Mesa debateu a defesa dos direitos da classe trabalhadora nesta perspectiva
A tarde do segundo dia do 14º CECUT foi aberta com o debate sobre a Defesa dos Direitos da Classe Trabalhadora na perspectiva de gênero, raça e diversidade sexual.
O secretário executivo da Mulher Trabalhadora e dos direitos LGBTI da APP-Sindicato, Clau Lopes, analisou a situação desta parcela da população no mercado de trabalho, mas também, em outros espaços.
“Onde estão estas pessoas no mercado de trabalho? Muitos, ou quase todos, estão em salões de beleza, em trabalhos de risco, sucateados, sem formalização”, avaliou. Lopes citou dados de uma recente pesquisa realizada pela CUT-SP com dados sobre trabalhadores e trabalhadoras LGBTI+. “São 33% das empresas que afirmaram que não contratariam para cargos de chefia e 61% dos entrevistados disseram preferir esconder sua orientação sexual ou identidade de gênero por medo de represálias”, enumerou.
O dirigente da APP-Sindicato também exemplificou que esta parcela da população por ocupar postos mais precários e rotativos será um dos principais alvos da Reforma da Previdência. “A perspectiva da aposentadoria é retirada da população LGBTI+”, sentenciou.
A secretária da mulher trabalhadora da CUT Paraná, Anacélie Azevedo, enfatizou o fato da classe trabalhadora não ser homogênea. “As mulheres, o povo negro, as mulheres negras, a comunidade LGBTI, estão desfavorecidos dentro da classe trabalhadora diante dos seus direitos. Mas não é só isso. Também estamos desfavorecidos na sociedade diante da estrutura de poder. A CUT tem 36 anos e nunca tivemos uma presidente mulher. Nós mulheres que vivemos o sindicalismo a dificuldade que é”, afirmou.
Ainda de acordo com ela, a informalidade deve ser uma pauta central para as mulheres. “Nós somos a maioria. A informalidade representa 41% da população que poderia estar registrada e com carteira assinada somente 45%. As mulheres são maioria nestes números”, completou.
As diferenças continuam com a remuneração das mulheres. “As mulheres recebem 30% do que o salário de um homem nas mesmas funções. É o mesmo tempo de empresa, a mesma tarefa, o mesmo cargo e recebemos 30% a menos que os homens. Este índice, por si só, já nos demonstra que a classe trabalhadora não é homogênea no seus direitos e representação”, garantiu.
Por fim, Anacélie citou o sóciologo Boaventura de Souza Santos, que afirmou que o demônio da sociedade ocidental tem três cabeças: o capitalismo, o colionalismo e o patriarcado. “É uma tarefa muito difícil vencer o capitalismo, assim como o colonialismo. Mas quem sabe vencer o patriarcado, ou pelo menos em nossas instituições e espaços”, provocou.
A secretária de combate ao racismo da CUT Nacional, Anatalina Lourenço, defendeu políticas focadas para a população negra. “Nos últimos 15 anos o acesso da população negra à educação explodiu pelas políticas públicas, desde as cotas até o Prouni. Mas, mesmo no Prouni, o número de negros e negras é menor porque não é uma política focada. Por isso brigamos por políticas específicas. Pois caso contrário a estrutura do racismo dificulta o acesso”, afirmou.
Ela também citou que a mobilidade social, que teoricamente seria garantida a partir do grau de escolaridade, acaba batendo na trave quanto trata-se da população negra por conta do racismo. “Quando você pega os dados de escolaridade e faz o recorte de gênero e raça e joga para o mercado de trabalho, adivinha? Conseguimos entrar no mercado de trabalho em que fizemos a formação? Não. Por que? Não existe capitalismo sem racismo”, apontou.
A secretária também destacou o planejamento da central em se debruçar sobre a discussão dos trabalhadores informais nesta próxima gestão. Contudo, Anatalia questiona quem são estes trabalhadores informais. “Este é um tema importante para todas as categorias porque o racismo está no cotidiano. Só não sente quem tem a pele clara. Quanto mais escura a sua pele mais você será discriminado. Quanto melanina, menos impacto. Quanto mais melanina, mais impacto. Isso é público e notório”, pontuou.
Por fim, a necropolítica foi debatida na mesa de debates. “Vem dos tempos de colonia. É a construção de mecanismos de morte, o estado definindo quem vive e quem morre. Todos esses segmentos estão em diferentes categorias profissionais. Falamos em não soltar a mão de ninguém, mas as mãos de quem estamos segurando? Se o racismo é tão estruturante o racismo e o machismo também estão na esquerda. Aí precisamos nos perguntar onde estamos guardando os nossos. Isso tem a ver com a construção cultural desse país. Quem são os trabalhadores e trabalhadoras assassinatos diariamente? São os negros. Quem são os jovens e crianças assassinados diariamente? Os negros”, definiu.
Texto e fotos: Gibran Mendes
Fonte: CUT Paraná