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Por 10:25 Bancos, Recentes

Banco Central vetou compra de Banco Master pelo governo do DF

Após as denúncias de Ricardo Cappelli (PSB-DF), que preside a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o Banco Central (BC) rejeitou a operação que previa a aquisição do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). A decisão, comunicada às partes nesta quarta-feira (3), encerra uma negociação que se arrastava desde março e que gerou polêmica tanto no mercado financeiro quanto no cenário político. Em comunicado oficial, o BRB informou aos investidores que o BC a rejeição do pedido de aquisição de participação no Banco Master:

“O BRB – Banco de Brasília S.A. (“BRB”; B3: BSLI3 e BSLI4) comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral que foi informado pelo Banco Central (“Bacen”) sobre o indeferimento do requerimento protocolado em 28 de março de 2025, referente à aquisição de 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do Banco Master S.A. (“Banco Master”). O BRB apresentou solicitação de acesso à íntegra da decisão, com o objetivo de avaliar seus fundamentos e examinar as alternativas cabíveis”.https://22bc529be80fea3f8aa32e997157c88d.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-45/html/container.html?n=0

No mesmo informe, o banco destacou que segue estudando os próximos passos a serem tomados: “O BRB reitera seu posicionamento de que a transação representa uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB, seus clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional e manterá seus acionistas e o mercado informados sobre eventuais desdobramentos relevantes, nos termos da legislação e da regulamentação aplicáveis”.

Já o Banco Master declarou que também aguarda acesso integral à decisão para compreender os fundamentos do indeferimento e avaliar possíveis caminhos, reforçando sua confiança na estratégia de negócios adotada. A decisão do BC encerra, por ora, uma das mais controversas operações do sistema financeiro recente, que envolveu desconfianças sobre a real situação do Master, disputas no Congresso e suspeitas de favorecimento político.

O veto também ocorre em meio a uma ofensiva do centrão no Congresso para tentar ampliar poderes sobre a diretoria do Banco Central. Nos bastidores, a movimentação foi interpretada como uma pressão adicional sobre a autoridade monetária. Nas redes sociais, Ricardo Cappelli acusou a existência de uma “negociata de R$ 2 bilhões” que, segundo ele, envolveria políticos do Centrão, dirigentes do BRB e até integrantes do Banco Central.

“Quando a gente tem coragem de lutar e denunciar, a vitória vem. Ibaneis e Celina, podem se preparar: vamos continuar defendendo os interesses do povo do Distrito Federal”, disse Cappelli em um vídeo publicado no X logo após a decisão do Banco Central nesta quarta (3).  

Após ganhar notoriedade durante a intervenção na segurança do Distrito Federal no período pós-ataques de 8 de janeiro de 2023, o presidente da ABDI passou a assumir papel de protagonista nas críticas à negociação barrada pelo Banco Central. Próximo ao ministro do STF Flávio Dino, com quem trabalhou como secretário executivo no Ministério da Justiça, ele agora utiliza sua campanha ao Palácio do Buriti como espaço de confronto direto contra o governador Ibaneis Rocha (MDB) e a vice Celina Leão (PP).

Pelas redes sociais, Cappelli acusou a operação de servir para “desviar recursos públicos em favor de um banqueiro ligado a Ibaneis e Celina”. Para ele, a decisão do BC representa “apenas uma primeira vitória” em um embate que promete se intensificar. Segundo a denúncia, a manobra faria com que o Governo do Distrito Federal deixasse de destinar R$ 2 bilhões à saúde para privilegiar interesses privados de aliados.

Ao vetar a operação, o Banco Central não só garantiu a estabilidade do sistema financeiro, como também revelou a tentativa de transformar uma instituição pública em instrumento de interesses privados. Em março deste ano, em entrevista à Fórum, Cappelli comentou o caso:

“É um escândalo a tentativa do governador Ibaneis Rocha de comprar por 2 bilhões de reais, através do BRB, um banco insolvente que quase foi vendido para o BTG por 1 Real. […] Essa operação vai quebrar o BRB e empurrar a conta deste absurdo para o povo do Distrito Federal. O Banco Central precisa impedir esse escândalo”.  

Centrão quer poder para destituir diretoria do BC 

Partidos do centrão, liderados pelo PP, tentaram uma ofensiva na Câmara dos Deputados para aprovar uma proposta que autoriza o Congresso Nacional a demitir o presidente e os diretores do Banco Central. A investida aconteceu justamente enquanto o BC finalizava a avaliação da compra do Banco Master pelo BRB. Isso aumentou a pressão sobre o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, Renato Gomes.

Cappelli lembra que os ministros do Turismo, Celso Sabino (União-PA), e do Esporte, André Fufuca (PP-MA) decidiram deixar recentemente o governo como uma resposta do Centrão à Lula, mas destaca que “a valentia do anúncio de rompimento com o governo Lula é medo do que está por vir”, escreveu em suas redes sociais. O jornalista afirma que, em vista disso, os congressistas desenterraram o PL que demite os diretores do BC. O projeto daria ao Congressso o poder de demitir diretores do BC sempre que sua conduta for julgada “incompatível com os interesses nacionais”. 

O Banco Master, controlado pelo banqueiro Daniel Vorcaro, mantém relações próximas com figuras do centrão, especialmente com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP. Nogueira é citado como um dos articuladores da votação da urgência do projeto. Na Câmara, o líder do PP, deputado Doutor Luizinho (RJ), e o vice-presidente do partido, Claudio Cajado (BA), atuaram para coletar assinaturas a favor da urgência de uma proposta de 2021 que altera a lei de autonomia do Banco Central.

Se aprovado pelos deputados, o impeachment ainda dependerá do aval do Senado, que também precisará de maioria absoluta para validá-lo. A proposta, que voltou a circular com o apoio de partidos do centrão, é de autoria do ex-deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP) e surgiu durante as discussões sobre a independência do Banco Central.

O requerimento para acelerar a tramitação do projeto foi protocolado por Claudio Cajado e recebeu adesão dos líderes de partidos com forte presença na Câmara, incluindo PP, MDB, União Brasil, PSB, PL e Republicanos. Juntos, esses blocos parlamentares concentram 300 deputados — margem confortável acima do quórum de 257 votos exigido para aprovação da urgência.

Foto: Jerônimo Gonzalez/Ministério da Justiça

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