Washington – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta ao Brasil satisfeito com o encontro de líderes do G20 financeiro, que reuniu chefes de Estado e de governo de 19 grandes economis desenvolvidas e emergentes neste sábado, em Washington. Para ele, o simples fato de tantos países sentarem ao redor da mesma mesa para falar sobre a economia mundial é histórico.
Os líderes definiram o prazo de 31 de março para a elaboração de propostas para a regulação dos mercados financeiros. Uma nova cúpula está prevsita para 30 de abril. As propostas serão definidas em grupos de trabalho com representantes de governo, técnicos e empresários. As atividades serão coordenadas pelo triunvirato do G20 – Brasil, que está hoje na presidência do grupo, Reino Unido, próximo presidente do G20 financeiro, e Coréia do Sul, que será o líder em 2010.
“Eu, que já estou há seis anos na presidência [da República do Brasil] , já participei de 300 reuniões, em que já discuti individualmente com todos os líderes só posso dizer que o dia de hoje é um dia histórico para a política mundial”, afirmou Lula, pouco antes de embarcar de volta ao Brasil.
Segundo ele, há seis, oito meses, era impossível imaginar que o G20 iria se reunir e iria tomar, por unanimidade, as decisões que tomou para cuidar melhor do sistema financeiro internacional, para cuidar da Rodada de Doha e para definir, de forma coletiva, “as coisas que precisam ser definidas na economia mundial”.
O G20 também orientou seus ministros a se reunirem até o final de dezembro numa tentativa de impulsionar a conclusão da Rodada Doha, que já dura sete anos. Para Lula, o G8 – seleto grupo dos países mais industrializados do mundo mais Rússia que se reúne uma vez ao ano para traçar os rumos da economia mundial – não acabou, mas virou um “clube de amigos” que continuará se encontrando.
“O dado concreto é que pela força política, pela representação dos países que foram inseridos no G20, penso que não tem mais nenhuma lógica tomar decisões sobre economia, sobre política, sem levar em conta esse fórum de hoje. Saio feliz”, reiterou. De acordo com o presidente, todos os líderes concordam com a necessidade de uma melhor administração do mundo financeiro e que as decisões devem ser coletivas.
“Senti uma maturidade que há muito tempo eu não via. Sempre ouvi muita resistência, as pessoas não querendo conversar, com uma certa desconfiança. Depois dessa crise, o eu a gente percebe é que todo mundo tomou um chá muito grande de humildade”, comentou.
Segundo Lula, a mensagem dessa reunião é de que os líderes dos paises ricos e emergentes responsáveis por 85% do PIB mundial agirão, daqui para frente, de forma mais coesa e coordenada. “É um alento importante e sobretudo, eu diria, uma dosagem muito grande de otimismo para o mundo que vive em crise”.
Por Mylena Fiori – Enviada Especial.
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Lula diz que fortalecimento do G20 e regulação dos mercados são principais propostas brasileiras
Washington – O fortalecimento do G20 como instância de articulação de políticas econômicas será uma das principais propostas brasileiras na cúpula do G20 [que reúne 19 grandes economias desenvolvidas e emergentes mais a União Européia] sobre mercados financeiros e economia global, hoje (15), em Washington. “O G8 [grupo das sete maiores economias do mundo mais a Rússia] não tem mais razão de ser, é preciso levar em conta as economias emergentes no mundo globalizado de hoje”, disse Lula
Em rápida conversa com jornalistas, antes da reunião, Lula disse que também defenderá a regulação dos mercados financeiros o mesmo que já foi dito ontem, em jantar com chefes de Estado na Casa Branca. “Eu disse ontem que a vida inteira, quando eu era metalúrgico, para comprar uma televisão eu tinha que fazer 40 ou 60 horas extras por mês. Não é justo que alguém fique bilionário sem produzir uma única folha de papel, sem produzir um único emprego, sem produzir um único salário”, afirmou o presidente.
Pela proposta brasileira, caberia ao G20 a regulação dos mercados. “Se conseguirmos fazer isso, já é uma coisa extremamente importante”, disse Lula.
O presidente se mostrou otimista quanto ao encontro de hoje, apesar das diferenças de posições já explicitadas por Estados Unidos e o resto do mundo quanto a temas-chave, como a regulamentação e supervisão das operações financeiras. Bush é a favor do livre mercado e era teoricamente favorável à regulamentação de mercados, acha que cada país deve tratar do seu quintal. Para dificultar consensos, o presidente norte-americano, que está em final de mandato, tem posições diferentes das de seu sucessor, o democrata Barack Obama, que toma posse em 20 de janeiro.
Lula reconhece que a situação de Bush é delicada, mas acredita que será possível sinalizar ao mundo que a crise será superada mais rápido do que se espera. “A situação americana é delicadíssima, tem uma transição entre o presidente que vai sair e o presidente que vai entrar, mas acho que o presidente Bush tem que assumir a responsabilidade de que é o presidente até o dia 20 de janeiro e não pode ter vacilaçoes na questão do tratamento da crise”.
A exemplo do que fez na abertura da reunião de ministros de economia e presidentes de bancos centrais do G20 financeiro, há uma semana, em São Paulo, Lula pedirá que os países ricos assumam sua responsabilidade pela crise. “A melhor solução para evitar que a crise se alastre é os países ricos resolverem seus problemas. É a primeira vez que os problemas não estão nos países pobres”, afirmou. “Não adianta ficar procurando medidas paliativas se não resolver o problema crônico da política econômica americana e da política econômica européia”.
Lula participa das sessões plenárias do G20 financeiro agora pela manhã. Depois, terá almoço com os chefes de Estado e de governo para tratar da Rodada Doha. Antes de voltar ao Brasil, ainda terá encontro com o presidente da China, Hu Jintao.
Por Mylena Fiori – Enviada Especial.
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Lula propõe G20 como grupo permanente para articulação de políticas financeiras
Washington – Como previamente anunciado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs aos líderes do G20 financeiro que o bloco seja transformado em um grupo permanente de Chefes de Estado e de Governo para articulação de políticas financeiras.
A proposta foi apresentada hoje (15) em discurso de cinco minutos na cúpula sobre economia mundial e mercados globais. O G20 foi criado há dez anos como instância de diálogo entre ministros de economia e presidentes de bancos centrais de 19 grandes economias desenvolvidas e emergentes.
Lula aproveitou e pediu mais espaço em organismos financeiros multilaterais para os países emergentes, responsáveis por 75% do crescimento mundial.
“Os organismos multilaterais existentes e as regras internacionais vigentes foram reprovados na história. Tanto o FMI quanto o Banco Mundial devem se abrir para uma maior participação das economias em desenvolvimento”, disse Lula.
Lula repetiu os argumentos usados na abertura da reunião de ministros e bancos centrais do G20, no final de semana passado, em São Paulo. Chamou os especuladores de irresponsáveis e pediu aos países ricos que assumam sua culpa pela crise financeira global.
Ele frisou que a inconseqüência dos mercados desenvolvidos põe em risco políticas de estabilização econômica e inclusão social adotadas nos países em desenvolvimento.
“Todo esse esforço, resultante de forte mobilização social e política em nossos países, está hoje ameaçado por uma crise que não criamos. Ela nasceu nos países centrais. É fruto da ganância de irresponsáveis especuladores e – tenho de dize-lo com franqueza – da absoluta falta de mecanismos sérios de regulação dos mercados financeiros”.
A regulamentação de mercados é justamente um dos temas polêmicos do G20 financeiro. Todos concordam com a necessidade de maior controle sobre as operações financeiras, mas há divergências quanto à forma de fazer isso.
Os Estados Unidos, onde se desencadeou a atual crise, defendem que cada governo regule seu próprio mercado. Para Lula, um G20 fortalecido seria a instância ideal para a formulação desse tipo de política.
O presidente também chamou atenção para o comércio internacional como impulsionador do crescimento econômico e defendeu a conclusão da atual rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio.
“Ela [a Rodada Doha] indicaria a decisão de uma ação global coordenada, que injetaria confiança nos mercados e conteria o surgimento de tendências protecionistas”.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, os líderes destacam no documento final da cúpula do G20 – que será divulgado ainda hoje – a necessidade de se chegar a um acordo na Rodada Doha até o final deste ano.
A cúpula de hoje, convocada pelo presidente George W. Bush, foi a primeira reunião de chefes de Estado e de Governo do G20 e a simples convocação do encontro já é considerada um avanço e um reconhecimento, pelos países do G8, de que não são mais capazes de definir sozinhos os rumos da economia mundial.
Segundo Celso Amorim, os líderes assumiram o compromisso de realização de uma nova cúpula até o dia 30 de abril de 2009.
Por Mylena Fiori – Enviada Especial.
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