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Na sala, no quarto, na cozinha: impactos do home office na categoria bancária

Uma das dimensões do trabalho da categoria bancária durante a pandemia é do atendimento direto ao público, presencial, nas agências bancárias, em que o movimento sindical atua para garantir prevenção de exposição a riscos e medidas sanitárias em casos de contaminação.

Esse procedimento tem sido constante com iniciativas de negociação a partir de um comitê de crise criado ainda no mês de março de 2020, após o anúncio da Organização Mundial de Saúde sobre vivermos uma pandemia mundial.

Esse trabalho presencial na linha de frente é serviço essencial e ainda mais importante no papel exercido no pagamento do auxílio emergencial, pelos empregados da Caixa, em todo o país. Mas a outra dimensão do trabalho da categoria bancária na pandemia é a que ninguém vê: o serviço prestado em home office.

O mesmo comitê de crise, bipartite, com representantes dos trabalhadores e dos empregadores, possibilitou via negociação, ainda em março, que parte dos bancários fossem imediatamente colocados em home office: as pessoas em grupo de risco, como idosos e com comorbidades, e trabalhadores que coabitam com crianças em idade escolar.

Para mensurar os impactos do teletrabalho na vida desses bancários, o Dieese construiu, junto à Contraf-CUT e com atuação direta dos sindicatos nas cidades e estados, uma pesquisa, aplicada no mês de julho, com o objetivo de mensurar as condições de trabalho de mais de 230 mil bancários – metade da categoria – que foram colocados em home office e, a partir disso, entender as reais necessidades dessas pessoas e pautar as negociações sobre acordos de teletrabalho com os bancos – na pandemia e depois delas.

Nas relações de trabalho, conforme avaliação do Dieese, o home office representa “potencial transferência de custos fixos e riscos da empresa para o(a) trabalhador(a)” e, apesar dessa constatação de que o novo local de trabalho dessas pessoas varia entre a sala (44,8%), o quarto (28,8% em quarto individual e 9,3% compartilhado) e a cozinha (5,1%) – outros 19,2% dos respondentes possuem um escritório em casa para trabalhar -, o estudo revela a aceitação do novo regime de trabalho pelos(as) bancários(as): 27,7% dos respondentes ao questionário disseram querer continuar em home office todos os dias, mesmo após o fim da pandemia, e 42,0% gostariam de adotar um regime misto, entre o home office e o trabalho presencial. Outros 26,5% preferem voltar integralmente ao regime presencial.

Antes da pandemia, o investimento em soluções tecnológicas pelas instituições financeiras culminou num processo de fechamento de mais de três mil agências bancárias no país, desde 2013. Entre 2013 e 2019, os bancos fecharam mais de 70 mil postos de trabalho. Então, o que já era uma tendência em percurso, se acelerou. Conforme relatório do Dieese, “está em curso uma intensa reestruturação na forma de atuação dos bancos no Brasil, tendo como objetivo a melhoria dos seus índices de eficiência e expansão dos negócios com menores custos”. Fatia esta que cabe à redução de despesas com pessoal e agora mais intensamente com infraestrutura de trabalho, acelerada pelo home office necessário durante o período de pandemia, que deve se manter no cenário pós-pandemia.

O estudo do Dieese lembra que o conceito de teletrabalho foi incorporado à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu novo Artigo 75-A, após a Reforma Trabalhista de 2017 (Lei 13.467/17), atualização que precarizou as relações trabalhistas para os trabalhadores, beneficiando empregadores, mas que até o momento não se observa impactos como o aumento da geração de emprego no país.

Impactos do home office nos trabalhadores bancários

O objetivo da pesquisa foi conhecer as condições de trabalho da categoria bancária em home office: avaliar o fornecimento de equipamentos pelos bancos, a realização e cumprimento da jornada de trabalho, avaliar o impacto na saúde do(a) trabalhador(a), na conciliação das tarefas de trabalho com tarefas domésticas e na relação com os demais membros do domicílio, e também identificar as prioridades para a negociação

O questionário, composto por 33 questões, ficou disponível online entre os dias 01 e 12 de julho de 2020 e foi respondido por 11.133 trabalhadores e trabalhadoras em todo o país. Destes, 8.560 respondentes (78,3% do total de respondentes considerado na análise da pesquisa), foram considerados nas avaliações por atender ao critério de efetivamente realizar ou já ter trabalhado em home office.

A pesquisa tem dados sobre local territorial dos bancários, gênero, raça, faixa etária, percentual de sindicalização, tempo de banco e também em qual banco essas pessoas trabalham, além de dados sobre jornada e local de origem do trabalho (agências, departamentos, centrais de atendimento, agências digitais). A pesquisa também mensura cargos, funções, faixas salariais, dando um diagnóstico completo desse percentual da categoria bancária que trabalha ou já trabalhou em home office.

As demandas e dificuldades criadas pelo home office são: inadequação do ambiente da residência para a realização do trabalho, falta de equipamentos e mobiliário adequados, surgimento de novos problemas de saúde, sensação de isolamento, elevação de custos residenciais, falta de controle da extensão da jornada de trabalho.

A pesquisa revela que 65,7% dos(as) respondentes, desde 8.560 que atendem ao critério do home office, mora com três ou mais familiares; 25,9% moram com duas pessoas e apenas 8,4% disseram morar sozinhos. Metade dos(as) respondentes (49,2%) declararam morar com filhos em idade escolar.

Sobre a passagem para o regime do home office, 98,8% declararam ter começado a trabalhar nessa modalidade devido à pandemia, sendo que 75,6% o faziam todos os dias; 9,8% estavam em sistema de rodízio – metade presencial e metade em home office; 7,5% trabalhavam, predominantemente, em regime presencial, fazendo home office esporadicamente; e 7,2%, predominantemente em home office, trabalhando no presencial esporadicamente. Apenas 1,2% das respostas são de quem já trabalhava em home office antes da pandemia.

Onde o bancário trabalha?

– 44,8% na sala;

– 28,8% em quarto individual;

– 19,2% em escritório;

– 9,3% em quarto compartilhado;

– 5,1% na cozinha.

Os equipamentos de ergonomia em casa (apoios para braços e pernas) são considerados muito ruins para o trabalho por 22% e ruins por 23%.

Os bancos custearam equipamentos?

– 32,5% afirmaram não terem recebido qualquer equipamento ou suporte por parte dos bancos

– 50,8% declararam terem recebido notebook ou computador;

– 16,4% receberam cadeira;

– 11,0% receberam celular;

– 10,6% receberam fone de ouvido.

O fornecimento de equipamentos e infraestrutura tem diferenças significativas entre as diferentes instituições, pois cada banco implementou suas próprias diretrizes, que posteriormente a negociação com o movimento sindical foi garantida pela campanha salarial, mas sem a possibilidade de convencionar critérios únicos para todas as instituições.

O Banco do Brasil, por exemplo, não forneceu nenhum equipamento para 54,4% dos respondentes, assim como o Santander, de acordo com 50,1% das respostas. Somente 7% dos trabalhadores do Itaú não receberam nenhum suporte de infraestrutura e esse índice chega a 21,5% no Bradesco e 24% na Caixa.

O auxílio-financeiro para home office aparece na pesquisa em somente 0,9% das respostas e 51,7% dos respondentes em home office afirmaram desconhecer qualquer canal interno do banco para tratar das demandas relacionadas ao home office.

Em comparação o trabalho presencial, 13,5% dos(as) respondentes consideraram muito mais difícil o cumprimento das metas em home office; 22,8% consideraram mais difícil; e 41,2% consideraram que não há diferença.

Sobre a jornada de trabalho, para 58,9% ela permanece igual; aumentou muito para 13,6%; e outros 22% responderam que aumentou pouco, sendo que 32,3% responderam que não há qualquer controle de jornada e 25,9% declararam que estavam trabalhando mais, porém, sem acumular banco de horas ou receber horas extras.

A maioria dos bancários que declararam que trabalham mais, não recebem hora extra e nem banco de horas são da Caixa (54,1%).

De acordo com a pesquisa do Dieese, “estudos anteriores corroboram que o home office tem sido associado à extensão da jornada de trabalho, bem como à sua intensificação, fruto da condensação de grande número de tarefas em um(a) mesmo(a) trabalhador(a).

Impactos na saúde do trabalhador

A pesquisa também abordou em múltiplas respostas os possíveis impactos para a saúde desses trabalhadores em home office, comparando antes e depois, apresentando dados de aumento dos percentuais em situações como sobre desmotivação e vontade de não trabalhar; vontade de chorar; ansiedade; dificuldade de dormir; de se concentrar; de perder a cabeça; crise de dor de cabeça, de estômago; dores nas articulações e musculares; cansaço constante; medo de ser dispensado. Este último, por exemplo, apresentou variação de somente 2% antes da pandemia, com o trabalho presencial, para 27% com o home office.

Esses resultados da pesquisa corroboram o que é perceptível na prática, nos atendimentos promovidos pela Secretaria de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato. De acordo com Patricia Carbonal, diretora da pasta, funcionários que estão em home office procuram o Sindicato solicitando atendimento psicológico, denunciam gestores que cobram de maneira exacerbada, que sofrem ameaças de retirada de home office por desempenho.

“A pressão aumentou muito mais. São denúncias de gestores que amarram queda de produtividade à ameaça de retomada do trabalho presencial; reclamações de gestores que não entendem que a velocidade da internet não é a mesma do banco e que reflete diretamente no trabalho, cobranças com ligações e mensagens o tempo todo”, relata a dirigente.

Procure ajuda do Sindicato

Além desse contato direto com o bancário em home office que procura ajuda do Sindicato, via assistente social, da intermediação para a resolução das denúncias, a entidade também disponibiliza atendimento psicológico online, através de parceria com a Plataforma Keiken.

Para entrar em contato para atendimento, denúncias ou algum suporte relacionado às condições de trabalho, utilize os seguintes canais:

Site: Fale Conosco

Whatsapp: (41) 9-9989-8027 (Secretaria de Saúde)

Plataforma Keiken: saiba mais aqui e solicite atendimento psicológico gratuito pelo e-mail saude@bancariosdecuritiba.org.br

Como amenizar os impactos dos problemas do home office?

Para 68,1% dos(as) respondentes, o ideal seria o fornecimento de melhores equipamentos, inclusive voltados à ergonomia; para 19,4%, seria importante ter disponível um canal de atendimento com médicos do trabalho; e, para 14,8%, o ideal seria a redução da jornada de trabalho em home office.

Para além das questões de saúde, entretanto, outras dificuldades enfrentadas pelos(as) bancários(as) em home office foram identificadas, tais como o aumento dos gastos na residência, com destaque para os gastos com supermercado e energia elétrica, uma vez que o tempo no domicílio foi intensificado nesse período.

– 78,6% aumento da conta de energia elétrica

– 72% aumento do gasto com supermercado

– 41,6% aumento da despesa com gás de cozinha

– 19% apontaram a retirada de vale-transporte e/ou combustível

Em suas considerações finais, o Dieese lembrou que “a prática mais corrente na administração dos bancos é tratar o home office como um “prêmio” ao(à) trabalhador(a), que deveria, portanto, arcar com os custos desse “benefício””, e é nesse sentido que o movimento sindical vai atuar para defender a categoria. “Nós estamos sempre reivindicando e atuando para resolver as denúncias, para que as condições de trabalho sejam adequadas e que os custos dessa realocação sejam, de fato, do empregador, ainda que seja, num futuro pós-pandêmico, possibilitado ao bancário se manter em home office como escolha”, afirma Antonio Luiz Fermino, presidente do Sindicato.

Os dados estatísticos, os gráficos ilustrativos e a análise completa do Dieese podem ser acessados aqui.

Fonte: SEEB Curitiba e Dieese

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