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O Brasil e a crise: os fundos de pensão e a revolução nordestina

Os fundos de investimento irão financiar o desenvolvimento brasileiro; no Nordeste, o grande desafio será apoiar o empreendedorismo e a economia criativa

Por Luis Nassif, em seu blogue

Os fundos de pensão

Nos próximos anos, os fundos de pensão e fundos de investimento em geral serão o grande motor do desenvolvimento brasileiro. Há uma revolução em curso, ainda não percebida.

À medida que as taxas de juros da Selic começam a cair e a dívida pública a reduzir – como proporção do PIB – parte substantiva dos recursos dos fundos de investimento migrarão para a atividade real, inclusive para poder fazer frente às metas atuariais – isto é, aos compromissos futuros com seus associados.

Há seis meses praticamente não há mais inversões da Funcef – o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF) – em títulos públicos. Parte se deve à redução relativa da dívida. Parte a uma política competente da Secretaria do Tesouro, de troca do perfil da dívida brasileira, esticando os prazos e reduzindo o risco Brasil.

A Funcef tem um patrimônio de R$ 500 bilhões, dos quais R$ 90 bilhões vencerão nos próximos quatro anos e não serão reaplicados na renda fixa. Somados à arrecadação nova, é uma quantia formidável, atrás de novos perfis de investimento.

Essa mudança do perfil dos fundos começou em 2004. Na época, a Funcef tinha uma carteira de R$ 9 bilhões/ano, dos quais 50% aplicados na Selic. O indexador que acompanhava, para fixar suas metas, era a Selic.

Hoje a carteira está em R$ 50 bilhões/ano e a Selic responde por apenas 9% dela. O indexador a ser seguido é a inflação, saindo da armadilha da Selic.

Essa perspectiva tem virado a cabeça dos fundos de pensão e de investimento. Finalmente, começa-se a entrar no mercado de renda variável, rasgando o manual fácil que seguiram nas últimas décadas, de acompanhar apenas a taxa Selic.

A mitigação de risco exige diversificação de investimentos. Por exemplo, quando as taxas de juros caem há uma tendência natural de valorização dos ativos reais – e vice-versa.

Essa diversificação passará por vários mercados:

1. Renda variável líquida, ou mercado de ações.

2. Renda variável de longo prazo, privete equity, investimentos em empresas não listadas em bolsa.

3. Risco de crédito privado, com as novas ferramentas de captação.

4. Imóveis

Recentemente, a Funcef investiu em títulos de dívida de um porto de Santa Catarina, através de um project finance (um projeto financeiro prevendo faturamento, retorno etc.). O porto foi financiado sem um tostão do BNDES.

Outra mudança relevante é a associação com fundos estrangeiros, mas seguindo os regulamentos nacionais.

A partir do episódio Opportunity, os fundos de pensão brasileiro pressionaram por mudanças na legislação, criando a figura do comitê de investimento fiscalizando e criticando decisões de gestores.

Antes, aqui como fora, o gestor tinha plena liberdade para operar. Era a maneira encontrada por grandes fundos e grandes bancos norte-americanos para atuar fora dos limites da legalidade – em paraísos fiscais, em operações pouco ortodoxas – sem ter envolvimento direto, na esbórnia que caracterizou o mercado internacional nas últimas décadas.

***

A Revolução Nordestina

A evolução da economia mundial e brasileira abre um mar de oportunidades para uma das regiões historicamente mais estagnadas do país: o nordeste.

Como lembra José Sydrão de Alencar Jr, diretor de Gestão e Desenvolvimento do Banco do Nordeste, até 1760, antes da transferência da capital para o Rio de Janeiro, havia duas colônias portuguesas no país: Grão Pará (Maranhão) e a colônia do Brasil.

Nos primeiros anos de colonização a do nordeste era a mais rica. A descoberta das minas em Minas Gerais e a mudança da capital para o Rio mudou o eixo.

Hoje o Nordeste pode desempenhar papel central na geopolítica internacional do país. A África é a nova fronteira agrícola da humanidade. O NE é porta de saída para África, Estados Unidos e Europa.

O aprofundamento do Canal do Panamá – para nacional de 120 mil toneladas – deve mudar o curso da navegação mundial e brasileira. Nos próximos 10 ou 15 anos, provavelmente a rota de Santos será substituída, em parte, por portos mais no norte e nordeste, como Itaqui, Suape e Pecém, principalmente devido à saturação dos portos do sudeste.

Por outro lado, o nordeste representa de 1/4 a 1/5 do consumo nacional, atraindo novas plantas industriais do sudeste. Nos últimos anos, 12 milhões de pessoas migraram da classe C para a classe B. Apenas o programa de microcrédito do Banco do Nordeste atende a 1,5 milhão de clientes.

Por exemplo, a Zona da Mata de Pernambuco será radicalmente modificada pelo porto de Suape e pela ida da Fiat.

Uma série de programas e leis deverão ter impacto sobre a região, especialmente a Lei de Resíduos Sólidos. Hoje em dia 85% dos pequenos e médios centros não têm o devido tratamento de resíduos. A Lei representará um enorme volume de investimentos.

Há um conjunto de desafios a serem superados. Para o semiárido, uma política ambiental que reverta a degradação da caatinga.

Há polos que dependem basicamente da lenha, como o gesseiro de Araripirina. Com a entrada do gás na região, como fazer? Tão cedo a lenha não sairá da matriz energética da região. Mas como proceder à transição?

Hoje em dia, na região, existem seis centros médios crescendo bem acima da média nacional. Caicó, no Rio Grande do Norte, tornou-se o maior fornecedor nacional de chapéus e bonés. Há polos têxteis em Caicó, São José dos Pirães, indústria de ourivesaria em Juazeiro do Norte, produção de mel em Picos,

Há pelo menos R$ 160 bilhões de investimentos federais em projetos estruturantes, como a Transnordestina, a Duplicação da BR 101, a integração das bacias do São Francisco, a siderurgia no Ceará e Maranhão, estaleiros, Zonas de Processamento de Exportação, refinarias em Pernambuco, Ceará e Maranhão, polo petroquímico de Pernambuco, além das obras da Copa do Mundo e do pré-sal.

O grande desafio nordestino, no entanto, será o da criação de redes de apoio ao micro empreendedorismo da região e à organização das chamadas indústrias criativas – artesanato, manufaturas, música, festas populares.

Será a possibilidade de criar um novo modelo diferente do sudeste – que se baseou em grandes empresas liderando cadeias produtivas setoriais.

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ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO http://ponto.outraspalavras.net/2011/11/29/brasil-crise-iv-os-fundos-de-pensao-revolucao-nordestina/

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