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Por 21:33 Notícias

Uma greve vitoriosa – Campanha Salarial dos Bancários em 2006

Depois de mais de uma década resistindo ao autoritarismo e aos ataques a direitos, a campanha nacional dos bancários – como tem sido nos últimos três anos – somou mais uma vitória da organização, da disposição de luta e do bom senso dos trabalhadores
Pelo terceiro ano consecutivo, os bancários arrancaram, na greve, aumento real de salários dos banqueiros. Em São Paulo, foram seis dias de greve nos bancos privados e do banco estadual Nossa Caixa e sete nos bancos públicos. Pelo terceiro ano consecutivo, os bancários respiraram novamente os ventos da liberdade, o respeito aos direitos trabalhistas, a força de atuação dos trabalhadores. Coisas que desconheciam alguns anos atrás, quando o respeito aos direitos dos trabalhadores estava confinado por ameaças de cortes e privatizações.
A greve atingiu, no seu auge, 40% da categoria – principalmente graças à paralisação de importantes concentrações: centros administrativos ou tecnológicos onde trabalham, somados, quase 20 mil bancários dos 106 mil que compõem a categoria na capital paulista e região de Osasco.
Foi graças a esses trabalhadores que os bancários alcançaram avanços como a conquista do aumento real e de um adicional na participação nos lucros que deve tornar mais justa a lógica de distribuição dos resultados obtidos pelas empresas.
Bancários valentes e valorosos, que não fugiram à luta, conseguiram arrancar após quase dois meses e oito rodadas de negociações reajuste de 3,5% para todas as verbas salariais e participação nos lucros de 80% do salário, mais R$ 828, além de adicional de varia entre R$ 1.000 e R$ 1.500 de acordo com o lucro do banco.
No setor público, houve também avanços em questões específicas, como nos planos de cargos e salários, e a participação nos lucros será maior: os bancários do BB receberão, semestralmente, 95% do salário, mais um valor fixo de R$ 412, mais R$ 1.814 a título de distribuição linear de 4% do lucro líquido do banco apurado neste semestre, além do módulo bônus que varia de acordo com a referência salarial da função. Por exemplo, para o salário de um escriturário que é de R$ 1.100, a PLR semestral a ser paga após o fechamento do acordo nacional seria de R$ 3.395. A PLR da Caixa Federal prevê o pagamento de 80% do salário mais parcela fixa de R$ 3.167. Por exemplo, para a menor remuneração, a do técnico bancário que tem salário de R$ 1.133, a PLR paga será de R$ 4.105.
Mas é importante salientar que boa parte dos trabalhadores não fez greve e muito deles se recusaram a participar do movimento, chegando às vias de enfrentar colegas e dirigentes sindicais para entrar nos locais paralisados pela greve.
Fazer greve no setor financeiro não é tarefa simples. Em São Paulo, 80% da categoria está no setor privado e os trabalhadores deparam com uma série de fatores que inibem a vontade de participar, uma vez que o principal estresse do trabalho bancário hoje não é exatamente com o cartão de ponto, mas a convivência com um pressão por metas que acompanha os trabalhadores até o travesseiro e inibe fortemente o afastamento do local de trabalho.
Os interditos proibitórios (recurso judicial que os bancos emprestaram dos senhores de terras do início do século passado para “recuperar a posse indevida de sua propriedade”) obrigam a reabertura das agências, lançando mão de um instrumento jurídico da área cível desviado do seu papel constitucional de proteção ao patrimônio.
Não bastasse isso tudo, a situação de desemprego que ainda abate o país causa temor àqueles que dependem do salário para viver e não estão sob a proteção da estabilidade no emprego.
E aqui, vale um importante parêntese: nos últimos quatro anos, os empregados dos bancos públicos deixaram para trás quase uma década em que amargaram reajuste zero em troca de abonos. A era FHC foi marcada pela total ausência de movimentação desses e outros trabalhadores nas suas campanhas salariais, assustados pela truculência com que se tratava a liberdade e a representação sindical, o legítimo direito de manifestação, as greves.
Muitas campanhas foram decididas em dissídios nos tribunais de trabalho, e nos bancos públicos a representação sindical de fato não era sequer reconhecida. Em quatro anos, graças à mudança de postura do governo Lula em lidar com as demandas do mundo do trabalho e à campanha nacional unificada, as negociações voltaram a acontecer, os bancários de bancos públicos recuperaram o aumento real de salários e garantiram outra série de conquistas como vale-alimentação, vale-refeição maior e participação nos lucros e resultados que tem acompanhado o melhor desempenho dessas instituições.
Sem disfarçar, pessoas que tentam impor viés partidário à campanha dos bancários, viram-se sem margem de atuação diante do fracasso de sua plataforma eleitoral e se agarraram à greve como a um bote salva-vidas. Se no começo disfarçavam, falando da importância da conjuntura para arrancar aumento maior, no final, em desespero, bradavam aos trabalhadores que não podiam perder o momento oportuno de “deixar o governo Lula de quatro”.
Os governos passam, os trabalhadores ficam. A responsabilidade dos dirigentes que estão à frente do movimento sindical bancário é imensa. Representam mais de 400 mil trabalhadores do Brasil e são uma das poucas categorias com contratos regulados por convenção coletiva nacional de trabalho. É claro que circunstâncias políticas devem ser e são analisadas durante todo o desenrolar da campanha, mas sempre tendo como norte a manutenção e ampliação das conquistas dos trabalhadores bancários.
Do ponto de vista econômico, os acordos conquistados estão aquém do que permite pagar os bancos, mas são do exato tamanho que a nossa mobilização conseguiu alcançar.
A desigualdade de forças é imensa, mas a criação da Contraf – confederação que quer reunir todos os trabalhadores que atuam no ramo financeiro e somam mais de um milhão entre terceirizados, correspondentes bancários e afins –, é um primeiro passo no sentido de alterar essa lógica. Outros passos virão, e sempre serão dados com a consciência de quem sempre esteve na vanguarda das conquistas trabalhistas no Brasil.
Por Luiz Cláudio Marcolino, que é economista e presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.agenciacartamaior.com.br.

Por 21:33 Sem categoria

Uma greve vitoriosa – Campanha Salarial dos Bancários em 2006

Depois de mais de uma década resistindo ao autoritarismo e aos ataques a direitos, a campanha nacional dos bancários – como tem sido nos últimos três anos – somou mais uma vitória da organização, da disposição de luta e do bom senso dos trabalhadores

Pelo terceiro ano consecutivo, os bancários arrancaram, na greve, aumento real de salários dos banqueiros. Em São Paulo, foram seis dias de greve nos bancos privados e do banco estadual Nossa Caixa e sete nos bancos públicos. Pelo terceiro ano consecutivo, os bancários respiraram novamente os ventos da liberdade, o respeito aos direitos trabalhistas, a força de atuação dos trabalhadores. Coisas que desconheciam alguns anos atrás, quando o respeito aos direitos dos trabalhadores estava confinado por ameaças de cortes e privatizações.

A greve atingiu, no seu auge, 40% da categoria – principalmente graças à paralisação de importantes concentrações: centros administrativos ou tecnológicos onde trabalham, somados, quase 20 mil bancários dos 106 mil que compõem a categoria na capital paulista e região de Osasco.

Foi graças a esses trabalhadores que os bancários alcançaram avanços como a conquista do aumento real e de um adicional na participação nos lucros que deve tornar mais justa a lógica de distribuição dos resultados obtidos pelas empresas.

Bancários valentes e valorosos, que não fugiram à luta, conseguiram arrancar após quase dois meses e oito rodadas de negociações reajuste de 3,5% para todas as verbas salariais e participação nos lucros de 80% do salário, mais R$ 828, além de adicional de varia entre R$ 1.000 e R$ 1.500 de acordo com o lucro do banco.

No setor público, houve também avanços em questões específicas, como nos planos de cargos e salários, e a participação nos lucros será maior: os bancários do BB receberão, semestralmente, 95% do salário, mais um valor fixo de R$ 412, mais R$ 1.814 a título de distribuição linear de 4% do lucro líquido do banco apurado neste semestre, além do módulo bônus que varia de acordo com a referência salarial da função. Por exemplo, para o salário de um escriturário que é de R$ 1.100, a PLR semestral a ser paga após o fechamento do acordo nacional seria de R$ 3.395. A PLR da Caixa Federal prevê o pagamento de 80% do salário mais parcela fixa de R$ 3.167. Por exemplo, para a menor remuneração, a do técnico bancário que tem salário de R$ 1.133, a PLR paga será de R$ 4.105.

Mas é importante salientar que boa parte dos trabalhadores não fez greve e muito deles se recusaram a participar do movimento, chegando às vias de enfrentar colegas e dirigentes sindicais para entrar nos locais paralisados pela greve.

Fazer greve no setor financeiro não é tarefa simples. Em São Paulo, 80% da categoria está no setor privado e os trabalhadores deparam com uma série de fatores que inibem a vontade de participar, uma vez que o principal estresse do trabalho bancário hoje não é exatamente com o cartão de ponto, mas a convivência com um pressão por metas que acompanha os trabalhadores até o travesseiro e inibe fortemente o afastamento do local de trabalho.

Os interditos proibitórios (recurso judicial que os bancos emprestaram dos senhores de terras do início do século passado para “recuperar a posse indevida de sua propriedade”) obrigam a reabertura das agências, lançando mão de um instrumento jurídico da área cível desviado do seu papel constitucional de proteção ao patrimônio.

Não bastasse isso tudo, a situação de desemprego que ainda abate o país causa temor àqueles que dependem do salário para viver e não estão sob a proteção da estabilidade no emprego.

E aqui, vale um importante parêntese: nos últimos quatro anos, os empregados dos bancos públicos deixaram para trás quase uma década em que amargaram reajuste zero em troca de abonos. A era FHC foi marcada pela total ausência de movimentação desses e outros trabalhadores nas suas campanhas salariais, assustados pela truculência com que se tratava a liberdade e a representação sindical, o legítimo direito de manifestação, as greves.

Muitas campanhas foram decididas em dissídios nos tribunais de trabalho, e nos bancos públicos a representação sindical de fato não era sequer reconhecida. Em quatro anos, graças à mudança de postura do governo Lula em lidar com as demandas do mundo do trabalho e à campanha nacional unificada, as negociações voltaram a acontecer, os bancários de bancos públicos recuperaram o aumento real de salários e garantiram outra série de conquistas como vale-alimentação, vale-refeição maior e participação nos lucros e resultados que tem acompanhado o melhor desempenho dessas instituições.

Sem disfarçar, pessoas que tentam impor viés partidário à campanha dos bancários, viram-se sem margem de atuação diante do fracasso de sua plataforma eleitoral e se agarraram à greve como a um bote salva-vidas. Se no começo disfarçavam, falando da importância da conjuntura para arrancar aumento maior, no final, em desespero, bradavam aos trabalhadores que não podiam perder o momento oportuno de “deixar o governo Lula de quatro”.

Os governos passam, os trabalhadores ficam. A responsabilidade dos dirigentes que estão à frente do movimento sindical bancário é imensa. Representam mais de 400 mil trabalhadores do Brasil e são uma das poucas categorias com contratos regulados por convenção coletiva nacional de trabalho. É claro que circunstâncias políticas devem ser e são analisadas durante todo o desenrolar da campanha, mas sempre tendo como norte a manutenção e ampliação das conquistas dos trabalhadores bancários.

Do ponto de vista econômico, os acordos conquistados estão aquém do que permite pagar os bancos, mas são do exato tamanho que a nossa mobilização conseguiu alcançar.

A desigualdade de forças é imensa, mas a criação da Contraf – confederação que quer reunir todos os trabalhadores que atuam no ramo financeiro e somam mais de um milhão entre terceirizados, correspondentes bancários e afins –, é um primeiro passo no sentido de alterar essa lógica. Outros passos virão, e sempre serão dados com a consciência de quem sempre esteve na vanguarda das conquistas trabalhistas no Brasil.

Por Luiz Cláudio Marcolino, que é economista e presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

ARTIGO COLHIDO NO SÍTIO www.agenciacartamaior.com.br.

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