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Opinião: O mundo “cãoporativo” e Auschwitz

Imbecilidade, infantilização, “gamificação” e sociopatia – é possível tudo em um lugar só?
Sim, é possível. Parece surreal, mas é real. Como em milhares de empresas no Brasil, diariamente o ritual de escárnio de seres humanos – os trabalhadores, agora chamados de colaboradores – é uma “boa prática do mercado”.

Em Fortaleza, mais um desses sociopatas deslumbrados chamados de “líderes” foi exposto nacionalmente no programa Fantástico da Rede Globo, ao ser veiculada uma gravação da reunião onde o imbecil arremedava o programa Big Brother (outro lixo cultural) e, como ferramenta ou ferradura de “inovação”, convocou todos os vendedores da empresa para uma reunião e , tal qual o programa-lixo, fez uma votação para que colocassem “no paredão” os colegas com pior desempenho (as funções estavam em inglês – liner e closer), ou seja: a parceria “pé-na-bunda”, quando os chefetes e capitães do mato entram com o pé e o trabalhador(a) entra com a bunda. Desculpe o linguajar pesado, mas a transcrição é literal:

– Desde ontem o nosso resultado foi uma merda…
– Vocês preocupados em comer (como todo trabalhador que tem fome, por acaso)
– Pra vestir essa porra dessa farda (militarizou tudo) aqui tem que merecer…

Sim, gravado e transcrito em processo posterior na Justiça do Trabalho. A vida imita a arte (de mau gosto). Os BBB da vida que banalizaram a execução sumária e vexatória de pessoas de carne e osso e cada vez mais sem alma, cultivando no imaginário popular a normalização da bestialidade. Justus e Trumps da vida com seus programas “Celebrity Apprentices” e “O Aprendiz” é o fundo do poço da existência humana, da breguice autoritária e covarde que dispõe da vida sem valor algum, a não ser a função de ser substituída.

E nos bancos? Também, diariamente, há denúncias das mais diversas sobre a conduta institucionalizada do paredão, explícito ou implícito. Demissões, descomissionamentos, troféus com o nome de “penico”, “tartaruga” – humilhações como regra e não como exceção. O que se esconde nessas “práticas” de forma covarde é o “mecanismo” da felicidade: uma casta recebe bônus milionários sobre o esmagamento coletivo dos trabalhadores da base da pirâmide.

Como bom modismo da literatura piegas de autoajuda a partir dos anos 90, resolveu-se copiar a maneira asiática de produzir de gerir as empresas a fim de melhorar os “índices de governança”. Lindo palavreado, mas, o que se importou foi a mais pura casta indiana: bônus no topo da pirâmide e ônus na base.

Aos sindicatos cabe abandonar o bom-mocismo, pois, com psicopatas se lida com camisa-de-força e enfrentamento, sem a conversa furada de que esses conflitos são localizados e pessoais. Não, eles são o produto da lógica do sistema: mais lucros, menos pessoas. É hora de expor figuras como esse demente chamado Iago Monteiro. Esses “Iagos” proliferam igual a gafanhotos devastando plantações, culturas. A condenação pecuniária não basta. É hora de colocar essa gente para trabalhos comunitários, como lavar cadáver no IML aos finais de semana. Afinal, todos estaremos mortos no longo prazo, a despeito da execução diária de muitos trabalhadores. Também se morre aos poucos.

Chega de conversa mansa, afinal, esta é uma das artimanhas do diabo: falar manso, capturar as almas e colocá-las num inferno. O inferno das empresas modernas (verdadeiros campos de concentração) que pregam “boas práticas no mercado”, mas, cada vez mais pregam o trabalhador na cruz.

Autor: Pablo Sergio Mereles Ruiz Dias

Fonte: Fetec

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