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Por 15:03 Notícias

Mulheres do MST fazem atos contra multinacionais do agronegócio em início de semana de luta

Na madrugada desta segunda-feira (7), mulheres que compõem o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram protestos em frente às empresas multinacionais Syngenta e Bracell, no interior de São Paulo, e Bunge, na Baixada Fluminense.

Os atos integram a Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra, organizada durante o mês de março, que inclui protestos, ações de solidariedade e atividades de formação política em todo o país.

Brasil de Fato ouviu Cássia Bechara, dirigente do Coletivo de Relações Internacionais do MST, sobre o motivo dos protestos. Segundo ela, a ação contra as multinacionais dos agrotóxicos reforça uma semana de mobilização intensa para os movimentos populares e representa um descontentamento da população com medidas como a aprovação do Pacote do Veneno

“A população está gritando que não queremos mais [agrotóxicos]. Queremos alimentos saudáveis. E alimentos saudáveis só podem ser produzidos por camponeses, só podem ser produzidos a partir de uma reforma agrária popular e integral. Isso é o que a sociedade está dizendo”, afirmou.

“As mulheres sem terra hoje, ao denunciar empresas como a Syngenta e a Bunge, estão unindo a nossa voz à voz do conjunto da sociedade brasileira para dizer: chega de veneno, chega de nos matar envenenadas, dia após o dia, com tantos agrotóxicos proibidos em todo o resto do mundo e que são despejados no colo da população Brasileira”, declarou Cássia Bechara.

A Syngenta é uma das fabricantes do paraquate. Segundo o movimento, trata-se de “um dos agrotóxicos mais perigosos do mundo, que já foi proibido em mais de 50 países desde 1989, porém ainda é usado no Brasil e está sendo empurrado para a mesa do povo brasileiro”.

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As mulheres sem terra também acusam a “compra” de parlamentares por parte da empresa para que mais agrotóxicos sejam liberados legalmente.

O movimento cita que o relator da Pacote do Veneno, o deputado Luiz Nishimori (PL-PR), fez um acordo de R$ 1,5 milhão para quitar uma dívida com a Syngenta. A negociação da dívida foi feita no final de 2020, quando já tramitava na Câmara o Projeto de Lei que flexibiliza o uso de agrotóxicos no país.

:: Relator do PL do Veneno fez acordo por dívida de R$ 1,5 milhão com a Syngenta ::


Ato na sede da Syngenta, no interior de São Paulo, reúne mulheres sem terra / Divulgação/MST

No município de Lençóis Paulista, a ação de protesto foi em frente à entrada principal da Bracell, empresa com sede em Singapura, pertencente ao grupo RGE, Royal Golden Eagle.

A empresa está no Brasil desde 2003, em Camaçari (BA), e desde 2018 se estabeleceu em Lençóis Paulista e Macatuba. Em nota, o MST aponta que a firma tem terras no país mesmo sendo estrangeira.

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“No Brasil é proibida a aquisição de terras por estrangeiros, mas ao que parece, a Bracell burlou tal regra, criando em 2018 a Turvinho Participações Ltda, uma empresa brasileira com sede no conglomerado da Bracell em Lençois Paulista”, diz o movimento.

“Outro problema está ligado à pressão da Bracell e da commoditie da celulose sobre a produção de alimentos, pois uma marca forte da empresa é firmar parcerias com agricultores da região e também mira as áreas de assentamentos de reforma agrária, o que pode significar forte impacto no modo de vida de pelo menos 500 famílias que vivem nessas áreas”, afirma o MST.


No município de Lençóis Paulista, alvo foi a empresa Bracell / Comunicação do MST

No Rio de Janeiro, segundo o MST, a Bunge foi escolhida como alvo para o protesto desta segunda para representar as multinacionais do agronegócio instaladas no país. Ela foi uma das empresas do ramo que mais lucrou em 2021.

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Bunge foi escolhida como palco para o protesto desta segunda por representar as multinacionais do agronegócio instaladas no país / Pablo Vergara/MST

Outro lado

Brasil de Fato enviou um pedido de posicionamento para a Bunge, a Syngenta e a Bracell sobre os protestos realizados pelas mulheres do MST. Até o momento, apenas a Syngenta respondeu. Assim que as outras duas empresas responderem, a resposta será adicionada à reportagem. Leia a íntegra da resposta:

“A Syngenta valoriza o processo democrático, em que as mais diferentes visões possam ser consideradas – como no caso de legislações sendo propostas e discutidas, a exemplo do PL 6299/02, recentemente aprovado na Câmara dos Deputados. No entanto, em nossa visão, é importante que tais contribuições sejam feitas de forma construtiva e respeitosa. Repudiamos atos de vandalismo, como os promovidos na manhã do dia 07 de março em nossa unidade de Paulínia (SP). O projeto de lei 6299/02 modernizará o marco regulatório de pesticidas no Brasil. Ele permitirá que novas tecnologias cheguem mais rapidamente aos agricultores, ao mesmo tempo em que garante a participação da Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura no registro de produtos, reforçando a importância de assegurar a segurança humana e do meio ambiente.

Sobre produtos à base do ingrediente ativo paraquat: tais produtos não são mais comercializados no Brasil desde 22 de setembro de 2020. Sobre a dívida da empresa Mariagro: A empresa Mariagro Agrícola Ltda efetivamente tinha uma dívida desde 2002 com a Syngenta. Depois de muitas tratativas que seguiram o mesmo processo que se aplica em qualquer caso como esse, as partes entraram em acordo em 2020, de forma que a Mariagro Agrícola Ltda está pagando todo o montante devido conforme o parcelamento determinado. Ou seja, essas tratativas comerciais ocorreram na forma e com os critérios de relacionamento que são padrão e que a empresa utiliza com dezenas de clientes, todos os anos, quando ocorrem essas questões.”

Semana de Lutas

A Jornada da Mulheres Sem Terra de 2022, traz como lema “Terra, Trabalho, Direito de existir. Mulheres em Luta não vão sucumbir!” e conta com ações que serão realizadas de 7 a 14 de março. A cantora Elza Soares, que morreu em janeiro deste ano, será homenageada pelas militantes do MST. Nas redes sociais, o movimento está utilizando a hashtag #NãoVamosSucumbir para divulgar as atividades.

“A violência contra as mulheres tem aumentado substancialmente, seja a violência doméstica, social e política, dentre elas o feminicídio e o suicídio. Assim, nós mulheres trabalhadoras, negras, indígenas, lésbicas, transexual, reafirmamos a necessidade de estarmos vivas para lutar, reafirmamos que o direito de existir é o direito de viver com as condições que nos garanta dignidade e integridade, que garanta nossos corpos e nossos territórios”, afirma a coordenadora do setor de gênero do MST, Lucineia Freitas.

Leia a programação

7 de março: Atividades das Mulheres Sem Terra em várias regiões e estados;

8 de março: Atividades construídas em parceria com as organizações de mulheres e mistas, com caminhadas, atos culturais e ações de solidariedade;

9 de março: Ações de solidariedade e atividades internas nas áreas de Reforma Agrária do MST;

10 de março: Atividades de solidariedade internacionalista em denúncia às ações do império contra nosso direito de expressão com o lema: Mulheres contra o império, Não vão nos Calar!

11 de março: Ações de rede e atividades internas nas áreas do MST, a partir da carta das Mulheres Sem Terra. Além do lançamento para o início de confecção de cartas contra os despejos e pela prorrogação da ADPF [Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental];

14 de março: Plantio simbólico de árvores para denunciar o assassinato e a impunidade do caso Marielle Franco.

Edição: Vivian Virissimo

Fonte: Brasil de Fato

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