Liberdade e vigilância
Sobretudo aos mais jovens, cabe fortalecer a democracia na América Latina, ameaçada pela compulsão das suas elites elites por violar as regras quando lhes convêm

Enquanto esta edição era concluída, em 26 de fevereiro, a Rede Brasil Atual acompanhava a tensão na Venezuela. A efervescência das ruas desautorizava trazer o assunto, sujeito a envelhecer em algumas horas, a esta páginas mensais. Trata-se de um país dividido. Como relatava o enviado da RBA a Caracas, João Peres, eram perceptíveis correntes distintas de opinião. No lado revoltoso, uma ala pregava a saída imediata do presidente Nicolás Maduro; outra admitia seguir as regras do jogo. Pelos lados chavistas, uma parte apoiava a busca do diálogo; outra defendia rigor contra os “fascistas” que engendravam um golpe.
No ambiente pré-golpe civil-militar no Brasil de 50 anos atrás, uma parcela marchava contra o presidente legítimo, João Goulart, bradando contra a inflação, a “ameaça comunista”, a “desordem”. Essa marcha da minoria culminou com a derrubada de Jango – sob uma conspiração erguida nos pilares dos meios de comunicação, do dinheiro de grupos empresariais, da força bruta dos militares e do apoio dos Estados Unidos.
A cena venezuelana tinha algo em comum com outra situação pré-golpe, a do Chile de Salvador Allende, em 1973. Na ocasião, escasseavam produtos básicos nas prateleiras dos supermercados. Parte dessa ausência decorria de boicotes que rendiam a lojistas e fornecedores um duplo retorno: especulando com a falta de produtos faturavam mais – como na Venezuela de Maduro –, e alimentavam iras contra o governo. Lá também a força do donos do dinheiro, dos tanques e de Washington derrubaram Allende.
Só não se pode pode chamar de “coincidência” a compulsão das elites econômicas por violar regras democráticas quando lhes convêm. Os resultados dessa compulsão – os regimes violentos que marcam o último meio século de história da América Latina – sentem-se nas vidas perdidas na reação à barbárie. E no grave déficit de cidadania do qual se ressente o continente.
O século 21 representa para a região, Brasil incluído, uma era de reconstrução da democracia. Fortalecê-la significa dar às maiorias mais poder de interferência nos destinos de seu país. Cabe, sobretudo aos mais jovens, ter os olhos abertos para esse desafio. Um olho na luta cotidiana de superação de injustiças e desigualdades. E outro em eventuais e sorrateiras tentações autoritárias ávidas pelo retrocesso, refúgio das minorias.
Notícia colhida no sítio http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/93/liberdade-e-vigilancia-5372.html