Mudanças na sociedade, novas tecnologias e disputa cultural impõem desafios da estratégia e sustentação sindical
Estratégias e sustentação sindical. Este foi o tema central da última mesa do 14º CECUT. Planejamento a longo prazo, novas tecnologias e postos de trabalho, solidariedade sindical e outros temas foram destacados pelos palestrantes na tarde deste sábado (26).
O assessor da CUT, Delúbio Soares, enfatizou a necessidade de planejamento a longo prazo. “Qual o nosso destino, do movimento sindical, nos próximos 10, 20 ou 30 anos? Parece que é muito, mas eu participei do Conclato e parece que foi ontem. Então temos que pensar os próximos 30 anos e não apenas a próxima eleição”, afirmou.
Em um mundo em constante transformação, a criação de novas tecnologias e novos postos de trabalho são desafios que o movimento sindical precisa enfrentar. “A febre hoje são os aplicativos, mas à 10 anos atrás era o telemarketing. Precisamos pensar sobre essas novas categorias e o que sindicato fará e o que a CUT fará para atrair esses sindicatos e essas novas modalidades de trabalho”, ponderou.
Soares recordou que há 40 anos anos atrás se alguém falasse que montadoras como a General Motors e a Ford fossem quebrar ninguém acreditaria. “Mas na crise de 2008 quebraram. Mudaram as relações de trabalho. Chegaram novas tecnologias e chegarão outras”, projetou.
O secretário-adjunto de relações internacionais da CUT, Quintino Severo, afirmou que a chamada 4ª Revolução Industrial é um dos desafios a serem enfrentados. “Cada vez teremos menos contato físico com estes trabalhadores e cada vez menos possibilidade de dialogar com eles”, vislumbrou.
A precarização dos contratos de trabalho é outro desafio a ser enfrentado pelo movimento sindical. Segundo ele, são três questões primordiais que precisam ser respondidas. Quem será representado a partir desta realidade, como organizar estes trabalhadores e como financiar os sindicatos. No caso dos trabalhadores ligados aos aplicativos, o secretário-adjunto fez um alerta. “O que fazer e como será atuação para as centenas de milhares de trabalhadores que hoje trabalham por meio de aplicativos? Como será que esse homem, essa mulher, esse jovem que tem relação com quatro entes? Eles usam a mochila de um aplicativo, alugam a bicicleta do Itaú, pegam a comida de um restaurante e entregam para um consumidor. São quatro entes e nenhum deles cobrirá a previdência, a doença, o acidente de trabalho ou vai assinar a sua carteira”, refletiu.
Segundo Quintino Severo as respostas passam, também por mais organização e menos estrutura. “Precisamos ser cada vez mais horizontais e o próximos dos trabalhadores e trabalhadoras para responder esses desafios. Quanto mais horizontal, maior a possibilidade de representar o terceirizado, o MEI, o PJ, enfim, que são trabalhadores que serão demandados por representação. Precisamos construir sindicatos solidário cada vez mais”, ponderou.
Por último, Severo falou sobre a aposta na sindicalização. “Cada vez mais é necessário estar próximo do associado para convence-lo a permanecer e ainda ampliar a sindicalização. Nesta perspectiva nós, inclusive, lançamos na CUT app para isso. Precisamos buscar instrumento que possam associar, por exemplo, o trabalhador da construção civil e que amanhã será do comércio e leva junto a sindicalização”, argumentou.
A secretária de Mobilização e Movimentos Sociais da CUT, Janeslei Albuquerque, colocou como desafios estratégico dos sindicatos a reflexão sobre o que levou o fascismo a dominar parte da sociedade brasileira. Segundo ela, a eleição de Jair Bolsonaro é, na verdade, o sintoma de algo muito grave e pouco percebido.
“Antes deles vencerem a eleição, eles venceram no campo econômico, venceram a batalha de convencer a população de que entregar a Petrobrás é bom. Isso é disputa no campo econômico. Os trabalhadores estão concordando com isso. Antes de fazerem isso, eles fizeram batalha no campo cultural”, avaliou.
“Como convenceram as pessoas? Elas estão militando por medidas que prejudicam seus interesses mais óbvios. Por uma Polícia que mate seus filhos, por um estado que negue seus direitos, por uma política econômica que destrua seu futuro. São pessoas que passaram a acreditar nos maiores absurdos e essa é a disputa no campo da cultura”, completou.
Ela citou como exemplo caso de um professor universitário que ao ir até o dentista ouviu o questionamento se era verdade que na universidade os professores lecionavam pelados. É um dentista que perguntou ao seu cliente, professor de universidade, se era verdade. Para termos ideia da disputa no campo cultural que precisamos fazer”, relacionou.
“Quando a Damares falam que as mulheres devem ser submissas aos homens. Ela está reafirmando para o homem desempregado, subempregado, impossibilitado de ser o provador da sua sua família, garantido a ele que a mulher seja sua serva e o ego humilhado pelo desemprego e subemprego”, emendou a secretária.
Por fim, Janeslei disse que há questões que são permanentes, tanto na filosofia quanto na religião e são fundamentais. “De onde viemos, quem somos e para onde vamos? Vale para a filosofia, religião e luta política”, concluiu.
Texto e fotos: Gibran Mendes
Fonte: CUT Paraná