fetec@fetecpr.com.br | (41) 3322-9885 | (41) 3324-5636

Por 09:45 Sem categoria

O linchamento de Lula “deu ruim”

bennettplaneta

Foram três anos de massacre.

Mais de mil dias de Moro, Dallagnoll, Bonner, condução coercitiva, escutas ilegais, Gilmar, Fachin,Veja, Globo, powerpoint, delatores, Kim, Japonês, Odebrecht, OAS,  e de uma incrível história de que o homem que tomava conta da granja e daria guarida a que delas roubassem galinheiros inteiros teria, ele, roubado um frango; frango que não velou, não matou e não comeu.

Olhe que a acusação dispôs de tudo o que quis, de todos os canhões e mísseis listados acima, enquanto à defesa restavam comícios, seminários, debates, artigos e alguns blogs sem recursos na internet.

E, ainda assim, não se convenceu o povo.

Ainda que se acredite no Datafolha piamente, a fragilíssima maioria dos que acham que Lula “deveria ser preso” é formada, quase toda, por gente que acha que isso tem uma razão e um fim: que ele não ganhe a eleição presidencial.

Há nisso um problema que já está evidente a todos, menos aos que se lixam para o Brasil: Lula ganhou a eleição, mesmo que dela seja impedido de participar.

Senão com ele, ainda que com um indicado por ele, não haverá legitimidade em quem venha a vencer, não ao menos no horizonte posto e visível, hoje.

Ao contrário, porque a desarmonia entre os poderes que estamos assistindo resulta, essencialmente, de uma crise de legitimidade.

Que o enxovalhamento do poder Judiciário, com  figuras como os Moros, os Bretas, os Gilmares e Barrosos, todos em busca do “campeonato da moral”, da promoção pessoal ou da afirmação de poder, só fez agravar,  expondo-lhe as contradições.

Quando os juízes descem do pedestal algo mítico que a democracia ocidental lhes deu – e que Cármem Lúcia invoca ao dizer que as decisões judiciais estão acima de tudo – e se esparramam em perfis de Twitter, como Bretas, ou de Facebook, como o tal EuMOROcomele, ou se envolvem em bate-bocas televisados, a la BBB, em plena seção do STF, pretendem estar acima de alguma coisa?

Hoje, no caixa do supermercado, o assunto era o auxílio-duplex de Marcelo Bretas, que virou tema da espera na fila. Um cliente mais direitista, em vão, procurava defendê-lo, dizendo que “está na lei” e só o que ouvia-se é que “esses juízes são tão safados quanto os políticos”.

Esperavam o quê?

Querem que a população entenda e respeite o escandaloso favoritismo a uns e o tratamento impiedoso com outros?

É por isso que mídia, Justiça, poder e dinheiro fizeram tudo o que fizeram, ao longo destes três anos e não conseguem convencer senão a parte desinformada da população de que a mentira é verdade. Os outros, os que nutrem desprezo por este país e por seu povo, não se importam em saber que é mentira, desde que lhes seja útil para excluir Lula.

A outra metade, mesmo debaixo de um bombardeiro incessante, é aquela que sabem quem cuidou dela e que os seus detratores jamais lhe deram algo senão pobreza e abandono.

E age como o personagem da charge do Bennett, genial, aí de cima. À pergunta absurda, dá a resposta correta e firme.

contrib1

Artigo colhido no sítio http://www.tijolaco.com.br/blog/o-linchamento-deu-ruim/

===================================================

===================================================

Uma vida, uma história em troca do Brasil, por Fernando Horta

Foto Ricardo Stuckert

Uma vida, uma história em troca do Brasil

por Fernando Horta

O Tempo é esguio. O ser humano, sendo finito, contempla apenas uma pequena parcela dele. Mesmo com todas as ferramentas científicas que temos, “não enxergamos quando dobra a esquina”. A História brasileira está cheia de episódios em que os atores parecem irracionais no momento presente, mas jogam para um Futuro possível suas ações políticas.

Lula se dá em sacrifício para levar junto uma boa parcela do judiciário corrupto e inepto e esgarçar ainda mais as antigas oligarquias que controlam o Estado brasileiro. Talvez seja o derradeiro movimento de alguém que se tornou tão grande na História que sua morte levará junto uma boa parcela da velhacaria que infesta nosso país.

O poder, a autoridade, a legitimidade são todas noções que podem parecer perenes e sustentáveis, mas são, em realidade, sutilmente engendradas. Aqueles que se fiam na percepção do poder duro acabam perdendo-se quando percebem que poder é sempre uma relação, e, como tal, é líquida. A escolha do PT em manter Luiz Inácio como candidato e não questionar as fundações das nossas carcomidas instituições com um movimento de massas organizada é o sacrifício final do personagem Lula. É brilhante, é triste e é perigoso.

Lula poderia facilmente obter asilo em qualquer embaixada ou em qualquer país, e terminar sua vida sem sofrimentos físicos. Lula poderia já, há muito, ter provocado um grande caos social evocando as massas a um confronto nas ruas. Lula também já poderia ter indicado um sucessor e passar a fazer campanha com ele (preso ou não) colocando-o no segundo turno, com fundadas chances de vencer a eleição. Por quê Lula não faz nada disto?

A resposta beira os enredos de tragédias gregas. E é impressionante.

O conluio mídia-legislativo e judiciário, financiados pelos interesses do capital doméstico e internacional já prenderam Lula, já o venceram em suas instituições e, em pouco tempo, vão submetê-lo à violência do cárcere. A questão é que Lula morre, mas leva consigo TODA a legitimidade do judiciário, do legislativo e sabe-se mais o quê.

Se compararmos com outro personagem também gigante da nossa história, o argumento fica mais fácil de se compreender. Getúlio Vargas foi atacado pela mídia da época por cerca de três anos e meio (de 1950 a agosto de 1954). Criaram mentiras, os jornais o afrontavam, era achincalhado, mas continuava presidente. Após isto, quando ele se mata, o povo que percebia tudo atacou e destruiu as sedes dos partidos opositores e dos Diários Associados (o conglomerado que detinha o monopólio virtual da mídia escrita na época). Foram quase cinco dias de fúria. Carlos Lacerda, o principal jornalista que martirizava Getúlio precisou se exilar para evitar ser morto na rua. A violência institucional não se esvai como pensam aqueles que a usam, nem arrefece facilmente. Ela permanece no tecido social, atingindo justamente aqueles que menos tem.

Agora imaginem perseguir um líder por mais de 30 anos. Um líder que matou a fome do povo e levou água a quem não tinha. Forjarem mentiras, criarem uma condenação sem provas denunciada pelo mundo todo. Operarem um vexame nacional como foram os 3 de Porto Alegre. Imaginem isto depois de terem praticamente matado sua esposa e companheira de lutas, de terem fomentado um movimento de criminalização das classes mais baixas, chamando-os de “vagabundos” e “aproveitadores”. De “ignorantes”, “incapazes” e que merecem passar toda sorte de desgraças. Imaginem o quanto de violência estão infundindo no tecido social. Então prendam o líder. Filmem. Coloquem na televisão, achincalhem. Insuflem mais ainda a violência institucional já percebida como injusta, como grosseiramente engendrada, insustentável aos olhos de quase todos. E isto tudo em meio a um governo de corruptos que vota dia sim dia não leis contra os mais necessitados. Toda esta desordem em meio a uma crise econômica e diminuição da cobertura de saúde, educação e mesmo segurança. Adicione a isto líderes dos três poderes fracos, corruptos ou sem qualificação como Carmem Lúcia, Temer, Maia e Eunício Oliveira …

Lula não vai fugir. Não vai apontar nenhum sucessor.

Lula vai aumentar o custo social e político de cada ação destas instituições esfarrapadas. Pois cada uma das agressões erode ainda mais a legitimidade deste país de senhores de escravos, capitães do mato e juízes fidalgos. Lula vai implodir um sistema corrupto e vil ao custo da própria vida. Como Getúlio, ele entrará para a História, mas a bala não será contra o seu peito. A troca da vida política de Lula pela legitimidade dos seus algozes é aceita pelo presidente de bom grado. Cada foto das arbitrariedades contra Lula é jogada no tempo e será pesada amanhã. Cada decisão ou discurso de Carmem Lúcia, Moro ou Gebran são como pregos nos seus próprios caixões. Cada decisão esdrúxula coloca em evidência que nunca fomos melhores porque temos velhacos como autoridades. Mentecaptos liderando o Estado e elites burras o suficiente para não verem que isto as colocará em situação de perigo, sem qualquer ganho efetivo.

Lula caminha ao sacrifício. Querem engoli-lo e vão. O custo disto, entretanto, aumenta a cada discurso de autoridade ilegítima, a cada defesa corporativa de ignorantes que não são capazes de ver com exatidão o poder como relação. O custo já é quase impagável, as pesquisas eleitorais demonstram, as passeatas e manifestações mostram. Pelo país estouram manifestações espontâneas, na biometria na Bahia, em pleno horário nobre na Globo, no Congresso Nacional …

E Lula continua caminhando … a cada passo o custo maior de lhe atirarem pelas costas. A cada abraço do velho líder ele se torna maior. A cada olhar, cada foto, cada sonho … é impressionante a capacidade de Lula de continuar crescendo. E ele sabe que caminha em direção a um desfecho apoteótico. Ou terão que libertá-lo e reconduzir a democracia brasileira ao seu lugar, e assim tentarem se salvar, ou continuarão a infundir violência no tecido social de forma que o ocaso de Lula – seja na vida ou numa cela – provocará a ruptura do fio de legitimidade que têm as togas ou os que habitam gabinetes em Brasília.

É brilhante. É triste. Mas eu diria que não haveria uma melhor forma de Lula entrar para a História. Não há como segurar o Futuro. Podem prender Luiz Inácio. Lula, contudo, se dá em sacrifício por um país melhor. E não há nada que eles possam fazer. Nada além de contemplarem a própria pequenez e conviverem com isto pelo lapso de tempo que a História lhes der. No fundo, apenas um de nós ganhou já a eternidade.

Artigo colhido no sítio https://jornalggn.com.br/blog/fernando-horta/uma-vida-uma-historia-em-troca-do-brasil-por-fernando-horta

 

Close