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Por 15:46 Sem categoria

O levante dos bancários contra a ganância dos banqueiros completa um mês

A sociedade se pergunta aquilo que a mídia faz questão de esconder: por que o setor que mais lucrativo do Brasil, que não foi atingido pela crise, continua se negando a dar um reajuste digno aos seus funcionários?

Nesta quarta-feira (05), a greve nacional dos bancários completou 30 dias. A greve iguala a marca da campanha de 2004, primeiro ano da mesa de negociações unificadas entre bancos públicos e privados e recorde nesse novo modelo. A greve mais longa da categoria na história foi em 1951, com 69 dias de paralisação.

Os mais de 500 mil bancários do país reivindicam a reposição das perdas inflacionárias no período da data-base, que é em 1º de setembro, reajuste salarial de 14,78%, o que representa aumento real de 5%, além da inflação passada. Já os bancos, até o momento, não querem conceder mais que 7%, o que representa a perda salarial de aproximadamente 2,8%.

Hoje, a greve é recorde em adesão, com mais de 13 mil agências fechadas e 44 centros administrativos paralisados no país. O número representa 55% do total de agências de todo o Brasil. Somente no Paraná, são quase 800 agências afetadas e seis centros administrativos fechados.

O que está em jogo não é o índice de reajuste, que toda a sociedade sabe que eles, os bancos, têm plenas condições de pagar.

O presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-CUT-PR), Júnior César Dias, alerta: “a lógica é simples: se o setor bancário, que nunca tem crise, nega-se a dar reajuste aos seus funcionários, porque os demais empresários precisam ceder? Quebrando a espinha dorsal dos bancários, todas as demais categorias estarão seriamente ameaçadas”.

Embora a maioria da sociedade enxergue e sinta os efeitos perversos da ganância dos banqueiros, para um segmento, é como se nada de anormal estivesse acontecendo e a greve não existisse. Quando mencionam a greve, tentam jogar a opinião pública contra os bancários, mas nunca mencionam os lucros dos bancos diante das justas reivindicações dos funcionários.

Bancários compõem a categoria mais organizada do país

A organização dos bancários é contraponto aos exploradores do capital e para a parte do setor empresarial que quer aumentar seus lucros às custas do trabalho precário e, se puder, escravo. As prioridades dos bancários são definidas com base em consulta aos funcionários de agências e departamentos. Depois são formados grupos de trabalho de cada área temática, como saúde e emprego, por exemplo, onde são debatidas e extraídas as principais propostas e elas são discutidas e votadas em conferências regionais, estaduais e nacional. Por fim, o conjunto de propostas é consolidado em minuta de reivindações da categoria bancária. Essa minuta é remetida sempre no início do mês de agosto da cada ano para que a classe patronal tome pleno conhecimento das necessidades dos trabalhadores. Este processo culmina com o acordo entre as partes, aprovação em assembleia de trabalhadores e elaboração das convenções coletivas anuais.

A Convenção Coletiva de Trabalho dos bancários é a única que reúne trabalhadores do setor privado e público (administração indireta) com piso e direitos unificados para todo o território nacional, ou seja, o mesmo piso salarial, valor de vale alimentação, auxílio-creche, vale refeição…têm que ser cumprido tanto no Paraná quanto no Acre, por exemplo.

 

Lucros inigualáveis

É de R$540,8 bilhões o patrimônio líquido do setor bancário em 2015, conforme o relatório anual da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). O resultado do ano passado registra crescimento de 25,6% em relação a 2012, quando o montante também chegou ao extraordinário resultado de R$430,5 bilhões. Juros cobrados no cartão de crédito: 475% ao ano.  

Números que comprovam: para o setor bancário não há crise. Números que evidenciam: o setor mais rico do país tem total condições de atender às reivindicações dos bancários, com propostas que permitam resolver a greve nacional sem perdas para os bancários e bancárias.

2,8% de perda parece pouco, mas não é. O diretor de Assuntos Socioeconômicos do Sindicato dos Bancários de Curitiba e região, Pablo Diaz fez o cálculo. “Em cinco anos, um bancário com um salário médio de R$4 mil, perderia em torno de R$22.800, valor esse que deixaria de compor o seu salário com reflexos em férias, décimo terceiro, PLR, FGTS e cálculo da aposentadoria.

Bancos são campeões em demissões

Em 1990, havia 732 mil bancários no país. Esse total caiu 46,3% até 1999, quando chegou a 393 mil vagas. Houve forte redução na quantidade de agências bancárias, especialmente nas regiões e municípios mais pobres. Entre 1990 e 2007, por exemplo, os bancos fecharam 1.688 agências.  Hoje, a categoria bancária tem mais de 500 mil empregados, esse incremento se deveu essencialmente, às contratações em bancos públicos, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Somente, na Caixa, de 2003 até setembro de 2014, houve, de acordo com a Diretoria de Gestão de Pessoas da CAIXA, a admissão de 70.936 empregados. Já no primeiro semestre desse ano, A Caixa Econômica fechou, sozinha, 1.368 postos (aproximadamente 23% do total de demitidos da categoria). Os cinco principais bancos do país (BB, Caixa, Bradesco, Itaú e Santander), já demitiram mais 10 mil funcionários nos últimos doze meses.

Autor: Cinthia Alves

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