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Mulheres ainda lutam pelas mesmas condições de trabalho e de direitos

08 DE MARÇO É O DIA INTERNACIONAL DA MULHER E A FETEC ENTREVISTA MARISA STÉDILE, EX-PRESIDENTE DA ENTIDADE

Em 2012, as mulheres celebram grandes conquistas de gênero, como os 80 anos do Voto Feminino, instituído em 24 de fevereiro de 1932. A permissão era para mulheres casadas, desde que autorizadas pelo marido, e viúvas ou solteiras com renda própria, restrições que continuaram em vigor até 1934. A líder feminista Berta Lutz é apontada como pioneira na luta pelo voto feminino e por igualdade de direitos entre homens e mulheres.

Neste Dia Internacional da Mulher, relembrado no mundo todo dia 08 de março, ainda há muito o que avançar, nas condições de trabalho, na luta pela igualdade de oportunidades e de direitos.

Mas 2012 também marca o segundo ano de mandato da primeira mulher eleita Presidente da República do Brasil. E Dilma Rousseff colocou muitas mulheres em seus ministérios e na gestão de grandes empresas. Atualmente, são 06 mulheres a frente de Ministérios importantes, como Casa Civil, Secretaria de Política para Mulheres, Cultura, Desenvolvimento Social, Meio Ambiente, Planejamento, e nas secretarias especiais de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Comunicação. Recentemente, a presidência da Petrobrás ficou a cargo de Graça Foster.

Participação das mulheres nas lutas – Apesar da ampliação da participação feminina, a atuação das mulheres na política ainda não é paritária. No âmbito legislativo, na semana que antecede o Dia da Mulher, o Senado Federal aprovou o PLC 130/2011, projeto que estabelece multa para empresa que pagar menor remuneração para a mulher que exercer a mesma atividade que o homem. A matéria  aguarda sanção presidencial.

A diferença de participação feminina na luta sindical e política, e a diferença de salários entre homens e mulheres que exercem a mesma função é uma realidade que atinge muitas mulheres em todo o Brasil. E já era uma preocupação na gestão de Marisa Stédile como Presidente da FETEC-CUT-PR, entre os anos de 1997 a 2000.

Marisa foi escolhida presidente no III Congresso da entidade, realizado nos dias 20, 21 e 22 de junho de 1997, em Curitiba. Na ocasião, trabalhadores bancários, maioria dirigentes sindicais, participaram de uma pesquisa quantitativa elaborada pelo Dieese que expôs duas realidades da diferença de gênero: a fraca participação feminina nos sindicatos e a reduzida ocupação de cargos de chefia pelas mulheres nos bancos.

A pesquisa foi respondida por 120 bancários (110 dirigentes e 10 associados), e pretendia avaliar o perfil dos trabalhadores no movimento sindical bancário paranaense. O projeto da nova direção foi considerado ousado e tinha o objetivo de construir uma nova estrutura sindical no estado.  Destes, 97 eram homens e apenas 23 mulheres, 35% na faixa entre 30 e 35 anos, 98% com mais de cinco anos de banco.  8,7% das mulheres bancárias ocupavam cargos de chefia e 4,35% de gerência. Já a participação masculina nas chefias era de 21,05% e 5,26% gerências.

Mesmo com escolaridade maior das mulheres (39,13% tinham curso superior completo e 17,39% pós graduação; entre os homens, 31,58% tinham superior completo e 6,31% pós graduação), as chefias eram visivelmente mais ocupadas por homens.

Contexto histórico – Em 1997, o banco Bamerindus foi transferido ao banco HSBC e tiveram início as privatizações do governo FHC no âmbito nacional: começou pela Vale do Rio Doce, arrematada por um grupo encabeçado pelo banco Bradesco; depois, o banco BANERJ foi vendido para o banco Itaú ainda no ano de 1996.

Para os bancários, a Campanha Salarial durou três meses, com 41 dias de negociação sem proposta. As grandes conquistas foram a complementação salarial para trabalhadores bancários afastados por doenças ou acidente; a assistência médica para demitidos; e o auxílio para requalificação profissional.

Em 1998, FHC se reelegeu e Jaime Lerner também. O Paraná sofreria toda sorte de desmandos que só muito tarde vieram a público. Neste ano, os banqueiros apresentaram a proposta de aumento de jornada para 8 horas diárias. A estratégia da Campanha Salarial, que também durou três meses, foi a luta contra as demissões. O novo benefício conquistado foi a implantação do Programa de Prevenção, Tratamento e Readaptação às LER/DORT.

O ano de 1999 foi marcado pela Marcha dos 100 mil em Brasília, em protesto contra o governo FHC. No final do ano, o Banco do Brasil apresentou dados do desmonte iniciado em 1994, o qual ocasionou a demissão de 49,9 mil funcionários.

Em dezembro de 1999, Marisa Stédile solicitou seu afastamento da presidência da FETEC para assumir novas funções como Conselheira eleita pelos trabalhadores no banco Banestado, privatizado em 17 de outubro de 2000.

Uma mulher na presidência da FETEC – Marisa Stédile é a atual secretária de Políticas Sindicais da FETEC e secretária geral da CUT-PR. A FETEC tem participação feminina em sua direção executiva desde sua fundação, com destaque para Clair Salete Antonietti, que participou da fundação da entidade, em 1992, assumindo a Secretaria de Assuntos Jurídicos. Clair continuou na direção da FETEC nestes 20 anos, é secretária de Imprensa e Comunicação da entidade, e atualmente está afastada para tratamento de saúde.

Atualmente, a FETEC possui cinco mulheres da direção executiva, quatro no conselho fiscal e outras 12 companheiras na direção estadual. Além de Clair, muitas mulheres exerceram papel de destaque na entidade, como Alba Legnani, Thaís Lima, Eliana Maria dos Santos, Lidiane Lopes, Rita Alvarez, Izabel Lima, Audrea Louback, Maeve Vicari, Margarete Segalla Mendes, Sonia Boz, Maria de Fátima Costamilan (atual secretária de Políticas Sociais), Isabel Gregório, Karla Huning, Denívia Barreto (atual secretária de Organização do Ramo Financeiro) e Dulcelina Oliveira (atual secretária de Saúde e Condição de Trabalho).

Mas Marisa Stédile foi a primeira e, até o momento, única mulher que assumiu o desafio de presidir a Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná nesses 20 anos de atuação da entidade.

Em sua gestão, de 1997 a 2000, ela mesma destaca como principais momentos a grande luta contra a privatização do Banestado, e o reconhecimento da FETEC como entidade sindical de grau superior.

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 08 de março, a FETEC resgatou as memórias desta grande ativista dos movimentos sociais no Paraná, Marisa Stédile. Confira entrevista com a dirigente sindical bancária, que recorta alguns momentos de sua gestão na presidência da FETEC.

FETEC-CUT-PR: Você foi a primeira e até então única mulher a assumir a presidência da Fetec desde sua fundação. Como foi conquistar esse espaço no movimento sindical bancário?

Marisa Stédile: Em 1997 vivíamos um momento muito difícil para o movimento sindical e a classe trabalhadora como um todo. Os salários arrochados, os bancos demitindo, com e sem Programa de Demissão Voluntária (PDV), o governo federal privatizando empresas estatais e aqui no Paraná o governo Lerner entregando as nossas empresas, entre as quais o Banestado, onde eu trabalhava. Foi um período em que tivemos de resistir.

O debate sobre gênero e igualdade de oportunidades estava apenas começando. Naquele ano a CNB (Confederação Nacional dos Bancários) constituiu a primeira Comissão de GROS (Gênero, Raça e Orientação Sexual), e eu fazia parte dela. Outro debate emergente era o assédio moral. Não se discutia muito e a FETEC/PR foi pioneira neste debate, levando para a Conferência Nacional dos Bancários de 1998 a preocupação de incluir o assunto nas pautas.

Considero que minha participação nas lutas daqueles anos foi muito
importante para os homens e as mulheres, de lá para cá avançamos e
conquistamos muitos direitos.

FETEC-CUT-PR: Por que poucas mulheres bancárias atuam diretamente nas bandeiras de lutas, já que mesmo sendo maioria na categoria não se representam nos sindicatos como maioria?

Marisa Stédile: As mulheres são vítimas da dupla jornada e dos compromissos da maternidade. Nós bancárias estamos submetidas às exigências sempre maiores de qualificação profissional, isso ocupa todo o tempo das bancárias.

A luta política, quando levada a sério, exige muita dedicação e disponibilidade de tempo. Mesmo assim, já temos a cota de 30% de gênero como prática na CUT, e que é também adotada pelos sindicatos dos bancários. Um grande esforço deve ser feito nos próximos anos para atingirmos a paridade nas representações sindicais.

FETEC-CUT-PR: Como incentivar mais mulheres a lutar por melhores condições de trabalho e igualdade de condições e oportunidades?

Marisa Stédile: Hoje no Brasil temos a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres com status de Ministério. Esta secretaria foi criada no governo Lula, ele mesmo um grande entusiasta pela inclusão das mulheres e pela superação das desigualdades. Esta secretaria tem uma infinidade de projetos que visam ampliar a participação das mulheres em espaços de decisão.

Digo isso para explicar que para mim a superação das desigualdades de gênero deve ser contemplada em políticas de Estado.

Por Paula Zarth Padilha.

FETEC-CUT-PR

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