Sistema de cotas, entretanto, ainda não conseguiu igualar oportunidadesBrasília – A relação entre brancos e negros que freqüentaram o ensino superior em 2007 caiu para menos da metade da realidade de dez anos antes. Apesar disso, o sistema de cotas ainda não conseguiu acabar com a disparidade de oportunidades ao acesso às universidades.
Em homenagem ao principal ícone da luta contra a escravidão no país, Zumbi dos Palmares, na próxima quinta-feira (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra. O líder foi assassinado no dia 20 de novembro de 1695.
Segundo o secretario de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (MEC), André Lázaro, no ano passado existiam 2,6 brancos cursando o ensino superior para cada negro. Em 1997, a relação era de 5,6.
Apesar da melhora, das 55 universidades federais do país, somente 16 adotam hoje algum sistema de reserva de vagas para negros em seus processos seletivos. Em 2007, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3,9% da população de pretos e pardos com mais de 25 anos tinha ensino superior completo. Entre os brancos, o percentual é três vezes maior: 12,6%.
Discriminação intelectual – As diferenças entre brancos e negros não se concentram apenas no acesso ao ensino superior, mas em todas as etapas do ensino. Os negros são maioria no contingente de analfabetos do país – somando 9 milhões do total de 14 milhões – e estão mais atrasados nos estudos do que o restante da população.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio, a diferença no rendimento reflete uma escola e um sistema de ensino que não acolhe a população negra. “A escola diz que o grupo do outro [dos brancos] é a grande referência para a humanidade. Foi o grupo do outro que construiu, ele representa a civilização. E o meu grupo [negros] não representa nada. Isso é colocado de forma persistente nos livros, nas lições, e o aluno vai obter reações muito negativas em relação ao processo. Ele se pergunta: na medida em que a escola não me reconhece, que sentido faz eu estar na escola?”, aponta.
Em 2007, cerca de 85,2% dos brancos na faixa de 15 a 17 anos de idade, estavam estudando, sendo que 58,7% freqüentavam o nível médio, adequado a esse grupo etário. Já entre os pretos e pardos dessa faixa etária, 79,8% freqüentavam a escola, mas apenas 39,4% estavam na série correta.
Luiana Maia, de 19 anos, aluna do curso de História da Universidade de Brasília (UnB) admitida pelo sistema de cotas, diz que o material didático usado não é adequado. “Os alunos negros não se sentem representados pelos próprios livros que usam. Ele se vê apenas no tronco, no açoite. O aluno só se vê na posição inferior, chega em casa abatido, aquilo impacta no desempenho”, compara.
A professora da Rede Municipal de Ensino de Manaus, Ana de Oliveira, acha que, por preconceito e falta de interesse pela temática racial, a maioria dos educadores não leva adiante a determinação federal de colocar em prática na sala de aula o ensino da história e da cultura afro-brasileiras.
“Nós, professores, temos recebido apoio do governo federal para trabalhar o tema. Falta agora a iniciativa de cada professor. Trata-se de um processo de mão dupla”, afirmou a educadora. “Do contrário, a lei estará sempre engavetada”, completa, referindo-se à Lei 10.639 que, desde 2003, estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileiras nas escolas públicas e particulares do Ensino Fundamental e Médio.
André Rossi com Agência Brasil