Representantes da categoria bancária de todo o Brasil iniciaram a 26.ª Conferência Nacional neste sábado (8) com dois compromissos: a aprovação do regimento e uma análise de conjuntura nacional e de como combater a extrema direita.
Após a aprovação, os presentes puderam conferir a análise feita pelo professor de Direito Constitucional e de Teoria do Direito na PUC-SP, graduado e mestre em Direito pela mesma instituição, com pós-doutorado em Teoria Geral do Direito pela Universidade de Lisboa e em Direito Público pela Université Paris Nanterre, Pedro Estevam Serrano.
Em pouco mais de uma hora de apresentação, o professor mostra como a caricaturização dos extremistas por parte da esquerda acaba sendo benéfica àqueles, pois acaba por impedir os reais motivos e estratégias que os norteiam. Ele recomendou a leitura de “Tambores à Distância: Viagem ao centro da extrema direita mundial”, de Joe Mulhall, que detalha como a extrema direita utiliza a mentira como método fundamental.
Serrano acredita que a mentira utilizada pela extrema direita são conscientemente planejadas. “A linguagem da extrema direita se fundamenta na mentira, tornando difícil identificar suas verdadeiras intenções apenas ouvindo suas propostas. É preciso entender essa jogada para poder combatê-los com efetividade”, explica.
Em seguida, Serrano explicou que estados autoritários atuais acabam utilizando outros métodos para minar os direitos dos cidadãos de forma diferente ao que o nazifascismo fez principalmente entre as décadas de 20 a 40 do século XX. “O nazifascismo tomou o poder dentro de uma democracia limitada, enquanto os estados autoritários modernos não precisam mais de ditaduras explícitas; eles utilizam medidas de exceção para minar os direitos dentro de um sistema democrático”, informa.
Serrano encerrou pedindo aos participantes que não achem que o bolsonarismo, embora enfraquecido, não está totalmente morto e que uma variação dele, mais autoritário, sofisticado e perigoso, pode estar à caminho. O professor acredita que esta nova versão usará uma linguagem mais moderada, mas será igualmente eficaz na erosão dos direitos e da democracia. Ele destacou que, apesar do governo de Lula ser progressista, enfrenta um sistema que continua a implementar medidas de exceção. “Nós não vamos ter mais ditaduras explícitas; o que teremos são novas formas de autoritarismo, com medidas de exceção dentro da democracia,” afirmou Serrano.
Ele analisou que a vitória de Lula na presidência não garantiu poder total, pois o legislativo e o judiciário ainda promovem medidas que atacam direitos sociais e trabalhistas. O desafio futuro será enfrentar um autoritarismo mais sofisticado, capaz de corroer a democracia de dentro para fora, utilizando uma linguagem disfarçada.
O professor concluiu enfatizando: “Precisamos de uma mobilização organizada e de uma compreensão profunda dos mecanismos ideológicos da extrema direita para enfrentar os desafios atuais e futuros na defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores.”
Texto: Flávio Augusto Laginski, com Contraf-CUT