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Fundo do BRICS impulsionará reformas no sistema financeiro internacional

Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O diretor executivo do Brasil e de mais oito países no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira, disse hoje (31) que a criação de um fundo conjunto dos países do grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) poderá estimular reformas no sistema financeiro internacional. “Se isso vier a se concretizar, significa criar um caminho próprio para esses cinco países, o que coloca o sistema sob pressão para refletir melhor a realidade do mundo contemporâneo”.

Nogueira participou de seminário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) sobre a agenda internacional do Brics promovido pela Fundação Alexandre Gusmão (Funag), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores.

O anúncio da proposta de se criar um fundo de reservas dos cinco países emergentes foi feito em junho durante reunião preparatória para o encontro do G20, ocorrido em Los Cabos, no México.

Para o diretor, no entanto, essa medida não significa uma ameaça aos mecanismos de financiamento atuais, como o Banco Mundial e o FMI. “Não me preocupa nada o esvaziamento dessas entidades, porque são burocracias muito sólidas. O que essas iniciativas do Brics podem ajudar é mover essas instituições no sentido de uma transformação”.

Ele citou como exemplo da necessidade de mudança a eleição para presidente e diretor-geral das instituições. “Na sucessão recente do presidente do Banco Mundial viu-se isso. Prevaleceu a regra absurdamente anacrônica de que o cargo de presidente do banco é reservado a um norte-americano, assim como o de diretor-geral do FMI a um europeu”.

Durante o seminário, o diretor do FMI falou ainda sobre as expectativas do fundo sobre a economia brasileira. Ele estima que os próximos 18 meses serão de recuperação para o Brasil, devendo crescer a uma taxa de 4% a 4,5%. “Esse cenário é plausível porque o governo adotou diversas medidas de estímulo, cujo efeito deve se fazer sentir, sobretudo, no terceiro, quarto trimestres de 2012”.

Nogueira acredita que essas projeções somente seriam alteradas com um cenário “catastrófico na zona do euro”, como o aprofundamento da recessão ou com a saída de algum país. Na avaliação do diretor, outra situação externa que poderia interferir na estimativa de crescimento no Brasil é um crescimento inferior da China e Índia.

“A China tem crescido 10% ao ano, a Índia em torno de 8%. Muito abaixo disso o cenário se modifica. Sobretudo no caso da China, porque o Brasil tem relações comerciais bastante intensas”.

Edição: Rivadavia Severo

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Economista Fernando Nogueira da Costa lança livro “Brasil dos bancos”

Luiz Sérgio Guimarães
Valor Econômico

Bancos do Brasil ou Brasil dos bancos? A internacionalização recente pode conter parte relevante da resposta à questão que Nogueira da Costa propôs a si mesmo.

Fernando Nogueira da Costa dedica-se a estudar os bancos brasileiros há 34 anos. Sua dissertação de mestrado, defendida em 1978, já tinha por objeto de estudo os bancos privados de Minas Gerais. Quem orientou a tese foi a então professora de mestrado da Unicamp Maria da Conceição Tavares.

E é Conceição quem apresenta seu ex-aluno nas orelhas do livro. Ficamos sabendo por ela que, no início dos anos 2000, Costa “tornou-se um militante ativo na desmistificação do neoliberalismo e na defesa dos bancos públicos”. Embora tenha mais de 500 páginas, “Brasil dos Bancos” é apenas a síntese das pesquisas de Costa sobre a área bancária.

O que detonou seu interesse pelos bancos foi o gatilho da perplexidade desencadeada por uma contradição: os bancos mineiros, sediados em uma economia mais frágil, eram então os maiores bancos privados do Brasil. Nos anos 1980, novo desafio: a crise dos bancos estaduais e o incandescente debate em torno de sua privatização.

O caso Banespa forneceu vasto material à sua tese de doutorado, em 1988. O trabalho que havia começado na sala de aula em 1976 não parou nunca, avança pelos dias atuais, já que o setor bancário mantém-se em permanente ebulição.

Na primeira metade dos anos 1990, Costa pesquisou a diversificação setorial dos grandes grupos bancários privados nacionais. Na segunda metade, estudou a crise e a quebra de grandes bancos, as privatizações dos estaduais, a concentração e a desnacionalização bancária. E, neste século, dedicou-se a defender as instituições federais das ameaças de privatização.

Costa não se refugia no conforto da redoma acadêmica: entre 2003 e 2007, ocupou a vice-presidência de finanças e mercado de capitais da Caixa Econômica Federal, ao mesmo tempo em que atuava como diretor-executivo da Febraban.

O livro não é de historiador, mas de economista: ao mesmo tempo em que estuda a genealogia e a trajetória dos bancos de maior relevância, busca nas experiências passadas luzes para compreender os acontecimentos atuais, para poder, assim, imaginar o futuro. Está dividido em três grandes partes.

A primeira analisa o papel do Estado na constituição do sistema financeiro nacional, descreve a atuação do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal e explica o ciclo histórico dos bancos estaduais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, de suas origens até a privatização.

A segunda parte trata dos bancos privados. Reconstitui a história das joias da coroa bancária nacional: Real (hoje Santander), Bradesco, Itaú, Unibanco e Safra. E também do fracasso dos antigos impérios Econômico, Nacional e Bamerindus. Trata, nesta seção, da desnacionalização do varejo bancário brasileiro.

Na terceira parte, o foco ganha um viés mais macroeconômico, ao consolidar a trajetória dos bancos com a própria história monetária do país. É nessa parte que Costa aborda os grandes temas da atualidade: o acesso da população aos bancos, a evolução tecnológica, as novas formas de manutenção da riqueza, a evolução do crédito e a formação da taxa de juros dos empréstimos.

Depois de esmiuçada toda a história dos bancos brasileiros, Costa se ocupa dos impactos da crise global deflagrada em 2008 sobre o sistema bancário do país. O colapso de Wall Street secou o crédito mundial e o brasileiro. Mas os seus efeitos foram ainda mais perversos sobre as pequenas e médias instituições, já abaladas, quatro anos antes, pela bancarrota do Banco Santos.

Restaram a elas poucas opções para obtenção de “funding”: vender as carteiras de crédito, sobretudo de consignados, para antecipar liquidez; colocar no mercado de capitais fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDCs), formados pelos recebíveis que conseguiam arrumar; captar recursos no exterior e abrir o capital na Bolsa. A venda das carteiras aumentou a concentração do crédito no país. De lá para cá, a cada conjuntura de desaquecimento econômico, como agora, o problema ressurge.

A crise financeira global deu novo impulso à consolidação bancária. A maior foi a fusão do Itaú com o Unibanco, anunciada em 3 de novembro de 2008. Mas ocorreram outras de grande porte: a compra do Real pelo Santander e a da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil.

O Bradesco perdeu a liderança entre os bancos privados. Com oportunidades restritas de aquisições, sobrou ao banco da Cidade de Deus a opção de focar sua expansão no crescimento orgânico e em políticas agressivas de marketing e de preços. Mas não deflagrou uma guerra de preços e tarifas. Optou por colocar ênfase na qualidade dos serviços prestados. Essa guerra seria declarada depois, já no governo Dilma, pelos bancos estatais.

No cumprimento de sua missão de irrigar de liquidez a economia, para combater o estreitamento do crédito, os bancos públicos ganharam mercado depois da crise externa. “A atuação dos bancos estatais não foi só anticíclica. Aproveitaram a oportunidade de inibição dos bancos privados para disputar e ganhar mercado”, diz Costa. E não pararam mais, como prova a ofensiva atual pela derrubada dos “spreads” bancários.

A crise mundial, ao intensificar a consolidação bancária no Brasil, forjou gigantes impossíveis de serem comprados por instituições estrangeiras. O contrário mostra-se mais factível, pois abriu-se uma nova fase da história: a da internacionalização dos bancos brasileiros. Esta é a chave para se decifrar o enigma proposto por Costa no título que escolheu para seu livro. Admite que estava em dúvida entre dois: Bancos do Brasil ou Brasil dos bancos.

A conjunção coordenativa “ou” pode ser interpretada de várias maneiras. Pode indicar alternância ou exclusão – “é uma coisa ou é outra” -, pode refletir uma incerteza (“não sei se os bancos são do país, se o país é dos bancos ou se é o país dos bancos”) ou, ainda, pode ser usada como partícula enfática, como na letra do Hino da Independência (“ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil!”). Cabe ao leitor resolver a charada, ao término da leitura.

“Brasil dos Bancos”
Fernando Nogueira da Costa. Edusp. 531 págs., R$ 74,00

Fonte: Valor Econômico

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