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A amnésia tucana

Nos últimos meses, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus seguidores intensificaram as críticas ao governo Lula. Num surto de amnésia, bem ao estilo tucano, fazem cobranças como se não tivessem passado oito anos implementando um projeto liberal-conservador ao lado do PFL.
Armados de rancor, praticamente pedem que se esqueça do seu legado e cobram práticas nunca realizadas no seu governo. Vociferam contra a crônica corrupção da máquina pública e omitem que foi justamente no “reinado” de FHC que se impediu a instalação de CPIs para investigar graves denúncias, como favorecimentos nas privatizações.
Esses ataques combinam com a ausência de proposições para solucionar os problemas do país, a começar pela falta de apoio a uma reforma política de caráter estruturante e moralizadora dos costumes políticos brasileiros, como a instituição de financiamento público de campanhas.
O ex-presidente, travestido de paladino da moralidade, tergiversa aqui e ali e, certamente incomodado com os resultados do governo Lula, sob todos os aspectos superiores à gestão tucano-pefelista, ainda estrila contra a “armadilha econômica” do governo atual e a taxa de juros “cavalar” de 19%.
Ora, o seu governo quebrou o Brasil duas vezes, adotou taxa de juros de 45% e gerou o crescimento mais pífio de toda a história do país.
O PSDB, tardiamente, fala em eficiência administrativa, equilíbrio fiscal e reparação social. Mas no mandato de FHC, a dívida pública saltou de R$ 67 bilhões para cerca de R$ 670 bilhões, ou seja, de 23% para 58% do PIB, mesmo com a brutal elevação da carga tributária (de 26% para 35% do PIB) e os R$ 87 bilhões obtidos com as privatizações.
O governo Lula paralisou o processo de aumento acelerado da dívida pública (hoje, 51,5% do PIB) e deixou para trás os sucessivos déficits comerciais de Fernando Henrique Cardoso.
Em 34 meses de gestão Lula, o Brasil acumulou saldos comerciais de US$ 98 bilhões, contra apenas U$ 0,5 bilhão em oito anos de FHC. Talvez o ambiente de disputa pré-eleitoral leve a oposição a não reconhecer esses resultados.
Mesmo herdando contas públicas deterioradas, o atual governo passou ao largo da explosão dos preços do petróleo, não precisou renovar o acordo com o FMI e diminuiu a vulnerabilidade externa do Brasil. Não aceitou as bases perversas da Alca e incorporou como prioridade o Mercosul, priorizou o diálogo com os movimentos sociais e estancou a informalização no mercado de trabalho, gerando, mensalmente, 104 mil empregos formais, ante a pífia média de 8 mil mensais do período de Fernando Henrique. O governo Lula triplicou o financiamento para a agricultura familiar, incluiu 8 milhões de famílias no Bolsa-Família e deu início a pelo menos oito programas de inclusão social inéditos na história republicana.
Reconhecemos os erros do PT e as ilegalidades cometidas, que queremos corrigir e não repetir.
Mas os tucanos se recusam a falar do caixa dois de sua campanha presidencial de 2002 -apuração solicitada pelo PT ao TSE- e do senador Eduardo Azeredo (MG), acusando o governo e o PT de não quererem aprofundar as investigações das denúncias.
Talvez, na ótica tucana, três CPIs em pleno funcionamento, afastamentos, demissões, expulsões e indiciamentos, o trabalho independente da CGU, da Polícia Federal e do Ministério Público com o apoio do presidente da República e do PT, tudo isso não seja suficiente para aplacar seu rancor. Mas, com certeza, é incomparável com o “quase nada” de investigações e punições durante os oito anos de FHC.
Chama a atenção a virulência dos ataques ao presidente Lula e ao PT e a total ausência de um programa ou de sugestões para a superação da crise atual.
Em seus programas eleitorais, a oposição chega até a esconder as siglas dos partidos, suas lideranças e o tempo que ficaram no poder. Raivosos, escorregam em expressões preconceituosas, racistas e chulas, e chegam a incitar a violência, em arroubos juvenis em que vociferam ameaças de “surras” no presidente da República.
Grosserias à parte, pergunta-se: além dos ataques sistemáticos e do denuncismo endêmico, qual a avaliação da oposição de seus oito anos no governo? Qual a proposta ou projeto de futuro que apresenta para o Brasil?
Talvez, por trás do silêncio programático do PSDB/PFL esteja a incapacidade de assumir o que fizeram quando governaram. Ou alimentam sonhos, como mentir que o real vale o mesmo que o dólar, uma das maiores irresponsabilidades econômicas do país? Voltariam a depender subalternamente do FMI, retomariam as privatizações? Retornariam o apagão na energia e a epidemia de dengue? Ou a diplomacia submissa, de tirar os sapatos em alfândegas?
Nós, do PT, apoiamos o governo Lula sem abdicar do nosso espírito crítico e propositivo, que pensa o futuro do país de forma democrática e republicana.
Mas a oposição liberal-conservadora, representada pelo PSDB e PFL, abdicou de dois institutos fundamentais para o debate democrático: a autocrítica e a capacidade de propor alternativas para o Brasil, limitando-se atualmente ao ataque e ao denuncismo endêmico, vitimada por uma amnésia parcial.
Por Henrique Fontana, 45, médico, administrador de empresas e deputado federal pelo PT-RS, é o líder do partido na Câmara. Foi secretário da Saúde de Porto Alegre (1997, gestão Raul Pont).
Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 27/12/2005.

Por 14:36 Sem categoria

A amnésia tucana

Nos últimos meses, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus seguidores intensificaram as críticas ao governo Lula. Num surto de amnésia, bem ao estilo tucano, fazem cobranças como se não tivessem passado oito anos implementando um projeto liberal-conservador ao lado do PFL.

Armados de rancor, praticamente pedem que se esqueça do seu legado e cobram práticas nunca realizadas no seu governo. Vociferam contra a crônica corrupção da máquina pública e omitem que foi justamente no “reinado” de FHC que se impediu a instalação de CPIs para investigar graves denúncias, como favorecimentos nas privatizações.

Esses ataques combinam com a ausência de proposições para solucionar os problemas do país, a começar pela falta de apoio a uma reforma política de caráter estruturante e moralizadora dos costumes políticos brasileiros, como a instituição de financiamento público de campanhas.

O ex-presidente, travestido de paladino da moralidade, tergiversa aqui e ali e, certamente incomodado com os resultados do governo Lula, sob todos os aspectos superiores à gestão tucano-pefelista, ainda estrila contra a “armadilha econômica” do governo atual e a taxa de juros “cavalar” de 19%.

Ora, o seu governo quebrou o Brasil duas vezes, adotou taxa de juros de 45% e gerou o crescimento mais pífio de toda a história do país.

O PSDB, tardiamente, fala em eficiência administrativa, equilíbrio fiscal e reparação social. Mas no mandato de FHC, a dívida pública saltou de R$ 67 bilhões para cerca de R$ 670 bilhões, ou seja, de 23% para 58% do PIB, mesmo com a brutal elevação da carga tributária (de 26% para 35% do PIB) e os R$ 87 bilhões obtidos com as privatizações.

O governo Lula paralisou o processo de aumento acelerado da dívida pública (hoje, 51,5% do PIB) e deixou para trás os sucessivos déficits comerciais de Fernando Henrique Cardoso.

Em 34 meses de gestão Lula, o Brasil acumulou saldos comerciais de US$ 98 bilhões, contra apenas U$ 0,5 bilhão em oito anos de FHC. Talvez o ambiente de disputa pré-eleitoral leve a oposição a não reconhecer esses resultados.

Mesmo herdando contas públicas deterioradas, o atual governo passou ao largo da explosão dos preços do petróleo, não precisou renovar o acordo com o FMI e diminuiu a vulnerabilidade externa do Brasil. Não aceitou as bases perversas da Alca e incorporou como prioridade o Mercosul, priorizou o diálogo com os movimentos sociais e estancou a informalização no mercado de trabalho, gerando, mensalmente, 104 mil empregos formais, ante a pífia média de 8 mil mensais do período de Fernando Henrique. O governo Lula triplicou o financiamento para a agricultura familiar, incluiu 8 milhões de famílias no Bolsa-Família e deu início a pelo menos oito programas de inclusão social inéditos na história republicana.

Reconhecemos os erros do PT e as ilegalidades cometidas, que queremos corrigir e não repetir.

Mas os tucanos se recusam a falar do caixa dois de sua campanha presidencial de 2002 -apuração solicitada pelo PT ao TSE- e do senador Eduardo Azeredo (MG), acusando o governo e o PT de não quererem aprofundar as investigações das denúncias.

Talvez, na ótica tucana, três CPIs em pleno funcionamento, afastamentos, demissões, expulsões e indiciamentos, o trabalho independente da CGU, da Polícia Federal e do Ministério Público com o apoio do presidente da República e do PT, tudo isso não seja suficiente para aplacar seu rancor. Mas, com certeza, é incomparável com o “quase nada” de investigações e punições durante os oito anos de FHC.

Chama a atenção a virulência dos ataques ao presidente Lula e ao PT e a total ausência de um programa ou de sugestões para a superação da crise atual.

Em seus programas eleitorais, a oposição chega até a esconder as siglas dos partidos, suas lideranças e o tempo que ficaram no poder. Raivosos, escorregam em expressões preconceituosas, racistas e chulas, e chegam a incitar a violência, em arroubos juvenis em que vociferam ameaças de “surras” no presidente da República.

Grosserias à parte, pergunta-se: além dos ataques sistemáticos e do denuncismo endêmico, qual a avaliação da oposição de seus oito anos no governo? Qual a proposta ou projeto de futuro que apresenta para o Brasil?

Talvez, por trás do silêncio programático do PSDB/PFL esteja a incapacidade de assumir o que fizeram quando governaram. Ou alimentam sonhos, como mentir que o real vale o mesmo que o dólar, uma das maiores irresponsabilidades econômicas do país? Voltariam a depender subalternamente do FMI, retomariam as privatizações? Retornariam o apagão na energia e a epidemia de dengue? Ou a diplomacia submissa, de tirar os sapatos em alfândegas?
Nós, do PT, apoiamos o governo Lula sem abdicar do nosso espírito crítico e propositivo, que pensa o futuro do país de forma democrática e republicana.

Mas a oposição liberal-conservadora, representada pelo PSDB e PFL, abdicou de dois institutos fundamentais para o debate democrático: a autocrítica e a capacidade de propor alternativas para o Brasil, limitando-se atualmente ao ataque e ao denuncismo endêmico, vitimada por uma amnésia parcial.

Por Henrique Fontana, 45, médico, administrador de empresas e deputado federal pelo PT-RS, é o líder do partido na Câmara. Foi secretário da Saúde de Porto Alegre (1997, gestão Raul Pont).

Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 27/12/2005.

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