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A nova MPB é Música é Pra Baixar

O Teatro Mágico é um dos fenômenos musicais mais instigantes dos últimos tempos, principalmente porque seu sucesso decreta de alguma maneira um final para o clássico modelo da indústria musical. A banda que vem de Osasco (cidade industrial da zona Oeste paulista) optou por não se vincular a nenhuma gravadora, se recusa a pagar jabás para tocar nas rádios e pede para o público piratear o seu trabalho na internet.

A fórmula deu tão certo que seus shows estão sempre lotados; mesmo podendo ser baixados gratuitamente, seus CDs são vendidos às dezenas nos shows e suas turnês são cada vez mais requisitadas. Como exemplo, em outubro, o grupo fez três shows no Memorial da América Latina, em São Paulo, cidade na qual já se apresentou dezenas de vezes nesses seis anos de estrada. Aproximadamente seis mil pessoas assistiram ao espetáculo. Tudo sem esquemas com rádios ou TVs. Os instrumentos de divulgação utilizados foram, principalmente, as redes sociais, entre elas o Orkut e o Twitter, onde o Teatro Mágico tinha 14 mil seguidores quando do fechamento desta edição.

O mais interessante ainda é que a trupe não está contente apenas com o sucesso do grupo. Eles querem fazer política cultural e por isso, com outros músicos, criaram o movimento Música Pra Baixar (MPB), que discute, entre outras questões, a política de direitos autorais, a prática do jabá e a necessidade de garantir o acesso do público à produção cultural.

Fernando Anitelli, vocalista e principal letrista, explica um pouco disso tudo a seguir, em que se encontram editadas 2h15 de uma agradável conversa.

Fórum – Conte-nos sobre a formação do grupo e qual a relação dela com sua história pessoal.

Fernando Anitelli – Bom, sempre me envolvi com a área de Humanas e sempre gostei de interpretar, de me comunicar, de poder brincar. Desde moleque gosto muito de música e de teatralizar. Fazia parte do grupo dominical da igreja, sou de uma família evangélica. E musicalmente aprendi muito lá, pois passávamos o fim de semana inteiro tocando. Lá tinha uma bateria, um baixo, instrumentos para o grupo de jovens. Foi uma experiência de troca, colaborativa, ninguém sabia tocar nada, mas a gente foi aprendendo ao mesmo tempo em que formava a banda. Aprendi a tocar bateria, depois comecei a tocar violão. Esse foi o âmbito familiar onde cresci. A partir disso, comecei a frequentar um sarau que acontecia na rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, com o grupo cultural Elenco (no extinto Espaço KVA). Ali foi onde despertei para toda essa questão.

Fórum – Em que ano foi isso?

Anitelli – Foi lá por 1996. Tive a oportunidade de conhecer muita gente que escrevia música e tinha as mesmas dificuldades que eu de entrar no mercado de trabalho. No período em que acontecia o sarau, o forró universitário deu uma despontada. Foi lá que apareceram o Falamansa, o Circuladô de Fulô, o Peixe Elétrico, mas havia outros artistas que não participavam dessa coisa do forró e também estavam ali. Nós víamos que estava acontecendo esse movimento, mas o nosso era outro. A gente pensava na nossa carreira, em fortalecer as raízes, em outra maneira de fazer música. Não pensávamos apenas no sucesso momentâneo.

Essa vivência nesse contexto de troca, de compartilhamento, quando você está no sarau, um faz poesia, o outro entra com a música que tem a ver, e um outro ainda entra com a dança e que parece a poesia, essa experimentação de troca, de abrir espaço para a criação do outro, fez coisas maravilhosas aconteceram. Foi a partir disso que pensei: por que não levar essa experiência do sarau, de misturar as coisas, pro mesmo palco? Como montar algo assim? Foi aí que pensei no Teatro Mágico.

Fórum – Mas o Teatro Mágico tem também um forte componente circense, como se deu a ideia de levar essa lógica do circo para o show?

Anitelli – Estava lendo O Lobo da Estepe, do Hermann Hesse, e há uma passagem em que o personagem se encontra com seus personagens interiores. Ele descobre sua pluralidade e descobre que o homem não é só homem ou lobo, ele é uma junção infinita de personagens que vai escolher interpretar em diferentes dias. Isso me fez pensar em que personagem seria capaz de traduzir essa instabilidade, esse caos interior. E a resposta que encontrei foi o palhaço. Desde a época da Commedia Dell´Arte [hiperlink – A commedia dell‘arte se iniciou no século XV na Itália e se desenvolveu na França, onde se manteve popular até o século XVIII. Era uma forma de teatro popular improvisado e se opunha à “Comédia Erudita”] , o palhaço sempre representou o caos no contexto onde ele está. Se você perguntar se ele sabe andar na corda bamba com uma melancia na cabeça, ele fala que sim, mas não sabe. Ele vai lá e se joga. O palhaço é sempre disposto. Ele é gatuno, malandro, mas é inocente, chora. Essa pluralidade de coisas, do próprio bufão, o bobo da corte, sempre foi a lógica do palhaço.

Fórum – Quando foi a primeira apresentação do Teatro Mágico?

Anitelli – No dia 13 de dezembro de 2003 realizamos a primeira apresentação do Teatro Mágico, que teve 3h30 de show. Foi no Café Concerto Uranus, que fica na Santa Cecília. Parece um lugar velho e acabado, mas quando você entra é um lugar fabuloso. Eu falava pra caramba ao microfone, tinha mais de 40 pessoas vestidas de palhaço no palco, subindo e descendo. O público não sabia quem era quem, os próprios músicos não sabiam.

Fórum – Pelo que estou entendendo vocês montaram o primeiro show sem ter uma banda?

Anitelli – O Teatro Mágico era pra ser um CD de voz e violão. Comecei a gravar, com voz e violão, algumas poesias e a ideia era que a pessoa ouvisse o álbum e sentisse que o que ela estivesse ouvindo poderia acontecer na sala da casa dela. Usamos garfos, facas e panelas como percussão, coisas do cotidiano da pessoa para ela pensar que estava ouvindo um sarau que poderia acontecer na sala da sua casa. No meio do caminho, achei que cabia um contrabaixo, um violino, uma bateria… Quando fui ver, mais de 30 pessoas participaram da gravação do CD. E na segunda fase, que era a da execução, juntei alguns amigos que participaram do álbum, alguns que não participaram, outros amigos do sarau, do teatro, e os que não sabiam nada. De repente éramos 40.

Fórum – Eram 40 pessoas no palco, mas quantas na plateia?

Anitelli – Umas 300. Amigos do sarau, do teatro, amigos que trabalhavam comigo no banco, amigos que esperavam o CD sair (saiu no dia 13 de dezembro de 2003, no mesmo dia do primeiro show). E ainda o povo que me conhecia da banda Madalena 19 e que esperava esse CD sair também.

Fórum – Antes da entrevista você contava que hoje só no site da Trama e do Palco.mp3 já foram feitos mais de 1 milhão de downloads de músicas do Teatro Mágico. Vocês conseguiram muita coisa em menos de seis anos. Na sua visão, isso tem a ver com a opção pela internet como aliada na divulgação?

Anitelli – Percebemos que não poderíamos ficar atrelados à lógica do mercado quando eu fazia parte do Madalena 19 e tocava no Elenko. Naquela época, assinamos um contrato com a Cascatas Records. Eles mandaram a gente para um estúdio e gravamos nove músicas. Quando estávamos gravando a 10ª, o dono ligou e falou que gostaria que tocássemos as canções em formato de forró universitário e ska. Respondi que aquilo não tinha nada a ver com nosso trabalho, mas ele insistiu que deveríamos refazer as gravações. Discutimos e nossas músicas foram engavetadas. Tínhamos um contrato e durante três anos não pudemos soltar nenhuma música pela internet, nos apresentar, distribuir e vender nada. Ao mesmo tempo não recebemos nada por isso também.
Como fomos engavetados, não tínhamos material para divulgar e nem como divulgar. Estávamos presos a eles e não tínhamos recursos pra gravar outro CD e colocar na praça. Mas aí, o seo Odácio, o meu pai, indignado vem um dia e me diz: “Meu filho, é um absurdo saber que um trabalho que você vem buscando a sua vida toda, desde sua adolescência, não pode ser divulgado por causa do contrato. Por isso, coloquei todas suas músicas na internet para que as pessoas possam conhecê-las”. Esse gesto de amor de um pai, querendo que as músicas do filho fossem livres pro público conhecer, de certa forma, deu a essência de todo nosso trabalho futuro. Isso foi em 1999, por aí.

Fórum – Esse processo de liberar as mídias pela internet ainda era muito recente, podemos dizer que seo Odácio foi um visionário radical?

Anitelli – Ele sempre foi. Aí, com as músicas na internet, ele ficava buscando no E-mule, no Kazaa, vendo se alguém as tinha baixado. Foi nesse período que decidi sair do Bradesco, onde trabalhava, e viajei para os EUA pra ser garçom, trabalhar como músico e levantar uma grana para gravar meu CD de maneira independente, autônoma. Foi também nessa época que, em uma outra conversa com o meu pai, disse brincando que “os opostos se distraem”, pois quando nossa proposta de música não se encontra com a do dono da gravadora e ele não tem disposição pra gravar, acontece isso. Mas meu pai retrucou: “então os dispostos se atraem”.
Foi o hai-kai mais bacana que tinha ouvido. Na minha cabeça ficou claro que quem eu precisava buscar era o público. Eles é que iriam ouvir nossa música e divulgá-la. Não era mais o cara do rádio, da gravadora ou o jornalista que iria fazer isso. Por isso, no dia do lançamento do Teatro Mágico, todas as músicas já estavam no site. E o dia do primeiro show também foi o dia do lançamento do CD, do site etc.

Fórum – Enquanto você contava a história lembrei da cena do filme Dois Filhos de Francisco, em que o pai ligava do orelhão para as rádios para pedir que elas tocassem a música dos filhos. Isso não daria resultado hoje, né?

Anitelli – Não, não aconteceria nada. Inclusive já mandamos nosso material para todas as rádios, todas as TVs, e ninguém coloca nosso material na programação. Uma vez ou outra, aparecemos em alguma rádio. Então, o seo Odácio é o Francisco moderno.
Mas, na verdade, jogar só a música na rede para ela se juntar à nuvem de informação não é o suficiente, porque ela vai se perder. Como alcançar o público? A gente fazia temporadas e um show a cada 15 dias no mesmo local onde divulgávamos o CD. Ao pagar a entrada, a pessoa já ganhava o CD. Queríamos divulgar o álbum, pois uma pessoa com ele na mão já acarreta em mais duas ou três que vão ouvi-lo. Se o cara gostar, vai ouvir em casa, com a família, na escola.

Fórum – Vocês não tinham vínculo com nenhuma gravadora nesse momento?

Anitelli – Não. Depois dessa história da Cascatas Records nunca mais tivemos vínculo com nenhuma gravadora. Percebemos com as temporadas que tínhamos tempo de divulgar o trabalho. Participávamos do sarau e fazíamos cortejo por Osasco e pela Vila Madalena, o que deu uma raiz forte ao projeto. Passamos a ser o grupo de Osasco que liberava as músicas na internet, que liberava os CDs nas temporadas. Aliás, gravados na minha casa. Mais de três mil CDs foram feitos assim, a gente deu muitos deles e também vendíamos a preços acessíveis, no início, por 10 reais. Mas saíam só dez por show. Aí o Gustavo [Anitelli, irmão do Fernando e atual produtor do grupo] entrou no Teatro Mágico e já chegou dizendo que o CD tinha que ser mais barato. Passamos a vendê-lo por 5 reais. Nos lugares mais periféricos, mais humildes, a gente vendia por 1 real, às vezes dávamos. Essa lógica de espalhar a música, de ela se tornar um vírus do bem, distribuída na rede, pelo CD a preço acessível, passou a ser nossa bandeira, nosso carro-chefe.

Fórum – A estratégia utilizada pelo grupo foi bem sucedida, indo contra a corrente do mercado musical e cultural. Isso no início era mais para quebrar as correntes e mostrar o trabalho ou também era uma concepção política?

Anitelli – Era um pouco dos dois. Precisávamos quebrar as amarras para entrar no mercado, porque senão não tínhamos nem como existir. Não é à toa que os programas dominicais enchem o povo brasileiro de lixo. Você sabe, por exemplo, que por trás do É o Tchan foi investido 1 milhão de reais para que eles acontecessem? Acho que tem que ter todo tipo de música, todo timbre, inclusive o do É o Tchan, mas não pode ter só aquilo. Quebrando essa amarra, percebemos que aquilo era a nossa única alternativa, nossa bandeira. Fortalecemos essa ideia, amadurecemos, espalhamos e instalamos esse movimento.

Fórum – Há quem diga que essa proposta vale para o Teatro Mágico, mas que não serve como fórmula. Essas mesmas pessoas dizem que o direito autoral é necessário e que não dá para se sustentar através de shows, por exemplo. Queria que você falasse um pouco disso.

Anitelli – Em relação ao direito autoral o que acontece é uma falta de informação dos músicos sobre o que de fato ele é. São milhares de músicos desinformados no país, que anseiam o estereótipo, que querem alcançar a fama. Quem ganha com direito autoral hoje em dia são as pessoas amarradas dentro desse modelo de negócio antigo, que visa à questão do jabá, da veiculação nas rádios, de compra de espaços nas TVs. Essas 100 músicas mais tocadas recebem recolhimentos, direito conexo etc. Nunca vi um fórum de debates, uma oficina para informar os músicos como é que se dá o recolhimento do direito autoral. Tirando gente como Zezé di Camargo, poucas pessoas se beneficiaram de direito autoral. O Teatro Mágico está há três anos fazendo certo sucesso de público e até hoje não tocamos nas rádios. Por quê? Porque não pagamos jabá. Fomos convidados a pagar, já passaram preços de jabá pra gente, mas isso é crime e a gente não paga. Rádios e TVs são concessões para trabalharem a comunicação para o público e, infelizmente, isso não acontece. Falta o músico entender que quem lucra com direito autoral são as editoras e as gravadoras.

Fórum – Vocês se financiam só a partir dos shows?

Anitelli – A gente também tem produtos. Por exemplo, vendemos o CD a 5 reais em um saquinho. Numa versão mais elaborada, com encarte e na caixinha, ele custa 10 reais. O DVD é vendido por 15 reais. Já as camisetas variam de preço, em função do modelo, do número, do estilo, e conseguimos vender porque o preço é acessível. A venda direta garante um preço bom e algum lucro. E quem vende os produtos no show é o meu pai. Só conseguimos fazer dinheiro com o que vendemos na lojinha e com o pessoal que paga para ver o espetáculo. É isso que sustenta o escritório, os 12 artistas que participam do projeto, a nossa equipe técnica, alimentação, transporte, o site, advogado etc. Criamos também a meia-entrada quando o pessoal não leva a carteira de estudante, mas um alimento. O Teatro Mágico, acho, é a única banda que acumula quase 1 tonelada de alimento por mês. Com 10 a 15 shows mensais, como fazemos, arrecadamos quase isso de alimentos.

Fórum – O que fazem com esse alimento?

Anitelli – Eles são doados para orfanatos, asilos, hospitais. E quem os distribui e o próprio público, que se organiza para isso. É fabuloso saber que a gente está construindo isso com o público.

Fórum – O que você acha da política no Brasil?

Anitelli – Sou um cara de esquerda. Sempre estive voltado para esta questão de me inserir dentro dos contextos das minorias, que na verdade são maiorias. O Lula vem fazendo um ótimo governo em muitos pontos, no que diz respeito aos Pontos de Cultura, da própria educação, da fome, da alimentação. Tudo isso é muito interessante e bacana. Lógico, muitos podres no meio do caminho, mas acho que estamos vivendo um momento muito importante. E com Olimpíadas e a Copa as atenções estão todas voltadas pra cá. Temos que estar envolvidos na política, estar contextualizados. Não podemos achar que política é algo que acontece lá longe. Cada um é responsável, sim, indiretamente, por simples mudanças, possíveis movimentações. Tenho essa visão e sempre fui um cara que votei no PT. Também tenho boas relações com o PSOL e com a esquerda em geral. A minha visão sempre foi essa de poder trabalhar nesse campo mais progressista.
Dentro do possível, o movimento MPB, Música Pra Baixar, é o movimento mais político que o Teatro Mágico conseguiu trazer à tona para o seu público e de maneira acessível. Mas não pode ficar só na nossa mão. A gente resolveu construir esse movimento para poder cada vez mais politizar nosso público e potencializar essa discussão para além do Teatro Mágico. Precisávamos dar uma direção para isso e encontramos essa direção por meio do MPB.

Fórum – Qual a sua opinião a respeito da mídia comercial tradicional?

Anitelli – As mídias comerciais tradicionais vivem querendo criar novos talentos, novos sucessos. Por isso, um monte de gente se tranca em uma casa ou num sítio e sai de lá artista, achando que é uma pessoa representativa. É porra nenhuma! Não traz nada de debate, não contribui com nada. O artista autônomo é outra coisa, ele traz consigo o debate. É militante. Não sou artista, sou militante da música. A gente tem que pensar assim, até porque o artista já começa a ter um significado pejorativo hoje.
Alguns colocam 50 pessoas na plateia em lugares onde colocamos 2,5 mil. O Lobão outro dia, em São Paulo, tocou para 400 pessoas. Nós fechamos três dias com seis mil pessoas no Memorial da América Latina. E esgotou tudo. E aí o Lobão é mainstream e o Teatro Mágico, não? O Lobão tem uma boa história e é um ótimo compositor e até ficou longe das gravadoras por vários anos, quando tentou trazer a numeração do CD e batalhou pela independência. Mas ao mesmo tempo só fez isso porque foi chutado da gravadora. Ele não surgiu independente, como o Teatro Mágico e outros grupos que escolheram a independência como projeto. Tanto que hoje voltou pra Sony e passou de novo a defender esse mercado. Outro dia, no Campus Party, falou uma besteira gigante na mesa em que estava. Eu me apresentei e perguntei o que ele achava do jabá. Ele disse que como já somos famosos na internet, uma gravadora poderia aceitar nos contratar e pagar o jabá pra gente. Retruquei dizendo que jabá é crime e que ninguém deve pagar isso, nem a gravadora nem o artista.

Fórum – Além do Lobão, o Fred Zero Quatro também tem assumido uma posição diferente da de vocês em relação ao Música Pra Baixar.

Anitelli – É uma coisa natural, a resistência ao novo. Todas as mudanças, todas as conquistas tiveram briga, porrada, palavrão. É sempre desse jeito. Acho que os jovens sempre estiveram contextualizados nas principais mudanças histórias. O Fred fez esse comentário a partir de uma ótica da história dele. Encontrei com ele no aeroporto e ele me disse que em Recife sempre ficaram à margem de muita coisa. E que não tinham como entrar no contexto do cenário musical nacional. Foi justamente através de uma gravadora, a Banguela Records, do Miranda e dos Titãs, que conseguiram chegar ao resto do país, que conseguiram instrumentos e chegaram à MTV. E isso num momento em que a internet não era tão forte.
A MTV, naquela época, ainda era um canal de TV que prestava. Que até tinha alguma novidade. Hoje em dia, o cara que inventou o YouTube acabou com a MTV. Daí a emissora tem que inventar programas de debate, usar apresentadoras gostosas, essas coisas. Porque ninguém mais vê. Ninguém mais espera um dia inteiro para que um VJ semi-engraçado fale se sua música vai tocar ou não. Além disso, a MTV aparece com o VMB como a festa da música brasileira. Podia se chamar a “festa do jabá nacional”. É impossível fazer uma festa da música sem chamar Gog, um baita rapper, e sem ter Silvério Pessoa. Nós do Teatro Mágico também nunca fomos chamados. Mas também nem quero e não iria.
Agora, me explica, como o melhor artista do ano pode ser o Fresno e a outra banda é o NX Zero, e todas são do mesmo empresário? Que coincidência, né? Já está claro que tudo isso é armado. É uma festa para promover pessoas que não fazem diferença nenhuma na música brasileira. Acho importante trazer esse debate à tona. Parabéns à gravadora que investiu em dois grandes artistas, o Chico Science e o Mundo Livre S/A, mas hoje em dia todo o mecanismo de comunicação que você precisa está às mãos. O grande segredo é não parar de produzir.

Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum de novembro. Nas bancas.

Por Renato Rovai.

NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO http://www.revistaforum.com.br/noticias/2009/12/01/a_nova_mpb_e_musica_e_pra_baixar/

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