Os protestos contra a chamada PEC da Bandidagem e o projeto de anistia a golpistas, que mobilizaram milhares de manifestantes em pelo menos 33 cidades brasileiras neste domingo (21), repercutiram amplamente na imprensa internacional. Veículos como Reuters, The Guardian, AFP e AP News destacaram o caráter histórico das mobilizações, lembrando da tensão gerada entre os Poderes e dos recentes ataques à democracia no Brasil pela extrema direita no Congresso e a conjuntura das investidas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o país.
Em matéria publicada nesta segunda-feira (22), a agência internacional Reuters destacou a força e a abrangência dos protestos. Segundo o veículo, os atos representaram “as manifestações mais expressivas da esquerda brasileira em anos” e simbolizam uma reação contundente contra o avanço de propostas que buscam blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro e parlamentares aliados por ataques à democracia.
A reportagem apontou que os protestos ocorreram num momento crucial: a primeira grande mobilização nacional desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Bolsonaro por conspirar contra o Estado Democrático de Direito a 27 anos de prisão.https://775b53a2440a31cd3ff0cc03bade0ef6.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-45/html/container.html?n=0

Ainda segundo a Reuters, os protestos da esquerda rivalizaram em número com os atos pró-Bolsonaro realizados semanas antes, no dia da Independência, também em São Paulo e Brasília. A matéria ressalta o contraste simbólico entre os dois eventos: enquanto bolsonaristas hastearam bandeiras dos Estados Unidos, os manifestantes contrários à anistia desfilaram com uma enorme bandeira do Brasil com os dizeres “Sem Anistia”.
Já o The Guardian parte de um ponto claro: a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão por conspirar contra as instituições democráticas após a derrota nas eleições de 2022. A narrativa construída pela reportagem não apenas relata os fatos, mas contextualiza o julgamento e a posterior reação da população como um marco da maturidade democrática brasileira, especialmente quando confrontada com o trauma não resolvido da ditadura militar (1964-1985).
A tentativa de golpe, que incluiu supostos planos de assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e de um ministro do STF, torna ainda mais graves os esforços para se conceder perdão judicial ao ex-mandatário. A reportagem lembra que esses movimentos eram vendidos como uma tentativa de “pacificação” por parte da direita conservadora, mas questiona se tal pacificação pode ocorrer à custa da impunidade.

O The Guardian ainda resgatou o simbolismo cultural, político e histórico presente na presença de ícones da música brasileira como Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil, artistas cuja história se entrelaça com a resistência ao regime militar. “Os protestos pró-democracia foram liderados por alguns dos músicos mais amados do Brasil, incluindo um trio de lendários compositores que estavam na vanguarda da luta contra a brutal ditadura militar de 1964-85 do país”, diz o periódico.
Para o jornal britânico, enquanto o Brasil busca justiça e responsabilização, os EUA enfrentam em contraste “o retrocesso democrático nos EUA sob o aliado reeleito de Bolsonaro, Donald Trump”
De acordo com uma fonte entrevistada pela reportagem da Associated Press (AP), “as mobilizações da direita costumavam ser três vezes maiores que as da esquerda. Nos últimos meses, esse padrão mudou”. Assim como a Reuters, o jornal também destacou o contexto de polarização, lembrando que protestos anteriores de apoiadores de Bolsonaro chegaram a exibir a bandeira dos Estados Unidos em São Paulo, em agradecimento às sanções econômicas impostas pelo presidente Donald Trump. Como resposta, manifestantes progressistas exibiram uma gigantesca bandeira brasileira, reafirmando a defesa da soberania nacional.

A rede árabe Al Jazeera enfatiza que o Congresso, dominado por uma maioria conservadora, está sendo acusado pelos manifestantes de priorizar seus próprios interesses, protegendo políticos corruptos e criminosos ao invés de atender às demandas sociais e econômicas da população, além disso, lembra da condenação do ex-presidente.
“O ex-presidente, que negou qualquer irregularidade, é o primeiro a ser condenado por tentar derrubar uma eleição na maior economia da América Latina”

Por fim, a CBS News destaca a grave crise política e institucional que o país enfrenta, mas com avanços democráticos significativos no governo Lula, trazendo uma frase do ator Wagner Moura. “Este é um momento extraordinário na democracia brasileira, que serve de exemplo para o mundo inteiro”, reproduziu o jornal.
A Agence-France Press (AFP) trouxe o papel da sociedade civil, da cultura e da política na defesa da democracia e destacou a fala de manifestantes, ressaltando o caráter “revolucionário” da mobilização.
“Giovana Araújo estava entre os presentes em um show que definiu como revolucionário. “Eles foram literalmente boicotados durante a ditadura militar e vê-los aqui é sinônimo de resistência”, disse à AFP a estudante de psicologia, de 27 anos. “Mais uma vez os artistas movimentando o povo para pedir justiça nesse país”, afirmou por sua vez Yasmin Aimeé Coelho Pessoa, estudante de sociologia de 20 anos”.
Foto: Roberto Parizotti/CUT
Texto: Alice Andersen
Fonte: Revista Fórum