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Por 10:07 Opinião de trabalhador, Recentes

90 anos em defesa da vida, dos direitos e da democracia!

Por Elias Jordão e Marcio Kieller

Dia 06 de julho, o nosso Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e região completa 90 anos de existência, sempre ao lado das trabalhadoras e dos trabalhadores bancárias, bancários, financiárias e financiários, em defesa da vida, dos direitos e da democracia. Sempre partícipe dos principais momentos históricos da cidade, do estado e do Brasil, o nosso Sindicato é uma entidade que sempre esteve antenada ao seu tempo, sempre se destacando na busca das melhorias de condições de trabalho, de dignidade e de respeito às trabalhadoras e trabalhadores que são a base de um sindicato. Além disso, uma entidade que sempre esteve ao lado dos democratas e da democracia tão ameaçada nestes dias atuais, em que se diminuíram os espaços democráticos, os direitos e a possibilidade de uma vida digna para as trabalhadoras e trabalhadores do ramo financeiro.

O Sindicato de Curitiba nasce em 1959, quando se desmembra do antigo Sindicato dos Bancários do Paraná, fundado no dia 06 de julho de 1932, constituindo-se em diversas entidades sindicais pelo estado, que formariam a base da Federação dos Estabelecimentos Bancários do Paraná (FEEB/PR). O Sindicato, então, passa a ter denominação de Sindicato dos Bancários de Curitiba e região, mantendo o legado das lutas e conquistas das décadas anteriores, quando a representação era estadual. Esse desmembramento fortalece o movimento sindical bancários por diversas regiões do Paraná.

Não foram poucas entidades que foram construídas. A começar por uma forte influência política da organização dos comunistas no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, que exerciam a hegemonia política em diversos ramos de atividades, além da categoria bancária, nos ferroviários, nos professores, jornalistas e profissionais liberais, como médicos e advogados. E também pela influência do trabalhismo getulista, que administrava os sindicatos a partir da relação da lógica oficial de Estado, dando a eles uma organização que primava pelo assistencialismo político, transformando as entidades em grandes corporações assistencialistas bancadas pelo sindicalismo oficial. Isso trazia uma dualidade em que os sindicatos precisavam optar ou por um modelo ou por outro, do ponto organizativo. Somente após a escolha é que se caminhava para trajetória de ser um sindicato representativo ou um sindicato ligado ao corporativismo oficial.

No início dos anos 1960, a contraofensiva do Capital conservador que receava perde espaço para o avanço do trabalhismo construiu uma narrativa que havia uma ameaça comunista rondando o Brasil. Essa balela oficial foi construída a partir da narrativa das grandes corporações industriais para evitar que tempos de democracia e relações sociais predominassem. E assim se entrou num tempo novamente de trevas, perseguições políticas e sociais, que durou mais de uma década, mas não tirou a importância estratégica que o Sindicato tinha na vida das bancárias e bancários. Pois, mesmo com a censura, a diminuição dos conceitos da democracia, o Sindicato não aceitou a condição de entidade somente assistencialista, diferente de muitas outras entidades que foram fechadas ou transformadas em um balcão de serviços para os associados.

Com o processo de abertura política, o sindicalismo do final da década de 1970 se fortalece e se apresenta como um polo aglutinador da classe trabalhadora contra a fome, a inflação e a carestia; e irá passar por esse período até o desmonte dos bancos estaduais, que foram dizimados com uma cruel política de privatização, que tinha em sua lógica enxugar o quadro de funcionários para que fosse entregue aos bancos que os comprassem sem seus efetivos funcionários de carreira, ou seja: só se entregavam as carteiras lucrativas dos bancos estaduais, sem a sua estrutura humana. Após essas décadas de história e lutas, podemos hoje olhar para trás e ter a certeza de que construímos um sólido patrimônio social, cultural e político de representatividade sindical, respeitado, referenciado por diversas outras categorias organizadas do movimento sindical de Curitiba, do Paraná e do Brasil.

Patrimônio social e político que sempre forneceu, ao movimento sindical e político do estado e do Brasil, lideranças sindicais preparadas para os principais embates políticos que a vida exige. Não foram um ou dois nomes forjados, formados e preparados no movimento sindical bancário de Curitiba e região que foram ofertados e servidos a sociedade como um todo, a exemplo deputados estaduais, federais, vereadores, professores universitários, dentre outras importantes posições políticas. Ou seja, estamos comemorando nove décadas de lutas história e ação política de uma organização, que se transformou num importante instrumento de luta e de organização do coletivo da categoria bancária e financiaria; e que tem fornecido uma grande gama de lideranças para as mais diversas áreas do pensamento social e político atual.

Mas só conseguimos chegar até onde chegamos depois de muita, muita luta e organização política com a formação de lideranças sindicais preparadas para os principais embates políticos que a vida exige. E sabemos que o futuro da categoria bancária e financiária continua dependendo de sua organização política e do fortalecimento da representação das trabalhadoras e trabalhadores do ramo financeiro, pois a ofensiva do Capital diante das novas tecnologias se sustenta em diminuir o tamanho da categoria através da exploração do trabalho, com retirada de direitos e diminuição de postos de trabalho e com alta rotatividade em função da reserva de mão de obra qualificada que se submete a não ter direitos para poder ter empregos. O que o movimento sindical não aceita, pois quer e luta por trabalho digno e decente.

Por isso, os 90 anos completados pelo Sindicato demonstram uma longeva trajetória de lutas e conquistas. É fundamental que nossa entidade tenha em suas metas e perspectivas uma nova concepção filosófica de organização, que permita um vigoroso processo de formação política de novos dirigentes que compreendam esse momento e possam também atualizar a militância sindical bancária para esses novos tempos, de predomínio da automação e da vida em rede, pois, como sempre aconteceu na história política do Sindicato, que ao fornecer seus quadro e lideranças com consciência de classe e preparo intelectual, sempre contribuiu para ajudar a mudar a realidade das trabalhadoras e trabalhadores do ramo financeiro enquanto cidadãos.

Portanto, só temos que comemorar e agradecer àqueles que estiveram à frente das gestões do Sindicato nessas nove décadas, pessoas como: Laélio Cunha Malheiros, Armando Ziller, Júlio Manfredini, José Loureiro Siqueira, Aldo Moacir Leal Machado, Obertino  Martins de Miranda,  Nilo Biazetto, Fernando Tristão Fernandes, Otto Bracarense Costa, Moacir Vissinoni, Luis Salvador, Luiz Carlos Betenhouser, Athos Frecceiros, Cláudio Antônio Ribeiro, Luís Carlos Saldanha, Paulo José Zanetti e Yara D´Mico – primeira mulher presidenta do Sindicato. Esses nomes estiveram à frente do Sindicato durante o período que vai de 1932 a 1993.

Em 1993, o Movimento de Oposição Bancária (MOB/CUT) ganha as eleições para o Sindicato com o Roberto Antônio Von der Osten (Betão), bancário do Banestado, iniciando as gestões CUTistas. Após ele, o Sindicato teve como presidente, em 1996, Pedro Eugenio Beneduzzi Leite; em 1999, José Daniel Farias; em 2002, Marisa Stedile, bancária do Banestado, que inaugura um período em que é permitido a reeleição e ela fica no Sindicato por duas gestões, até 2008, quando é sucedida por Otávio Dias, bancário do Bradesco que fica na presidência até 2014, quando é sucedido por Elias Hennemann Jordão, também bancário do Bradesco, que fica na presidência até 2020, quando é sucedido pelo presidente do Sindicato nos dias atuais, Antônio Luiz Fermino, bancário da Caixa Econômica Federal.

E, a partir de hoje, completados os 90 anos, o Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e região inicia um novo período de sua trajetória de lutas, histórias e conquistas, rumo aos 100 anos de existência da nossa entidade sindical.

Elias Jordão é ex-Presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e região (2014-2020) e secretário Executivo de Políticas Sociais da Contraf-CUT.

Marcio Kieller é bancário do Itaú, presidente da CUT-Paraná e mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).     

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