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Por 10:05 Notícias

Governo Bolsonaro deixa país sem informações sobre a covid-19

O descaso do governo Bolsonaro com a covid-19 segue fazendo estragos. O Brasil vive um apagão nos dados da pandemia. Não se sabe ao certo como está a disseminação do vírus, nem quantos são os mortos por dia. O problema começou em setembro com um posicionamento equivocado do Ministério da Saúde. A pasta dificultou a notificação dos dados da pandemia. Na sequência, “ataques hackers” derrubaram os sistemas de vigilância epidemiológica. Após mais de um mês, nada de normalização. Tudo isso, enquanto o mundo enfrenta um momento crítico da pandemia. E com o peso do fim do isolamento social em muitos locais e aglomerações típicas do fim de ano.

“Com qualquer governo sério, no mínimo haveria alguma comunicação transparente sobre quais são os obstáculos e quando deve normalizar. Aqui dá a impressão que ou é proposital, ou não fazem questão de arrumar. Em um mês dava para ter feito um novo sistema do zero”, analisa o professor de estatística da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Rafael Izbicki. O médico infectologista do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Alexandre Zavascki também mostra indignação com a situação. “Inaceitável o apagão de dados no Brasil em um momento crítico da pandemia. Pior ainda é não sabermos o que está acontecendo e aparentemente nenhuma preocupação maior em saber.”

Impacto Geral

O apagão do Ministério da Saúde afeta, inclusive, sistemas consolidados que orientaram o Brasil com eficiência durante a pandemia. O pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marcelo Gomes lamenta o impacto do caos do governo Bolsonaro nos dados da entidade. “Pela terceira semana consecutiva não foi possível fazer a atualização do InfoGripe por conta de entraves técnicos que seguem fazendo com que o Ministério não repasse os dados do SIVEP-Gripe. Em nome da equipe do InfoGripe, pedimos desculpas à rede de vigilância nacional e à população”, afirma.

Dados básicos estão fora do alcance da ciência e da imprensa nacional. “Quais são os vírus que estão dominando em cada local? Quais as faixas etárias mais afetadas? Intensificou o aumento, se manteve lento, reverteu? Não sabemos”, afirma Gomes.

O pesquisador chega a apelar em nome da saúde mental da população; para que não se desesperem diante do cenário caótico. “Como é que tu não tá espumando com essa locuragem toda de apagão de dados, consulta pública pra atrasar vacinação da criançada e o diabo? Sério, povuelo, já falei e vou repetir: procurem suas válvulas de escape. Não dá pra ficar só surtando (com razão) com as maluquices desgovernadas dia após dia. Te cuida e segue adiante.”

Negacionismo da Covid

Além da falta de informações, Gomes citou a consulta pública do ministério, que se encerra meia-noite de hoje (3) sobre a vacinação ou não de crianças no Brasil. Trata-se de um tema que deixa a comunidade científica em situação de espanto e desespero. Negacionistas anti-vacinas seguem divulgando mentiras e desinformação para tentar sabotar a imunização desse grupo. Sem a ampliação da vacinação para os mais jovens, a pandemia dificilmente será superada. Além das mortes evitáveis de crianças, o país fica refém de uma disseminação descontrolada do vírus, que segue sujeito a mutações mais agressivas.

Como mais uma frente em busca do mínimo de racionalidade no Brasil refém do radicalismo negacionista de Bolsonaro, entidades científicas organizam uma declaração pública. Um grande número de entidades apoia o documento assinado pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI-COVID). “Destacamos que a chegada de uma nova variante como Omicron, com maior transmissibilidade, faz das crianças (ainda não vacinadas) um grupo com maior risco de infecção, conforme vem sendo observado em outros países onde houve transmissão comunitária desta variante. Neste contexto epidemiológico torna-se oportuno e urgente ampliarmos o benefício da vacinação a este grupo etário”, informa o documento.

Consenso

A nota ainda reafirma que a vacinação em crianças está em curso em boa parte do mundo. Foram observados apenas benefícios. Nos Estados Unidos, com mais de 7 milhões de crianças vacinadas, não houve sequer um evento adverso grave ou morte. “Destacamos, também, que agências regulatórias e de saúde pública do Canadá, Estados Unidos, Israel, União Europeia, entre outras, já aprovaram a vacinação pediátrica da Pfizer em sua população, baseadas na eficácia, segurança e cenário epidemiológico. Diversos outros países da Ásia, África e América do Sul têm utilizado vacinas de vírus inativado (como a CoronaVac) em milhões de crianças”, completa.

A vacinação conta com apoio incondicional da Fiocruz e também da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entretanto, a ciência novamente parece importar pouco para os bolsonaristas. O presidente, em seu discurso de ano novo, aproveitou para retomar o ataque contra as vacinas em crianças. Disse que seu governo dificultará ao máximo a vacinação, com a exigência de atestados médicos para a aplicação das doses.

Balanço da Covid

Em um cenário de apagão de dados, as informações do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), utilizadas pela RBA ao longo da pandemia, estão imprecisas. Contudo, de acordo com atualização de hoje (3), morreram 76 pessoas, totalizando 619.209 desde o início do surto, em março de 2020. Também foram notificadas 11.850 infecções, em um total de 22.305.078.

Fonte: RBA

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