiras delega aos países centrais a definição de sua capacidade de defesa.

7 – Os equipamentos de defesa empregam tecnologias modernas e materiais mais sofisticados, que além de caros entram em obsolescência com muita rapidez. A opção de não desenvolvê-los ou produzi-los, mas importá-los, conduz normalmente a um sistema de defesa debilitado, não respeitado internacionalmente, além de gerar gastos desnecessários e subtrair, tanto da comunidade científica e tecnológica nacional quanto das empresas, uma excelente oportunidade para desenvolvimento e negócios. O Brasil só terá capacidade de defesa compatível com a presença de sua economia na comunidade global quando entendermos que os materiais e os sistemas de defesa em muito podem contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico e constituir importante nicho de negócios. A adequada capacidade de defesa é um elemento importante para operarmos como um “global player” no mundo que, desde as grandes navegações e descobrimentos do milênio passado, está cada vez mais globalizado, inclusive em ameaças e agressões.

8 – A “atividade econômica sustentada” só é atingida quando o grau de ensino, o nível científico e tecnológico e o seu grau de difusão na população são adequados e quando existe capacidade gerencial e comercial. A atividade econômica sustentada só é viável em ambiente institucional com regras claras, simples, duradouras e facilmente praticáveis. Este ambiente institucional só é mantido em um estado organizado, democrático e representativo, em que o governo atue no cotidiano, protegendo e estimulando a atividade econômica. A proteção deve ser compatível com as práticas de proteção globalizadas existentes e pressupõe a existência de um sistema adequado de defesa para respaldar sua soberania.

9 – O Estado nacional deve estimular o conhecimento de suas reservas minerais e biológicas, bem como o desenvolvimento das tecnologias para sua transformação e comercialização.

10 – O sistema de defesa é uma apólice de seguros, devendo ser compatível com a economia e com os ativos nacionais. A opção pelo desenvolvimento e pela produção dos nossos sistemas de defesa é a opção pelo desenvolvimento tecnológico e pelo crescimento da atividade econômica.

Por OTHON LUIZ PINHEIRO DA SILVA, que é Vice-Almirante (EN-RRM).

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.horadopovo.com.br.

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