O Comando Nacional dos Bancários se reuniu nesta quarta-feira (26) com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), em São Paulo, para a primeira reunião de negociação da Campanha Nacional 2024. O tema proposta para esta reunião foi “Emprego”. Porém, antes de entrar nesta pauta, a categoria cobrou dos banqueiros a assinatura da ultratividade do acordo. Com ela, os trabalhadores e trabalhadoras mantêm todos os seus direitos da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) até a assinatura de um novo acordo.
De acordo com a coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, a ideia deste pedido é para “para seguirmos os próximos passos com serenidade, tendo essa garantia de que nossos direitos seguirão valendo, até a renovação do acordo”.
O presidente da Federação dos Trabalhadores em empresas de Crédito do Paraná (Fetec-CUT/PR) e componente do Comando Nacional, Deonisio Schmidt, participou da reunião. Ele fez uma avaliação positiva do encontro. “Acredito que marcamos bem o nosso posicionamento frente aos representantes patronais. Expusemos os nossos anseios, revelamos dados que mostram como os bancos, mesmo diante de lucros enormes, vão na direção contrária e ainda por cima não cumprem seu papel social. Fizemos bem a defesa da nossa pauta e da categoria”, opina.
Na contramão
Já de cara, os representantes dos trabalhadores bancários apontaram que, diferentemente do que foi verificado em outros setores do ramo financeiro, os bancos estão na contramão, fechando agências e reduzindo o número de vagas.
Para a coordenadora Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, é inadmissível que um setor que está lucrando alto aja desta maneira. “Os bancos mantêm seus lucros e estão na contramão da economia, que mostra sinais de crescimento, apesar dos juros altos. No mercado de trabalho formal no Brasil, nos últimos 12 meses, foram criadas 1,7 milhão de vagas formais. Em 2024, até abril, foram criados mais de 958 mil postos de trabalho. Enquanto isso, nos bancos houve uma perda de 6.425 vagas em 2023 e, até abril de 2024, outras 142”, aponta. “A eliminação de empregos bancários causa sobrecarga e adoecimento dos trabalhadores que permanecem no setor, precariza o atendimento para a população, e gera sofrimento para os demitidos e suas famílias”, completou.
Dados
Informações apontadas pela Rais (base de dados estatísticos, organizados pelo Ministério do Trabalho e Previdência), no período de 10 anos (2012-2022), os bancários saíram de 513 mil trabalhadores para 433 mil, uma redução de 16%. Em contrapartida, as outras categorias do ramo financeiro passaram de 323 mil para 555 mil, um aumento de 72%.
Além da redução no número de bancários e bancárias, os bancos fecharam mais de três mil agências, sendo a maioria delas longe dos grandes centros, fazendo com que pequenas cidades não contassem com serviço bancário.
Preocupação da categoria é com emprego
Durante a reunião, o Comando apresentou a Consulta Nacional deste ano para a Fenaban. A principal preocupação para 68% bancários que trabalham em bancos privados é a da manutenção e garantia do emprego.
A Fenaban, por sua vez, usou como desculpa de que as vagas de emprego “dependem de crescimento econômico”. Como forma de garantir isso, o Comando deu a ideia de uma assinatura de uma carta conjunta para cobrar do Banco Central a redução da Selic (taxa básica de juros), atualmente em 10,75% e que vem travando o desenvolvimento do país. “Em vez de colaborar com o crescimento do país, o BC está contribuindo com os que vivem de especulação financeira”, salientou Juvandia.
Terceirização
Com base em levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Comando apontou também que, em 2023, os bancos aumentaram em 22% a contratação de profissionais de TI, porém, no mesmo ano, houve o aumento de 89% de profissionais terceirizados nesta mesma área.
Os representantes dos trabalhadores destacaram o caso do Santander, que vem substituindo bancários por contratados PJ, com salários de R$ 1.500, além de uma remuneração variável. Esses mesmos funcionários têm acesso ao sistema do banco e atendem aos clientes, sendo que, em alguns lugares, há relatos de que chegam a realizar cinco visitas ao dia.
Outras pautas da mesa
– Os trabalhadores cobraram ainda o retorno da homologação nos sindicatos, para que as entidades possam acompanhar de perto todo o processo, para garantia de direitos dos desligados;
– Qualificação e requalificação profissional, sobretudo diante da revolução tecnológica;
– Indenização adicional em caso de demissão.
Manifestações nas redes sociais
Durante a reunião, bancários e bancárias de todo o país foram mobilizadas para uma manifestação nas redes sociais, com o uso da hashtag #JuntosPorEmprego. As atividades em rede resultaram em mais de 136 mil reações e alcançou o 1º lugar nos tópicos mais comentados da rede X (ex-Twitter), no Brasil, nesta quarta-feira.
Calendário das próximas reuniões
Julho
2/07 – Cláusulas sociais
11/07 – Igualdade de oportunidades
18 e 26/07 – Saúde e condições de trabalho: incluindo discussões sobre pessoas com deficiência (PCDs), neurodivergentes e combate aos programas de metas abusivas
Agosto
6 e 13/08 – Cláusulas econômicas
20/08 – Em definição
27/08 – Em definição

Texto: Flávio Augusto Laginski e Contraf-CUT
Fonte: Fetec e Contraf-CUT