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Em abril, remessas de lucros superam ‘investimento’ externo

Para uma entrada líquida de US$ 3,4 bilhões em Investimento Direto Estrangeiro, foram enviados ao exterior US$ 3,8 bilhões em “serviços” e “rendas”

A entrada de capital estrangeiro em abril – divulgada pelo Banco Central na terça-feira – deixou eufóricos alguns cavalheiros e damas da mídia. No entanto, mesmo do seu ponto de vista, que considera ótimo que o Brasil seja invadido por dinheiro que vem tomar nossas empresas e especular com títulos públicos ou na Bolsa, trata-se de uma euforia de bobo alegre.

Vejamos os resultados: para uma entrada líquida de US$ 3,4 bilhões em Investimento Direto Estrangeiro (já veremos a composição deste IDE), foram remetidos para o exterior US$ 3,8 bilhões em “serviços” e “rendas” – remessas de lucros declaradas ou disfarçadas, na maior parte.

Mesmo se somarmos a entrada de IDE com a entrada de Investimento Estrangeiro em Carteira (IEC) – isto é, com a entrada de dinheiro para fins meramente especulativos -, as remessas para o exterior continuam maiores que as entradas: a entrada líquida de IEC em abril foi meramente US$ 247 milhões. Portanto, somados aos US$ 3,4 bilhões de IDE, temos um total de US$ 3,6 bilhões – e saíram, como mencionamos, US$ 3,8 bilhões.

É verdade que houve uma entrada maior de Investimento Direto Estrangeiro do que nos meses anteriores: em janeiro entraram US$ 1,9 bilhão; em fevereiro, outra vez, US$ 1,9 bilhão; em março, US$ 1,4 bilhão; e, em abril, US$ 3,4 bilhões.

Significativamente, a origem desse dinheiro, em abril, foi principalmente a Europa (Holanda e França). Os EUA ficaram muito abaixo dos europeus – o investimento direto norte-americano líquido (isto é, já descontado o investimento direto que deixou o país com destino aos EUA em abril) foi US$ 286 milhões, ou seja, somente 8,4% do total. O da França foi US$ 438 milhões e o da Holanda, US$ 480 milhões, perfazendo, juntos, 27% do total.

DECOMPOSIÇÃO

Ao que parece, com o sistema financeiro americano em pleno processo de decomposição e com os juros, em quase todos os países, muito abaixo dos brasileiros, os rentiers europeus não viram melhor coisa a fazer do que entrar com dinheiro no Brasil. No entanto, não há indicação de que isso seja uma tendência para os próximos meses.

Apesar desse aumento no “investimento direto”, o que fez com que a entrada de capital estrangeiro fosse maior do que a saída não foi nem o “investimento direto estrangeiro” nem o “investimento estrangeiro em carteira”, e sim os empréstimos, os chamados Outros Investimentos Estrangeiros (OIE), que somaram US$ 3,1 bilhões em abril.

Porém, a composição desses “outros investimentos estrangeiros” é quase acidental. Não são empréstimos de longo, nem mesmo de médio prazo. Quase todos os “outros investimentos estrangeiros”, em abril, foi composto de créditos comerciais de curto prazo, que fornecedores externos concederam a seus clientes – isto é, esses US$ 3,1 bilhões terão, dentro de poucas semanas, de ser pagos, e com juros, o que engordará as remessas para o exterior.

Voltando, agora, aos “investimentos diretos estrangeiros”, eles são constituídos por:

a) Dinheiro para “participação no capital”, isto é, para comprar empresas brasileiras ou aumentar a participação em empresas localizadas dentro do Brasil.

Para isso, houve uma entrada líquida de US$ 1,9 bilhões em abril. A maior parte desse dinheiro foi dirigido para a indústria e, dentro da indústria, mais da metade (60%) foi destinado a um único ramo, a metalurgia (que inclui a siderurgia).

b) O outro componente do “investimento direto estrangeiro” são os empréstimos que as matrizes das multinacionais – ou outras empresas do mesmo grupo – fazem às filiais de empresas estrangeiras instaladas no Brasil.

Desde o início do ano, esses “empréstimos intercompanhias” predominaram crescentemente na composição do IDE sobre o dinheiro para “participação no capital”.

Em janeiro, 46,2% do IDE foi para “participação no capital” e 49,7% foram “empréstimos intercompanhias”; em fevereiro, 49,7% foi para “participação no capital” e 50,2% foram “empréstimos intercompanhias”; em março, respectivamente, 43,2% e 56,7%.

Em abril, pela primeira vez desde o ano passado, o dinheiro para “participação no capital” foi maior (56,5%) que os “empréstimos intercompanhias” (US$ 1,5 bilhão, ou seja, 43,5%). Esta inversão fez com que, no cômputo do ano (janeiro a abril), o dinheiro que entrou para “participação no capital” (US$ 4,4 bilhões) superasse ligeiramente o dinheiro que entrou sob a forma de “empréstimos intercompanhias” (US$ 4,3 bilhões).

É necessário observar, apesar de ser óbvio, que os “empréstimos intercompanhias” terão que ser pagos às matrizes das multinacionais – esta é, aliás, uma das formas mais notórias de uma filial remeter lucros não declarados para a matriz no exterior.

Em abril, somente as amortizações dos “empréstimos intercompanhias” (sem contar os juros) foram 1/3 do que entrou. Isto é, foi remetida para fora, como amortização, uma quantia equivalente a 33% do que entrou.

Quanto ao dinheiro que veio sob a forma de “participação no capital”, ele, evidentemente, será fonte de mais remessas de lucros declaradas – além das disfarçadas. As remessas, aliás, podem oscilar em tal ou qual mês, no entanto, tendem sempre a crescer. Já as entradas, que também, certamente, oscilam, sua tendência não é aumentar, sobretudo quando se considera que a crise dos países centrais está longe do fim.

Porém, esta não é uma má notícia. Não importa o que digam as damas e cavalheiros que mencionamos no início deste artigo, até hoje nunca houve desenvolvimento alicerçado no capital estrangeiro. Simplesmente, porque é impossível – essa não é a função nem a motivação do capital que entra em outro país, atraído que é pela perspectiva de remeter mais dinheiro para a sua matriz do que aquele com o qual aqui entrou.

Por CARLOS LOPES.

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Fevereiro: remessas de lucros continuam espoliando o país

No mês, as multinacionais enviaram às suas matrizes US$ 2,629 bilhões. Entre entradas e saídas, as perdas de recursos para o país chegaram a US$ 1,66 bilhão

A totalização das contas externas de fevereiro, divulgada pelo Banco Central na terça-feira, mostra – ou, antes, confirma – que o grande problema do país, do ponto de vista da sangria de seus recursos para o exterior, é, no momento, o domínio de parcela ponderável da economia, isto é, da produção interna, do comércio interno e dos serviços internos, por empresas externas.

Vejamos as contas de fevereiro:

1) Entraram US$ 1 bilhão e 968 milhões em “investimento direto estrangeiro” (IDE), ou seja, em dinheiro para comprar empresas.

2) Saíram US$ 1 bilhão e 881 milhões que estavam aplicados na Bolsa ou em títulos públicos – o chamado “investimento estrangeiro em carteira” (IEC).

3) Entraram US$ 1 bilhão e 477 milhões em “outros investimentos estrangeiros”, item que inclui os empréstimos de bancos estrangeiros em moeda.

4) Portanto, o saldo do capital estrangeiro que entrou foi de US$ 1 bilhão e 563 milhões.

5) Entretanto, o total de saídas do país nos itens “serviços” e “rendas”, que incluem as remessas de lucros declaradas e as disfarçadas, em fevereiro, foi de US$ 2 bilhões e 629 milhões.

6) Portanto, o país, entre entradas e saídas de recursos, perdeu em fevereiro US$ 1 bilhão e 66 milhões, transferidos para o exterior.

7) O saldo comercial (US$ 1 bilhão e 766 milhões) serviu fundamentalmente para cobrir esse rombo, ao invés de incorporar recursos ao enriquecimento do país.

8) Por último, as reservas monetárias diminuíram US$ 1,4 bilhão. Não há riscos iminentes, as reservas estão acima de US$ 180 bilhões, mas essa redução mostra uma tendência. O motivo é que as reservas atuais não são resultado do comércio exterior, que, como vimos, tem coberto o rombo nas conta externas. A rigor, essas reservas não são nossas, já que são compostas pelos dólares estrangeiros que entraram, e não por aqueles que resultaram de nossas exportações.

O que se pode concluir? Em suma, pode-se concluir que as remessas de lucros estão espoliando o país. Acabou o tempo em que algumas pessoas (estamos nos referindo às bem intencionadas) podiam se equivocar ou se iludir de que a propriedade das empresas – se nacional ou estrangeira – não tinha importância. A diferença é simples: se os lucros vão ser investidos aqui dentro, se vão ficar no Brasil, ou se eles vão, crescentemente, ser enviados ao exterior, para as matrizes das filiais de empresas externas aqui instaladas, em quantidade maior do que o capital que essas empresas trouxeram (pois, caso não fosse assim, por que elas colocariam seu dinheiro aqui dentro?).

Quando até a tradicional rede “Frango Assado” das estradas do interior paulista foi comprada pela International Meal Company, cada centavo de lucro com o pão de semolina ou o espetinho de frango – se é que a rede vai continuar servindo a mesma coisa – incluirá uma parte crescente que será enviada a Boston, onde está a sede do grupo que controla essa companhia americana. E sem que os novos proprietários tenham construído nada. Apenas se apropriaram do que já havia sido construído por brasileiros, para lucrar com o dinheiro dos brasileiros – e enviá-lo para fora.

Evidentemente, existem dezenas, centenas, milhares de empresas muito mais importantes do que o “Frango Assado” que deslizaram para as mãos do capital estrangeiro. O que somente piora a situação. Mas o exemplo, além de pitoresco, não deixa de ser ilustrativo. Por obra do governo Fernando Henrique, desde 1995 o capital estrangeiro está comprando tudo o que lhe passa pela frente em nosso país. Desde as subsidiárias da Telebrás até o “Frango Assado”, passando pela Metal Leve, pela Lacta, pela Abyara – para citar algumas poucas empresas de ramos bastante díspares.

Usando números arredondados, em 1994 as remessas para o exterior foram de US$ 14,5 bilhões; no primeiro ano do governo Fernando Henrique, 1995, foram US$ 18, 5 bilhões;

1996: US$ 20,3 bilhões;

1997: US$ 25,5 bilhões;

1998: US$ 28,3 bilhões;

1999: US$ 25,8 bilhões;

2000: US$ 25,4 bilhões;

2001: US$ 27,5 bilhões;

2002: US$ 23,2 bilhões.

Ao tomar posse, o presidente Lula encontrou a economia do país brutalmente desnacionalizada; durante o seu primeiro mandato, o “investimento direto” diminuiu em relação ao governo anterior. Mas as empresas externas, a maior parte compradas no governo Fernando Henrique, seguiram aumentando as remessas:

2003: US$ 23,4 bilhões;

2004: US$ 26,9 bilhões;

2005: US$ 34,2 bilhões;

2006: US$ 37,1 bilhões.

O IDE voltou a aumentar no segundo mandato do presidente Lula. E também as remessas:

2007: US$ 42,5 bilhões;

2008: US$ 57,2 bilhões.

Em suma, nos 10 anos que vão de 1998 a 2008, saíram do país, sob a forma de remessas – de lucros declarados ou encobertos – US$ 352 bilhões. No mesmo período, em “investimento direto estrangeiro”, entraram US$ 271,1 bilhões.

Esta comparação entre remessas e entradas de “investimento direto” poderia ser acusada de imprecisa, uma vez que as remessas mencionadas também incluem as remessas para fora do capital puramente especulativo (IEC). No entanto, a importância deste é relativa: segundo o BC, suas remessas, nesse período, foram de US$ 33,7 bilhões. Se as subtraíssemos, ainda teríamos uma entrada de US$ 271,1 bilhões, contra uma saída de US$ 318,3 bilhões. Certamente, o “investimento direto” não é a única forma de espoliação do país. Apenas, é a maior e a principal.

Por CARLOS LOPES.

NOTÍCIAS COLHIDAS NO SÍTIO www.horadopovo.com.br.

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