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Por 13:17 Opinião de trabalhador, Recentes

Milton Pomar: Trump ataca o Brasil, China e Brics, para retomar a América do Sul

Assumiu a presidência do Brics em 1º de janeiro de 2025reeleito para a presidência do “Banco do Brics” por mais cinco anos; e, em 2024, com US$ 188 bilhões de comércio com a China, contra apenas US$ 81 bilhões com os Estados Unidos (EUA), o Brasil virou alvo prioritário da cruzada de Trump e seu governo para retomar o controle da América do Sul, que arrogantemente ainda declaram “quintal” dos EUA. Para alcançar sua meta imperialista, precisam reduzir, a qualquer custo, a importância da China – principalmente – para o Brasil e demais países sul-americanos.

Logo que assumiu a presidência, Trump atacou o Brics, ameaçando retaliar seus integrantes, caso sigam o exemplo da União Europeia (com moeda própria há 26 anos), abandonando o dólar e, assim, “secando a fonte” de trilhões de dólares de lucros dos EUA nos últimos 80 anos, obtidos com a triangulação do câmbio em turismo e operações financeiras e comerciais de mais da metade da economia mundial. Ao “passar recibo” de maneira tão escandalosa, Trump sinalizou que fará o impossível para evitar “a” revolução monetária mundial em gestação.

Em 7º lugar entre as maiores economias do mundo, com US$4,7 trilhões pela Paridade do Poder de Compra (PPP) em 2024, metade da população do continente, e grande fornecedor de petróleo, grãos, carnes, minério de ferro, celulose e outros produtos importantes para a população chinesa, o Brasil é estratégico na guerra dos EUA contra o Brics, e a China em particular.

O pesadelo estadunidense

Desde que a economia da China socialista ultrapassou a dos EUA, em 2017, pela Paridade do Poder de Compra (PPP), o país virou o inimigo nº1 de Trump I, Biden e Trump II. Se não tivesse ocorrido a pandemia, a ultrapassagem também pela paridade cambial deveria ocorrer em 2025, ao invés dos US$ 30,5 trilhões (EUA) e US$ 19,2 trilhões (China), previstos para esse ano pelo Fundo Monetário Internacional.

As diferenças são muito expressivas, entre a paridade cambial e a PPP: em 2024, o PIB (PPP) da China atingiu US$ 38,2 trilhões – equivalente a quase 20% do total mundial, de US$ 197,4 trilhões –, e muito acima do PIB dos EUA, de US$ 29,2 trilhões, de acordo com o Banco Mundial.

Muita gente boa sabe que não se trata apenas do tamanho dos PIBs: a China ultrapassou os EUA também em inúmeras outras áreas, bem mais importantes, a começar pela qualidade de vida de sua população, com poder aquisitivo maior do que o do Brasil, por exemplo. Exportações, patentes, maiores empresas, ferrovias de alta velocidade, aeroportos, capacidade portuária, marinha mercante, produção de alimentos, cientistas, formação de engenheiros de todas as especialidades, e está chegando lá em bilionários e milionários e respectivas somas de riquezas.

Comparar sempre é didático: com 25% da população chinesa, os EUA têm mais pessoas em prisões e muito mais pessoas pobres do que a China – é possível que Trump esteja pouco se lixando para o fato de que o seu país está cheio de pessoas pobres vivendo nas ruas e em filas de sopa do Exército da Salvação. Para ele, o que parece interessar são os superávits da China na balança comercial com os EUA, e o desenvolvimento tecnológico e matérias-primas minerais, essenciais ao funcionamento a preços acessíveis de todas as novidades de alta tecnologia.

Realmente, o Brics deve assustar os EUA, porque se a economia chinesa sozinha é 30% maior que a estadunidense, e sua indústria 50% maior, a soma das economias dos outros quatro países do Brics (Índia, US$16,2 trilhões; Rússia, US$6,9 trilhões; Brasil, US$4,7 trilhões; e África do Sul, US$1 trilhão) praticamente empata com a dos EUA: US$28,8 trilhões. Traduzindo, pelo critério do PPP, os cinco países do Brics original equivalem a dois EUA.

Agosto de 1961

Quando foi à China, em agosto de 1961, João Goulart (Jango), vice-presidente do Brasil, certamente não imaginava que o presidente Jânio Quadros renunciaria durante a sua ausência, em tentativa surreal de ser reconduzido à presidência com mais poderes. Consta que Jânio teria enviado o seu vice à China com o objetivo de que ele estivesse distante do Brasil, e justo na China comunista (…), quando Jânio tentasse o autogolpe. Teria imaginado que, nessas circunstâncias, conseguiria apoio fácil à sua pretensão de voltar à presidência.

Naquela época, a China estava totalmente bloqueada pelos EUA. Ao propor o estabelecimento de relações diplomáticas com a China naquele agosto fatídico, Jango forneceu argumentos ideológicos para o golpe militar que estava sendo articulado pelos Estados Unidos (EUA), com o apoio de militares brasileiros, e que acabou se efetivando em 1964.

Tanto tempo depois, coincidentemente em agosto, novamente pela relação do Brasil com a China, os EUA de Trump agridem o Brasil com tarifas e ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), para livrar da cadeia quem tramou assassinar o presidente da República, seu vice, e um ministro do (STF), articulou golpe de Estado, e instigou a depredação do Congresso, Palácio do Planalto e do STF.

Trump conseguiu isso nos EUA, “perdoando” quase 1.600 envolvidos no ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, daí a impressão que quer apenas fazer o mesmo no Brasil, forçando um “liberou geral” para quem atacou a democracia no Brasil. Mas essa pressão de Trump para beneficiar quem cometeu crimes no Brasil é somente “manobra diversionista”. O foco real da agressão do governo dos EUA é a relação do Brasil (e do restante da América do Sul) com a China e o Brics, e o pavor do dólar deixar de ser “a” moeda do mundo, substituída em grande parte – suprema ironia… – pelo renminbi (“moeda do povo”) da China socialista.

Milton Pomar é geógrafo, mestre em Políticas Públicas e autor do livro “O sucesso da China socialista, 1949-2025 – de país muito pobre a maior economia do mundo”

Fonte: Sul 21

Foto: Fotos Públicas