O assessor da CUT, João Vaccari Neto e o ex-senador Roberto Requião analisaram a conjuntura internacional e nacional
A primeira mesa da manhã de sábado (26) no 14º CECUT teve como tema central a Soberania. O ex-senador Roberto Requião e o assessor da CUT, João Vaccari Neto, analisaram o tema sob a ótica do capitalismo, o fim do comunismo, o avanço do capital e as lutas históricas de soberania e relações internacionais.
Para o ex-senador Roberto Requião, o fim da União Soviética, retirou do grande capital o mesmo do comunismo. O resultado foi um grande avanço no sentido da precarização do trabalho que ocore desde o início da década de 90. “Quando ele (comunismo soviético) estava vivo, valorizando o trabalho, a Europa que era dominada pelo regime do capital, os movimentos sociais conseguem avanços incríveis porque havia o medo do comunismo soviético. Neste processo surge o direito e o voto das mulheres, a consolidação de leis que garante os trabalhadores, da aposentadoria pública nos moldes criados por Bismark na Alemanha e uma evolução social profunda. No momento em que o regime comunista desaparece e surge o desejo da revanche, Eles queria fazer com que todas as conquistas sociais voltassem atrás. Parece que estamos vendo no Brasil hoje”, afirmou.
Segundo Requião o avanço do capital está suportando um tripé: a precarização do estado e valorização do capital pelo Banco Central, o processo democrático de escolha direta é submetido à financeirização e a precarização do trabalho com a liquidação de todas as conquistas trabalhistas no mundo ocidental e também, no caso brasileiro, dos avanços próprios.
“É a precarização do trabalho, a diminuição de salários, agressão brutal aos sindicatos e a semi-escravização do trabalho subordinado às exigências do grande capital”, afirmou. Esta subordinação também acontece no processo democrático. “ O poder do dinheiro está cada vez mais exacerbado. É só olhar o Congresso Nacional, acabando com aposentadoria, entregando petróleo e arrasando a soberania que é a capacidade de autodeterminação de um povo pela sua própria vontade”, completou.
Para o ex-senador esse período está terminando. “Está chegando ao fim deste período de Temer, Guedes, Bolsonaro e o pessoal que ocupou o governo no Brasil. Eu não tenho a menor dúvida do fracasso do sistema liberal. Deem uma olhada na Argentina. O liberalismo econômico de Macri será massacrado nas urnas. Vejam o que acontece no Chile, que era a pérola da América Latina, exemplo do Guedes e do início de governo bolsonaristas. Eles vivem um levante popular de proporções absolutamente incríveis”, avaliou.
A saída para este processo, na visão do ex-senador, seria adotar medidas que confrontem o rentismo com investimentos na economia real. Mas também a criação de uma frente ampla trabalhista para se contrapor ao movimento de retrocessos sociais. “A saída seria uma aliança entre o trabalho e o capital produtivo. O Papa já disse que o capital pode ser bom se ele é investido em tecnologia e avança na ciência, se é investido em fábricas que garantem bom salário e boas condições de vida para os trabalhadores. Mas este capital não pode governar o homem. A saída é o reestabelecimento da fraternidade na sociedade brasileira. Precisamos organizar uma frente política, mas com limites. Não consigo imaginar uma frente contra o liberalismo econômico e a escravização do trabalho que incorpore Rodrigo Maia e o Fernando Henrique Cardoso. Isso seria o suicídio da classe trabalhadora brasileira”, ponderou.
Requião ainda falou sobre um referendo revogatório das medidas adotadas. “Depois os partidos políticos entram e apresentam seus projetos que serão escolhidos pela população nas urnas”, defendeu. A importância da liberdade do ex-presidente Lula também foi enfatizada pelo ex-senador. “Para mim Lula Livre é Brasil livre, é ensino público livre. A liberdade do Lula tem que ser vinculada à liberdade do País. É o reestabelecimento de políticas sociais. A política externa foi excepcional. Devemos valorizar os acertos a prender com os erros, que devemos chamar de experiência”, analisou.
O assessor da CUT e ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari Neto, retomou a história da CUT para falar sobre a globalização e desenvolvimento. Segundo ele, ainda em 1994, a tese da central apontava favoravelmente à globalização, porém, sem a subordinação aos países industrializados. “O que nós fizemos para construir isso do ponto de vista da nossa soberania? Um dos mais importantes foi o Mercosul e agora o Bolsonaro está tentando implodir, ainda mais com a derrota de Macri na Argentina. Isso vai implicar diretamente em nossa economia”, apontou.
Em 2004, a CUT também protagonizou a luta contra a Alca, um tratado proposto pelos Estados Unidos, que implicava o livre mercado nas américas de forma a beneficiar, somente, o imperialismo estadunidense. “Submetia ao comando político e econômico dos EUA. Foi um esforço muito grande para romper aquela política”, recordou.
Uma das saídas encontradas para superar estas dificuldades nas relações internacionais, lembra Vaccari, foi a criação do BRICs. O bloco foi criticado por Bolsonaro. “Mas agora ele volta atrás e começa a elogiar o governo chinês. O BRICs significa a desintermidação da relação de comércio dos EUA com países industrializados da Europa e dos Estados Unidos”, analisou.
O assessora da central também avaliou o atual momento de ataques às organizações sindicais. “Temos assistidos esse desmonte que se colocou sob os sindicatos. Aqui entra, novamente, o que escrevemos há muito tempo nas resoluções da CUT. Erávamos e somos favoráveis à liberdade e autonomia sindical, somos favoráveis as negociações entre patrões e empregados e somos contra o imposto sindical. Mas a forma que se faz isso hoje não é no sentido de fortalecimento, mas sim de desmonte dos sindicatos”, denunciou.
Uma das alternativas é a retomada do que diz a convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “É preciso garantir a liberdade, os direitos, o fortalecimento da negociação coletiva, mas não como querem impor, com um sindicato de empresa. Não de baixo pra cima pois vamos resolver o problema de baixo pra cima com a organização dos trabalhadores.”, afirmou. “Eu fui presidente do sindicato dos bancários e durante meu mandato não recebemos 1 real de imposto sindical. Mas foi uma política preparada e feita para ser assim, não foi uma emboscada”, completou.
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Texto e fotos: Gibran Mendes
Fonte: CUT Paraná