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O Estado é nosso e não dos demônios

Não bastou que Dilma Rousseff tivesse ultrapassado a barra dos 12 anos, a trabalhar para diferentes governos – do Rio Grande a Brasília. O temor orquestrado de que há um espectro a dirigi-la, faria dela o monstro da vez. De novo, como nos idos de 64.

É difícil, em tempos de eleições, manter a boca fechada – ou se isolar na consideração de que o futuro diz mais que o presente, em que afloram paixões; e as opiniões são sempre as de um partido, seja qual for. No tempo da ditadura – a qual ainda não nos desvinculamos, na medida em que, o que é do governo confunde-se amiúde com o que é do estado – e vice-versa – era comum se deparar com o dilema posto por Graciliano Ramos, na boca de Fabiano: “governo é governo” diz o capiau. no “Vida Secas”, diante do soldado inerme, convencido de que vai morrer. Como se sabe, Fabiano desiste de justiçar o soldado. O Governo é o Estado e o Estado é o Governo. Este, na verdade, o drama a que agora junta-se uma espécie de cruzada – de novo – santa. Eis que para ser vencida, Dilma deve ser demonizada. O contraponto seria o mesmo do personagem de Graciliano : uma vez que tenhamos uma presidenta, o governo poderá tudo. “Matar criancinhas” como se dizia dos comunistas, nos idos de 64, é um tema recorrente. Vale para todos os tempos e contextos.

Talvez o espanto seja exatamente o efeito da propaganda. Não bastou que Dilma Rousseff tivesse ultrapassado a barra dos 12 anos, a trabalhar para diferentes governos – do Rio Grande a Brasília. O temor orquestrado de que há um espectro a dirigi-la, faria dela o monstro da vez. De novo, como nos idos de 64.

O espanto, porém, não cessa, mesmo porque a sua essência – a demonização – parece arrostar tudo, a começar pelo arcabouço intelectual, aparentemente infenso a bruxarias, superstições – à propaganda em suma. Fala-se de certos setores intelectuais acoitados tanto nas universidades quanto nessas academias virtuais, digamos, ou seja, os “poetas e escritores oficiais”, os cronistas devidamente encastelados nas colunas de jornais; e que, ao contrário do que nos induziu o Iluminismo desde o século XVIII, lembram o quanto um artista, Francisco de Goya Y Lucientes foi profético ao intitular uma de suas gravuras “O pesadelo da Razão”, ou como ele mesmo escreveu:”El sueño de la razón produce monstros”. Nela um homem vestido a caráter ou o que quer que se considere como tal, é assombrado por uma plêiade de criaturas muito bem caracterizadas em seu sentido simbólico: as corujas – paráfrases da sabedoria que vê através das trevas, e os morcegos – vampiros, a esvoaçarem, a suscitarem a pergunta – onde o bem? e , enfim, um gato. Cabe a ele talvez a parte mais contundente do mau sonho da razão: os gatos são individualistas, solertes (nada contra os bichanos reais, por favor), mas, por isso, a sua associação com as bruxas.

O que se quer dizer, com isso, é óbvio: o mesmo professor de sociologia e política que pontifica suas opiniões a favor do inverídico – que o atual governo engana por ter uma popularidade feita não de propaganda na imprensa – muito antes pelo contrário, como se sabe – mas de apoio da população (ela está comendo, vejam que alienação) – certamente fará o que eles próprios fazem – que é a instrumentação do governo – como se Estado e Governo fossem a mesma coisa. E que em face disso – já que eles acreditam nas mentiras que eles próprios inventam – a mistificação e a retórica continuarão impávidas nos programas televisivos de sempre, aqueles que carregam os “status” da USP, da Unicamp, da PUC, sabe-se lá, e em que o professores devidamente selecionados, de história, de sociologia e filosofia, enfeitarão seus discursos com o palavrório de sempre, harmonizados pelo ar inteligente do entrevistador. Nada de novo, no ar, diz-se-ia; e nem mesmo “os aviões de carreira”.

Mas há muita coisa de novo, sim: a cizânia do mundo intelectual brasileiro nunca foi tão clara, desde que quase todos nos juntamos contra a Ditadura em seus atos mais façanhudos. Mas que não foi capaz de projetar um futuro sem discriminações, preconceitos, ou pior – a tentação fáustica das luzes da ribalta. Pois é disso que se trata agora: uma vez que o velho poeta não tem vez fora dos estritos muros da academia real e da virtual – essa, montada pelos jornalões – cabe-lhe agora o papel de contestador perfumado – aquele que faz sucesso nos salões da moda, onde pontificam o “dernier cri” não só da “jeunesse”, digamos, mas principalmente da “vieillesse doré”.

Nisso tudo há a atração pelo incrível charme da burguesia. E é então que a sra. Dilma Yousseff vira tudo o que há de ruim, ou como sugeriu uma jornalista, tudo que há de mal cheiroso. Por isso, como antídoto, surge uma disponibilidade incrível de discursos demonizantes. Pois há o argumento da razão acadêmica: ele não pode admitir que genialidade nasça fora das muralhas do saber instituído. Se todos os caminhos da suposta “inteligentsia” levam irreversivelmente à Universidade – como admitir o espírito independente, que não se abebera das teses, do palavrório impositivo do mestre laureado, encastelado na razão – ainda que a do pesadelo de Goya?

Diga-se a propósito, que ninguém associa o douto médico, de Molière nas suas “preciosas ridicularias” aos artigos pernósticos e vazios dos licenciados da Sorbonne, de Harward, da USP ou de Salamanca ( para lembrar o Dom Quixote): eles buscam e rebuscam qualquer resquício de pelo em ovo, tudo para manter o espaço sempre bem vindo, desde que invariavelmente confirme o editorial do jornalão. Fecha-se o ciclo: como o jornal tem poder de opinar “oficialmente” na “academia virtual” da mídia, o articulista logo aparece a seus pares, como uma “avis rara”, o mestre, o sábio. A grande mídia confirma-o “ad saecula, saeculorum” na sua aura de grande homem.

No mais, há medo fingido, que, no entanto, todos deveras sentem. A matadora de criancinhas é apenas um mote – mais um – assim como os assusta o sujeito ignorantão que mal cursou o primário e que, no entanto, ora vejam, é até presidente da República: como lidar com um troço desses? Na impertinência popular da fórmula possível, inventam-se panfletos, histórias do arco-da-velha e então ressurge, impávida, a velha cocoróca da Ditadura: já que o Estado somos nós, os que governamos, temos que nos precatar de que eles serão o Estado, já que podem ser o Governo. É o que nos explica nesse vale-tudo pré-eleitoral.

Quando Goya desenhou a sua gravura, o Iluminismo experimentava o que então era o mais contraditório dos mundos: de um lado, Napoleão com as suas tropas a levar a bandeira da democracia para todos as nações que ele invadia, a matar quantos pudesse, para que ela, a democracia, por fim, se impusesse aos povos bestunto. De outro, porém, se instaurava a contradição: onde as razões do Iluminismo, se a mesma razão justificava tudo – inclusive os discursos eruditos e contrários a ela mesma?

Yevgeny Tarlé, historiador russo dos tempos de Stálin, que foi o grande biógrafo de Napoleão, assinalou que quem venceu os exércitos napoleônicas, não fora a Rússia, mas a Península Ibérica, vale dizer, a guerrilha e os exércitos da Espanha e de Portugal – dois países decadentes. Foi na Península que Napoleão teve de manter acantonado um exército de mais de 100 mil homens, com alguns dos mais competente de seus generais. Trocado em miúdos, para hoje: a razão – as boas razões do Iluminismo – afinal, na Península virou realmente um pesadelo como expôs Goya.

Não é seguramente o que estamos vivendo no Brasil – por aqui não temos qualquer guerra, senão a virtual e a da propaganda. Mas já se sabe que o próximo governo – se for da Dilma – terá contra si boa parte do mundo acadêmico, as razões dele – tanto das universidades quanto a da grande mídia. As idéias serão as de sempre: uma boa frase aqui – aquela de que os bebedores do bom uísque se rirão no Happy Hour, uma boutade acolá e sempre com aqueles ares de que a rua não sabe de nada, que quem conhece o mundo é quem o leu sobretudo nos discursos do poder.

O mais, é o terrorismo. Goya traduziu muito bem as loucuras da razão. Confirmaram um século antes o aforismo de Chesterton que dizia, do louco, ser aquele que perdeu tudo, menos a razão. Sobra, porém, o futuro e quem sabe, um governo minimamente decente – não propriamente aquele sonhado pelos intelectuais do sistema: esse sabem que o Estado só será deles se o governo lhes pertencer, como já aconteceu em tempos recentes.

Goya e o pesadelo da razão (http://2.bp.blogspot.com/_B2z2Dd7khck/SdU8-VvtNdI/AAAAAAAAA7E/SwXjbSViGMk/s400/goya-o_sono_da_razao.jpg)

Por Enio Squeff, que é artista plástico e jornalista.

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O Papa e o aborto

É bom que mantenhamos o espírito crítico face a esta inoportuna intervenção do Papa na política brasileira. Mas o povo mais consciente tem, neste momento, dificuldade em aceitar a autoridade moral de um Papa que durante anos ocultou o crime de pedofilia entre padres e bispos.

É importante que na intervenção do Papa na política interna do Brasil acerca do tema do aborto, tenhamos presente este fato para não sermos vítimas de hipocrisia: nos catolicíssimos países como Portugal, Espanha, Bélgica, e na Itália dos Papas já se fez a descriminalização do aborto (Cada um pode entrar no Google e constatar isso). Todos os apelos dos Papas em contra, não modificou a opinião da população quando se fez um plebiscito. Ela viu bem: não se trata apenas do aspecto moral, a ser sempre considerado (somos contra o aborto), mas deve-se atender também a seu aspecto de saúde pública.

No Brasil a cada dois dias morre uma mulher por abortos mal feitos, como foi publicado recentemente em O Globo na primeira página. Diante de tal fato devemos chamar a polícia ou chamar médico? O espírito humanitário e a compaixão nos obriga a chamar o médico até para não sermos acusados de crime de omissão de socorro.

Curiosamente, a descriminalização do aborto nestes países fez com que o número de abortos diminuísse consideravelmente. O organismo da ONU que cuida das populações demonstrou há anos que, quando as mulheres são educadas e conscientizadas, elas regulam a maternidade e o número de abortos cai enormente. Portanto, o dever do Estado e da sociedade é educar e conscientizar e não simplesmente condenar as mulheres que, sob pressões de toda ordem, praticam o aborto. É impiedade impor sofrimento a quem já sofre.

Vale lembrar que o cânon 1398 condena com a excomunhão automática quem pratica o aborto e cria as condições para que seja feito. Ora, foi sob
FHC e sendo ministro da Saúde, José Serra, que foi introduzido o aborto na legislação, nas duas condições previstas em lei: em caso de estupro ou de risco de morte da mãe. Se alguém é fundamentalista e aplica este cânon, tanto Serra quanto Fernando Henrique estariam excomungados. E Serra nem poderia ter comungado em Aparecida como ostensivamente o fez. Mas pessoalmente não o faria por achar esse cânon excessivamente rigoroso.

Mas Dom José Sobrinho, arcebispo do Recife o fez. Canonista e
extremamente conservador, há dois anos atrás, quando se tratou de praticar aborto numa menina de 9 anos, engravidada pelo pai e que de forma nenhuma poderia dar a luz ao feto, por não ter os órgãos todos preparados, apelou para este canon 1398 e excomungou os medicos e
todos os que participaram do ato. O Brasil ficou escandalizado por tanta insensibilidade e desumanidade. O Vaticano num artigo do Osservatore Romano criticou a atitude nada pastoral deste Arcebispo.

É bom que mantenhamos o espírito crítico face a esta inoportuna intervenção do Papa na política brasileira. Mas o povo mais consciente tem, neste momento, dificuldade em aceitar a autoridade moral de um Papa que durante anos ocultou o crime de pedofilia entre padres e bispos.

Como cristãos escutaremos a voz do Papa, mas neste caso, em que uma
eleição está em jogo, devemos recordar que o Estado brasileiro é laico e pluralista. Tanto o Vaticano e o Governo devem respeitar os termos do tratado que foi firmado recentemente onde se respeitam as autonomias e se enfatiza a não intervenção na política interna do pais, seja na do Vaticano seja na do Brasil.

Um abraço bem fraterno.

Por Leonardo Boff, que é teólogo e escritor.

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Bispo divulga carta de apoio a Dilma

Nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar e, depois de 500 anos, nosso povo quer eleger, pela primeira vez, uma mulher que tem compromisso com a vida e provou isso com sua própria vida. Como? Ela não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada. Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor, servindo aos ideais de liberdade e justiça, com sua própria vida. Disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos”. A carta é do bispo de Caçador, Dom Luiz Carlos Eccel.

O bispo Dom Luiz Carlos Eccel, de Caçador, Santa Catarina, divulgou ontem (29), uma carta de apoio à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Segue a íntegra da carta que elogia a recente fala do Papa Bento XVI aos bispos brasileiros e diz que ela aponta para a defesa da vida:

Já havia lido o discurso do Papa Bento XVI, aos Bispos do Maranhão, em visita ad limina apostolorum.

Muito interessante o discurso do Papa. Ele não pode deixar de cumprir sua missão de Pastor Universal, exortando o Povo de Deus, especialmente no que diz respeito à defesa da VIDA.

O Santo Padre foi muito oportuno e feliz nas suas colocações, porque o Estado Brasileiro é laico, mas seu povo é religioso, e isto precisa ser respeitado.

Quando digo que o povo é religioso é porque está disposto a fazer a Vontade de Deus e não somente dizer: Senhor, Senhor…, como às vezes se pretende, de maneira especial dentro da própria Igreja. Existem facções sociais, políticas e religiosas especializadas em fazer lavagem cerebral, deixando as pessoas sem convicções, mas com obsessões, e com a consciência invencivelmente errônea. Ficam semelhantes aos grãos de pipoca que levados ao fogo não estouram, e com mais fogo, mais duros ficam. Tornam-se donas da “verdade”.

Estão até manipulando o texto do Papa, para justificar a sede do poder. (cf. http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp) É a Vontade de Deus que nos salva e não a nossa, e sobre isto precisamos sempre nos exortar mutuamente, como diz o Apóstolo São Paulo. Portanto, que nossa fé seja sempre vivificada pela mútua exortação. Pode ocorrer de nos esquecermos que somos todos peregrinos caminhando para a Casa do Pai, e quando lá chegarmos, poderemos ouvir de Jesus o seguinte: “Afastai-vos de mim, vós que praticastes a injustiça, a maldade” (Lc13,27). Creio que ninguém vai querer ouvir isto naquela hora. Seu passaporte está em dia? Pode ter certeza de que a eternidade existe…

Assim, busquemos alimentar nossa fé, sem esquecer, como diz o Papa, que ela deve implicar na política. A fé sem obras é morta, diz a Escritura Sagrada. E uma das obras que deve provir da fé, é o nosso voto consciente em pessoas que vão governar para o bem comum, respeitando a vida em todas as suas etapas e dimensões.

No mesmo dia em que li o discurso do Papa, assistindo ao telejornal, à noite, escutei o pronunciamento da candidata e do candidato à presidência do Brasil a respeito do discurso do Papa. Ambos concordaram com as Palavras do Papa, dizendo que é missão dele exortar para uma vida coerente com os valores da fé e da moral, e que as palavras do Papa valem para todas as pessoas de fé, no mundo inteiro.

O Papa falou, também, que o voto deve estar a serviço da construção de uma sociedade justa e fraterna, defensora vida.

Como Bispo da Igreja Católica, e como cidadão brasileiro, fico feliz por saber que nosso Presidente tem defendido a vida, e sempre se pronunciou contra o aborto. Nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana. Esta é a Vontade de Deus! E as pessoas, em plena posse de suas faculdades mentais, vão reconhecer esta verdade.

Nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar e, depois de 500 anos, nosso povo quer eleger, pela primeira vez, uma mulher que tem compromisso com a vida e provou isso com sua própria vida. Como? Ela não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada.

Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor, servindo aos ideais de liberdade e justiça, com sua própria vida. Disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos” (Jo 15,13). Obrigado Santo Padre por suas sábias palavras! A Dilma é a resposta para as nossas inquietações a respeito da vida.

Quem sofreu nos porões da ditadura, não mata. Mas teve gente que matou a vida no seu ventre para fugir da ditadura, e portanto não deveria se comportar como os fariseus, que jogam pedras, sabendo-se pecadores. E Jesus disse: “Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem entregar sua vida por causa de mim, vai salvá-la”(Mt 10,39)

Vamos fazer o nosso Brasil avançar ainda mais, com Dilma, que já provou ser coerente, competente e comprometida com a VIDA. O dragão devastador não pode voltar ao poder.

Deus abençoe os leitores e eleitores, governos e governados. Saúde e paz a todos (as)!

Tudo o que você me desejar, eu lhe desejo cem vezes mais. Obrigado.

Caçador, 28 de outubro de 2010

Dom Luiz Carlos Eccel

Bispo Diocesano de Caçador – Santa Catarina

ARTIGOS COLHIDOS NO SÍTIO www.cartamaior.com.br.

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