RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo
Mais de 1.200 pessoas compareceram, no sábado, à igreja matriz do município de Vargem Grande Paulista (a 46 Km de São Paulo) para se “cadastrarem” no programa Fome Zero e receberem o benefício de R$ 50 mensais.
O responsável por organizar o evento de “cadastramento”, que terminou por se transformar em ato político de elogio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi o ex-candidato à prefeitura local pelo PT Ricardo Campolim, derrotado nas eleições de 2000.
Não existe cadastramento local para o Fome Zero. O Mesa (Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome), responsável pelo programa, utiliza um cadastro único produzido ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. Os beneficiados só podem ser mudados por sugestão do Comitê Gestor local e pelo prefeito. Campolim admitiu que o evento não havia sido informado ao ministério.
As pessoas que compareceram ao local foram informadas sobre o “cadastramento” por meio da rádio comunitária Oito de Dezembro (de cuja direção participa Campolim). Convites em forma de panfleto também foram distribuídos. O ex-candidato petista confirmou à Folha ter sido o responsável pelo papel, no qual é possível ler: “Aqui, em Vargem Grande Paulista, o programa Fome Zero vai iniciar com dinheiro. Vai cadastrar as famílias mais necessitadas e distribuir a elas o cartão-alimentação. Mas é preciso que você, sua família, seu vizinho compareçam”.
As pessoas que se aglomeravam em frente ao salão paroquial da igreja preenchiam uma ficha em que registravam nome, telefone e endereço. Mais de uma vez foi anunciado pelos alto-falantes que o preenchimento serviria para que elas se habilitassem a receber o cartão-alimentação. Um estoque de 1.200 formulários acabou.
Enquanto isso, representantes do PT e da prefeitura de São Paulo (administrada pela petista Marta Suplicy) faziam discursos elogiosos ao governo Lula.
Wellington Diniz Monteiro, da secretaria do PT de acompanhamento do Fome Zero, e Roseli Leal, representante da prefeitura paulistana, disseram ter sido convidados por Campolim para falar sobre o programa e que desconheciam a divulgação que associava o evento ao “cadastramento” para receber o benefício.
Monteiro –que distribuiu material publicitário sobre o programa– foi apresentado como representante do deputado estadual Simão Pedro (SP), coordenador estadual do PT para acompanhamento do Fome Zero. O deputado também negou que soubesse da campanha de “cadastramento” e afirmou que, convidado, aceitou mandar Monteiro como seu representante.
Andréia de Oliveira Santos, 28, casada e mãe de três filhos, soube “pela boca do povo” que ali poderia conseguir o benefício de R$ 50. Silvana de Oliveira, 59, soube pelo panfleto. Diz ter dois filhos doentes e precisar da ajuda.
O prefeito da cidade, Roque de Moraes (PSDB), que concorrerá à reeleição em 2004, também compareceu ao evento. Ao discursar, disse que, embora não pertença “ao partido”, apóia o Fome Zero e a iniciativa do presidente Lula.