Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O Brasil pode deixar de ser o maior consumidor mundial de agrotóxicos e se tornar o maior produtor de alimentos saudáveis. Para que o país viva uma “verdadeira revolução ecológica” é preciso investir no desenvolvimento da agroecologia, destaca o professor Fernando Ferreira Carneiro, chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB). Ele é um dos responsáveis pelo dossiê que será lançado hoje (27) durante o Congresso Mundial de Nutrição, no Rio de Janeiro, reunindo diversos estudos sobre os riscos do uso do agrotóxico no país.
O documento também será apresentado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), marcada para junho, no Rio de Janeiro.
“Há alternativas para alimentar o mundo sem agrotóxicos e a agroecologia é o caminho que pode gerar um novo modo de vida. O Brasil vive uma situação muito crítica, com o uso descontrolado de agrotóxico no campo. Mas é possível mudar essa condição com investimento e apoio à política estratégica da agroecologia”, destacou.
O professor explicou que a agroecologia é baseada em práticas sustentáveis, que envolvem o manejo ecológico dos recursos naturais e formas de ação coletiva desde a produção até a circulação dos produtos.
“O setor da agricultura camponesa e familiar, que é responsável por abastecer 70% da mesa do brasileiro, não conta com os mesmos incentivos que o agronegócio no Brasil”, lamentou.
O presidente da Associação Brasileira de Orgânicos (Brasilbio), José Alexandre Ribeiro, defende o resgate e o desenvolvimento de tecnologias que respeitem a biodiversidade local como forma de garantir a sustentabilidade das lavouras, além da qualidade dos alimentos consumidos pelos brasileiros.
“O uso de agrotóxicos, além de contaminar os alimentos, está destruindo a nossa biodiversidade. O produtor rural precisa entender que a erva daninha pode não ser prejudicial, mas algo que nasce para beneficiar o solo; entender que a terra tem sua biodiversidade que contribui para a produção, ajuda a planta a se alimentar e a produzir um alimento saudável. Temos que resgatar e desenvolver tecnologias baseadas nessa cultura”, defendeu.
Um exemplo de agricultura sustentável que vem dando bons resultados é o plantio do chamado “feijão maravilha”, em Rio das Ostras, cidade da Região dos Lagos fluminense. Por meio do Programa de Incentivo ao Plantio, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca, cerca de 70 produtores rurais, utilizando grãos de qualidade e sem aplicar nenhum tipo de agrotóxico, têm conseguido aumentar a produtividade e a renda familiar.
Criado em 2005, o programa oferece aos agricultores o maquinário necessário para preparar o solo, além das sementes, do adubo e da assistência técnica. Ao produtor cabe a responsabilidade pelos cuidados com a lavoura. De acordo com a secretaria, em 2011 foram plantados 84 hectares e a produtividade chegou a 1.250 quilos por hectare (kg/ha), mais do que o dobro da média do estado, em torno de 600 kg/ha.
A agricultora Ziena Rodrigues, de 75 anos, que participa do programa desde o início, disse que a experiência local é a prova de que é possível “produzir sem veneno”. “A gente tem apoio na aração, na plantação e na venda. É possível plantar sem essas químicas, porque aqui dá muito feijão e ninguém bota veneno de espécie nenhuma.”
Ela explicou que é preciso “carinho com a terra e respeito ao seu tempo” para garantir a colheita. “Temos que capinar no tempo certo, plantar no tempo certo e esperar a colheita secar bem. A dica é fazer ao controle da capina, capinar bem e na hora certa”, contou, acrescentando que sua produção aumentou 100% desde que entrou para o projeto.
“Hoje, eu planto um quadrado pequeno de meio hectare e costuma dar uma tonelada de feijão, o que é muito bom. Este ano plantei 1,5 hectare e estou esperando colher 4 toneladas”, disse.
Para estimular as pesquisas, a produção e o uso de defensivos agrícolas de origem natural em substituição ao agrotóxico sintético, a senadora Ana Rita (PT-ES) propôs a criação da Política Nacional de Apoio ao Agrotóxico Natural. O objetivo é desenvolver novas tecnologias de baixo custo para o produtor rural, aumentar a produção agrícola livre de defensivos agrícolas e reduzir a contaminação do meio ambiente. Ela propõe que as pesquisas sejam financiadas com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do Fundo Nacional de Meio Ambiente.
A política também prevê a liberação de linhas de crédito com taxas de juros menores para os agricultores que comprovarem utilizar agrotóxicos naturais.
Segundo a senadora, o projeto está na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal. Se aprovada, a matéria tramitará nas comissões de Ciência e Tecnologia e de Agricultura e Reforma Agrária, antes de ir para a discussão em plenário.
Edição: Juliana Andrade
Ainda faltam estudos sobre males causados por agrotóxicos aos consumidores, alerta professor
Pesquisador da USP diz que uso abusivo de agrotóxicos no país está relacionado ao modelo agrícola
NOTÍCIA COLHIDA NO SÍTIO http://agenciabrasil.ebc.com.br