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Trabalhadores perdem até 25% de renda. É a maior queda já registrada, diz IBGE

Foto: Roberto Parizotti

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) está sendo ainda mais cruel para 27,3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras formais e informais que não têm instrução, ou apenas possuem o ensino fundamental incompleto ou completo e ensino médio incompleto, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA) Covid, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As perdas nos rendimentos mensais chegaram até 25% em maio último, para quem tem baixa escolaridade. Este índice diminui para 24% em junho e 18% em julho.  Ainda assim, no último mês analisado, a perda de renda dos que têm pouca instrução é 8% maior dos que tem ensino superior completo e pós-graduação. Neste grupo, no mesmo período, os rendimentos caíram 14%,13% e 10% respectivamente .

Em média para todas as escolaridades, a renda obtida pelo trabalho caiu em maio 18%. Em junho, a queda foi de 17% e, em julho 13%. É a maior queda de rendimentos dos trabalhadores registrada desde 2012, quando a pesquisa começou a ser feita. Até hoje, o maior índice havia sido registrado no ano da crise econômica de 2015, com 3%.

A professora de economia e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit/Unicamp), Marilane Teixeira, diz que em maio e junho deste ano, os rendimentos foram menores porque eram os meses do auge da suspensão dos contratos de trabalho e da redução de jornada e salários previstas na Medida Provisória (MP) nº 936, que atingiram 10 milhões de trabalhadores. Além disso, os meses de abril e maio, auge da quarentena, impactaram também nos rendimentos dos informais.

Quando se tem aumento da oferta de mão de obra e se reduz os ganhos, haverá uma queda maior de renda. Nesta situação, o trabalhador vai se submeter para ganhar qualquer coisa. Quem for contratar pode pagar qualquer valor e vai ter gente disposta a ganhar abaixo do salário mínimo

Na avalição do economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Daniel Ferrer de Almeida, a queda no rendimento do trabalhador com menor escolaridade é uma relação um tanto quanto evidente, já que a maioria não pode fazer home office e tem dificuldades em procurar um emprego digital.

“Depois de seis meses de pandemia começam a ser quantificadas as hipóteses que o movimento sindical já vinha denunciando, de que as perdas com as poucas medidas tomadas pelo governo para conter a crise econômica cairiam nas costas dos trabalhadores”, diz Daniel, que é doutorando em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo (USP).

E esta situação tende a piorar, já que os cálculos do rendimento médio efetivo devem cair ainda mais, com a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano variando negativamente de 4,5% a 5%, segundo o próprio governo, ressalta Marilane Teixeira.

Trabalhadores com menos estudo também foram os mais demitidos

Daniel Ferrer entende que é preciso analisar os dados de janeiro a julho deste ano do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que computa empregos formais, depois de 2017, o contrasto intermitente também, diretamente afetado pela pandemia. Os dados mostram que foram fechados no Brasil um 1 milhão e 92 mil postos de trabalho. Deste total, 38% são entre os trabalhadores com grau de escolaridade reduzido.

O economista do Dieese ressalta que embora esses trabalhadores representem 24% do mercado de trabalho, o saldo negativo de 38% é  imenso para eles.

“Isto é um indicativo forte de que as medidas de compensação, tanto na suspensão dos contratos, como na redução de jornada, não abrangeu na totalidade os trabalhadores de menor qualificação. Eles foram diretamente afetados com a perda dos postos de trabalho”, afirma Daniel.

Governo erra ao não manter a Política de Valorização do Salário Mínimo

A insistência do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) em manter o discurso neoliberal econômico, que não entende que o mercado interno é um motor importante para a retomada da economia é um dos motivos pelos quais a crise econômica vai se aprofundar, acredita Daniel. Para ele, os oito anos do governo do ex-presidente Lula (2002 a 2010) foram exemplares neste quesito.

“Além de promover o consumo interno com a Política de Valorização do Salário Mínimo, que Bolsonaro acabou, nos governos Lula havia crédito, uma política de investimento em infraestrutura e toda uma política nacional de desenvolvimento estratégico integrando todos os setores”, recorda o economista do Dieese.

Limitar valor do auxílio emergencial e diminuir número de beneficiados aumentará a crise

Segundo Daniel, o governo Bolsonaro caminha no sentido oposto ao  não valorizar o salário mínimo e ao limitar o valor do auxílio emergencial em R$ 300,00 e diminuir o número de beneficiados.

A opinião de que a queda nos rendimentos só não foi maior ainda por causa do pagamento do auxílio de R$ 600,00 é compartilhada pela professora de economia da Unicamp. Para Marilane, a redução do valor e do número de pessoas  beneficiadas, impactarão negativamente na renda das famílias brasileiras.

A economista reforça que com o fim do auxílio programado para o final do ano e, se nada for feito para diminuir este impacto, vai haver uma fatia grande da população sem renda nenhuma.

“Muitas pessoas que receberam o auxílio estavam inseridas em alguma ocupação e recebiam um salário mínimo. Ao ficaram somente com os 600 reais já houve aí uma perda de 40% nos rendimentos. Sem o auxílio, sua renda cairá a zero. Por isso, se não houver uma substituição ao auxílio emergencial, óbvio que as pessoas não terão rendimentos para consumir e, sem consumo, não haverá geração de emprego”, afirma Marilane.

Para ela, os efeitos na economia do auxílio foram fundamentais, mas ficou abaixo da necessidade da população porque a falta de transparência e de competência do governo Bolsonaro, deixou gente que precisava de fora do pagamento dos R$ 600,00.

“O governo evidentemente não consegue pensar numa politica pública necessária. Fica selecionando quem pode e não pode receber o auxílio, fazendo uma barreira burocrática, sem se dar conta que isto tem impacto negativo na economia”, conclui a economista do Cesit / Unicamp.

Texto: Rosely Rocha

Fonte: CUT

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