CUT e demais centrais sindicais vão intensificar luta contra o fim da aposentadoria
Escrito por: Érica Aragão • Publicado em: 31/01/2018 – 16:11 • Última modificação: 31/01/2018 – 16:23

Roberto Parizotti
Em reunião nesta quarta-feira (31), a CUT e as principais centrais sindicais do país (CSB, CTB, Força Sindical, Nova Central, UGT e Intersindical) decidiram iniciar imediatamente uma Jornada de Luta contra a Reforma da Previdência, que seguirá enquanto a nova proposta de reforma do governo continuar em tramitação na Câmara dos Deputados.
Reunião da centrais nesta quarta (31) na sede da Força Sindical. Foto: Érica Aragão
No dia 19 de fevereiro, data prevista para a reforma entrar na pauta da Câmara dos Deputados, a CUT vai convocar seus sindicatos e militantes para participar do “Dia Nacional de Luta”, com greves, paralisações, assembleias e atos públicos contra mais esse retrocesso.
Sobre os atos que começam na próxima semana e prosseguirão até o dia em que a nova proposta de reforma seja retirada da pauta e engavetada, o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, diz: “Não podemos subestimar a maldade deste governo com os trabalhadores e as trabalhadoras. A luta será diária. Além das mobilizações de massa, a CUT e as demais centrais também farão audiências com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e com quem preciso for para retirar da pauta da Câmara a reforma da Previdência”.
Para a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, as centrais acertam ao decidir pelo enfrentamento diário contra essa proposta que prejudica toda a classe trabalhadora, em especial os mais pobres. “Nós não podemos ficar parados esperando a data certa para a votação de um projeto que acaba com o direito da aposentadoria dos trabalhadores e das trabalhadoras”.
Na reunião realizada na manhã desta quarta-feira na sede da Força Sindical, em São Paulo, a CUT e demais centrais repudiaram, em nota, a campanha enganosa do governo do ilegítimo e golpista Michel Temer (MDB-SP), que usa a televisão aberta e outros meios para tentar convencer os mais de 85% da população que são contra a reforma, segundo pesquisa CUT/VoxPopuli, de que acabar com o direito de milhões de brasileiros se aposentarem é bom para a população e para o Brasil. A nota destaca ainda a importância da comunicação do movimento sindical, mídia alternativa e parceiros para contrapor a narrativa mentirosa do governo.
“Toda a Jornada de Luta será importante para alertar a população da campanha mentirosa do governo e das consequências maldosas da reforma para a classe trabalhadora. Os sindicatos, Federações e Confederações filiadas a CUT vão mobilizar a base e intensificarão a contraofensiva para derrotar esse governo. Não descansaremos nenhum dia”, finaliza o secretário-geral da entidade, Sérgio Nobre.
Nota das centrais
Centrais realizarão Jornada Nacional de Luta contra a Reforma da Previdência
Em reunião manhã desta quarta-feira (31), as centrais sindicais (CSB, CTB, CUT, Força Sindical, Nova Central, UGT, Intersindical) aprovaram a realização de uma Jornada Nacional de Luta contra a Reforma da Previdência.
Na oportunidade, as centrais repudiaram a campanha enganosa do governo Michel Temer para aprovar a Reforma da Previdência. E orientam para o próximo dia 19 de fevereiro um Dia Nacional de Luta.
Com a palavra de ordem “Se botar pra votar, o Brasil vai parar”, as centrais orientam suas bases a entrarem em estado de alerta e mobilização nacional imediata, com a realização de assembleias, plenárias regionais e estaduais, panfletagens, blitz nos aeroportos, pressão nas bases dos parlamentares e reforçar a pressão no Congresso Nacional.
As centrais sindicais conclamam suas bases a reforçar o trabalho de comunicação e esclarecimento sobre os graves impactos da “reforma” na vida dos trabalhadores e trabalhadoras.
A unidade, resistência e luta serão fundamentais para barrarmos mais esse retrocesso.
Antonio Neto, presidente da CSB
Adilson Araújo, presidente da CTB
Vagner Freitas, presidente da CUT
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical
José Calixto, presidente da Nova Central
Ricardo Patah, presidente da UGT
Notícia colhida no sítio https://cut.org.br/noticias/dia-19-e-dia-de-luta-contra-reforma-da-previdencia-c824/
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Sinceramente, você defenderá a nossa Previdência?
A ladainha do “rombo da previdência”
Por Floriano Martins de Sá Neto
O governo divulgou, no início dessa semana, a anual cantilena sobre o “rombo da previdência”. Alega, por meio de seu secretário de previdência, que cada vez mais se faz presente uma reforma para: “quebrar privilégios, para preservar os mais pobres, sob o risco de se ter que cortar benefícios (ou reduzi-los), como foi feito, por exemplo, na Grécia e em Portugal”.
Diante dessas afirmações, algumas considerações são necessárias. Primeiro que a atual proposta de reforma “passa longe” de ser destinada aos mais pobres. Segundo que é um erro unir RGPS e RPPS em um mesmo orçamento, inflando seu déficit. Regime Próprio (RPPS) e Regime Geral (RGPS) são coisas distintas, tanto que se encontram em artigos de Títulos distintos na Constituição Federal (Artigo 40 (Da Organização do Estado), financiamento das aposentadorias e pensões dos servidores públicos; e Artigo 195 (Da Ordem Social), financiamento da Seguridade Social e, obviamente, da previdência do Regime Geral).
Sobre a comparação com os problemas por que passaram Grécia e Portugal, onde se deduz que o tamanho de suas dívidas públicas foi muito influenciado pelas aposentadorias e pensões, é preciso fazer um adendo. De 1995 a 2015 a dívida interna federal brasileira saiu de algo em torno de R$ 86 bilhões para R$ 4 trilhões, mesmo com um superávit primário de R$ 1 trilhão no período. Portanto, não são os gastos sociais que geram a dívida, mas sim, as altíssimas taxas de juros, além de mecanismos financeiros como as operações de swap, mercado aberto, formação de reservas internacionais, empréstimos ao BNDES, dentre outros. Assim como no Brasil, na Grécia também foram tais mecanismos que geraram a dívida.
Um dos objetivos do governo com a reforma e com tudo que se relaciona com o mundo previdenciário é deslocar os gastos com a previdência para o famigerado gasto com juros e amortizações da dívida, que devem consumir metade do orçamento deste ano, conforme a lei orçamentária aprovada no Congresso. Isso deveria ser noticiado. Talvez seja por isso que o aumento do salário mínimo (1,81%), de forma inconstitucional, ficou abaixo do INPC (2,07%)? Foi o menor reajuste em 24 anos de luta por melhorias salariais. Lembrando que 70% das aposentadorias são no valor do salário mínimo.
Segundo o governo o rombo da previdência em 2017 foi de R$ 268,79 bilhões, somatório de R$ 182,45 bilhões vindo do Regime Geral e de R$ 86,34 bilhões do Regime Próprio. A Anfip há anos contesta essa matemática. Além do erro, já mostrado, ao unir Regimes de Previdência distintos, não se considera previdência como parte da Seguridade. Embora a Anfip tenha dados somente do ano de 2016, pode-se fazer um confronto. Em 2016 o dito “rombo”, segundo o governo, foi de R$ 149,73 bilhões. A conta, além de somar RGPS + RPPS, considera, pelo lado do INSS, apenas o que se paga de benefícios com o que se arrecada de urbanos e rurais. Ora, e onde fica o sistema tripartite da Seguridade? Segundo dados da Anfip, considerando as rubricas de receitas e despesas pertencentes a Seguridade, em 2016, houve um déficit de R$ 57 bilhões, valores bem menores que o divulgado pelo governo. Abre-se um parêntesis aqui para enfatizar que esse déficit, o primeiro na história da “Análise da Seguridade Social”, foi devido a uma combinação perversa de políticas macroeconômicas inadequadas, com altíssima taxa de desemprego e baixos investimentos, com renúncias fiscais e desvinculações de receitas da Seguridade, resultando na necessidade de financiamento do sistema.
Esse “déficit” pode não ser tomado como verdadeiro, pois se não houvesse renúncias e desvinculações, o resultado seria superavitário: para se ter noção, somente em 2016 foram R$ 271 bilhões em renúncias, recursos que deveriam ser destinados a políticas sociais, mas que de fato beneficiou, tão somente, o empresariado. E o país cresceu? Empregos foram gerados? Até 2015, o percentual de retirada de recursos da Seguridade via DRU era de 20%. Com a elevação para 30%, aprovada em 2016, a subtração de recursos passou de uma média de R$ 63,4 bilhões ao ano (entre 2013 e 2015) para R$ 99,4 bilhões. São recursos que ao invés de terem destinação especifica vão para o caixa único do Tesouro. A propósito, o governo utiliza esses recursos da maneira correta?
O governo quer, a todo custo, “custe o que custar”, implementar a reforma da previdência, tudo em nome do interesse privado, de uma lógica meramente mercantil que sacrifica as parcelas mais carentes e necessitadas da população.
As políticas de proteção social, nas quais se incluem a saúde, a previdência e a assistência social, são consideradas produto histórico das lutas do trabalho, na medida em que respondem pelo atendimento de necessidades inspiradas em princípios e valores socializados pelos trabalhadores e reconhecidos pelo Estado. Com luta, definitivamente, não será um governo ilegítimo que desmantelará a maior rede de proteção social brasileira.
(*) Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil e presidente da ANFIP.
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PS: 95 anos reduzindo desigualdades sociais e enfrentando os piratas sociais – Artigos, acesse https://www.anfip.org.br/noticia.php?id_noticia=22842
EC 95/2016, (in)feliz aniversário! (Floriano Martins de Sá Neto) – Artigos, acesse https://www.anfip.org.br/noticia.php?id_noticia=22756
Esquema Fraudulento da Securitização de Créditos (Maria Fattorelli) – Artigos, acesse https://www.anfip.org.br/noticia.php?id_noticia=22737
Artigo colhido no sítio https://www.anfip.org.br/noticia.php?id_noticia=22849
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RGPS: Previdência Social fecha 2017 com déficit de R$ 182,4 bilhões